Capítulo 7: Rainha Suprema.

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Kenji

Passei a mão pela minha camisa, puxando a cadeira e me sentando, um pouco descontável, na frente da minha mãe. A mesa estava posta, com mais comida do que eu estava acostumado a ver no mar. Minha mãe se remexeu do outro lado, abrindo um sorriso e erguendo a taça de vinho até os lábios.

—Que carinha é essa, meu amor? Não está feliz em ver a mamãe? —Indagou, soltando a taça e olhando pra mim com os lábios curvados em um sorriso.

—É claro que estou. Só estou cansado da viagem até aqui. —Murmurei, abrindo um sorriso pequeno. Ela baixou os olhos e começou a comer, cantarolando algo baixinho. —Como estão as coisas por aqui?

—Hm, chatas como sempre. Estou tentando controlar as cortes, que insistem em lutar contra o meu governo. —Ela revirou os olhos. —E ainda tem aquelas quatro pessoas irritantes que estão tentando dar uma de heróis. Toda vez que alguém grita por eles nas ruas, tenho vontade de despedaça-los com minhas próprias mãos, sabia? Eles estão crescendo rápido demais. Está um pouco fora do controle.

Ela voltou a comer, enquanto eu ainda estava parado, com as mãos sobre meu colo. Havia algo diferente nela. Soube disso no momento que pisei aqui depois de quebrar a barreira. Ela mudou. O poder a mudou, eu tinha certeza disso.

—O que eles são mesmo? Um pirralho de 13, 14 anos. Um mendigo que até uns dias atrás não tinha onde cair morto. Uma fada da luz rebelde e quem é a outra? Uma ninguém! —Ela soltou os talheres com força, me fazendo sobressaltar na cadeira. —E juntos eles estão conseguindo criar muitos problemas pra mim. Da pra acreditar, filho?

Olhei pra ela, vendo a mesma negar com a cabeça e voltar a atenção para a comida, sem esperar por uma resposta minha. Engoli em seco, imaginando o que ela poderia fazer se soubesse que a ninguém em questão é a última princesa viva. Mas ela não sabe disso. Porque Kayla não contou e muito menos eu.

—Logo eles perdem apoio. —Afirmei, tentando soar convincente. —E você já tem o que queria, não é? É a rainha suprema.

—Ah, meu amor, essa gente nunca perde o apoio. Tem sempre alguma súdito infeliz para clamar por eles, como se fossem divindades. —Ela ergueu os olhos até mim, abrindo um sorriso. —Só tem uma forma de resolver isso, sabia?

—Você não pode matá-los. —Falei, rápido demais, vendo seus olhos se estreitarem. —Esqueceu que fez um acordo com a Kayla?

—Acredite, me lembro desse maldito acordo toda vez que preciso lidar com algo relacionado a esses quatro. —Afirmou, um pouco rude demais. Ela piscou várias vezes, subitamente abrindo um sorriso, que me fez sentir um arrepio na espinha pela mudança repentina.

—Você está bem, mãe? —Indaguei, erguendo a mão e tocando a dela, que estava sobre a mesa.

—Estou ótima. Completamente bem e feliz. —Ela sorriu, dando uns tapinhas na minha mão. —Sabe o que me deixaria ainda mais feliz? Se você estivesse com a Kayla e não aquele... aquele seu amigo.

—Axel. —Murmurei, apertando meus dedos uns contra os outros.

—Axel. —Ela repetiu, bebericando o vinho. —O filho do Devlon. Sabe, as vezes me surpreende o quão diferente aquele rapaz é do pai. Puxou a mãe, obviamente. Uma fatalidade termos a perdido. —Encarei meu prato, me sentindo desconfortável com o rumo da conversa. —Mas, como eu ia dizendo, você é quem deveria estar com ela. Já imaginou? Teríamos as safiras conosco agora.

—Ela é minha amiga, mãe. E o Axel também. —Afirmei, vendo ela revirar os olhos. —São como irmãos pra mim.

—Bobagem. —Ela riu, contraindo os lábios em reprovação logo em seguida. —Você só está apegado demais a eles. Sentimentos assim nunca são bons.

—Mãe...

—Acho que você deveria passar mais tempo aqui comigo. Talvez se visse o que eu vejo...

—Precisa parar de usar magia das trevas. —Afirmei, vendo ela ficar imóvel, movendo apenas os olhos até mim. —Não está fazendo bem a você. Precisa parar.

—Somos imortais por causa dela.

—Eu sei. Mas... você já tem o que queria. Pode parar agora, mãe. —Argumentei, vendo ela negar com a cabeça e então abrir um sorriso, parecendo estar segurando todas as emoções dentro de si, por trás daquele sorriso forçado.

—Sabe qual o problema, meu amor? —Ela tocou minha mão, me fazendo sentir uma corrente elétrica, que saiu dela até mim. —Você se contenta com tão pouco. Poderia ter a garota e as safiras. Mas não tem. Porque deixou aquele rapaz passar na sua frente.

—Mãe... —Ela apertou minha mão e eu observei as faíscas que brilhavam em seus olhos.

—Você, infelizmente, puxou apenas os poderes de mim. —Ela soltou minha mão, com o sorriso se tornando maior. —Porque eu, independente do que tenho, sei que posso ter muito mais.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora