Lyra
As coisas estavam mais fora do controle do que podíamos imaginar. Por um lado, Kayla estava de fato do nosso lado. Por outro, temos a rainha matando guardas e usando a magia das trevas para mantê-los servindo, mesmo que sem vida. Então não tínhamos a menor chance de vencer uma batalha contra eles, já que ele jamais morrem.
—Você pediu ajuda pra ela e ela simplesmente aceitou? —Diana indagou, inclinando o rosto para próximo de Cedric. —Isso não me parece fazer muito sentido.
Cedric olhou para cada um de nós, parecendo estar mordendo o interior da bochecha. Estava grudado com um diário velho e antigo desde que entramos no quarto. Não o soltou nem mesmo para nós abraçar. E não parava de olhar pra ele a cada segundo, como se fosse um tesouro.
Era a vida dele. Ou melhor, a vida dos pais dele. Isso fez meu coração contrair um pouco, com uma dor irreconhecível, enquanto eu tentava afastar as lembranças ruins e um pouco da inveja que estava começando a sentir por ele.
—Ela não é uma pessoa má. Só está quebrada demais. —Ele suspirou, esfregando a nuca. —Podemos tentar fazer isso? Podem tentar fazer dar certo? Kayla não é a rainha das rainhas.
—Eu gosto da ideia de tentar. —Trevis balançou a cabeça afirmativamente várias vezes. —Se ela vai nos ajudar, então eu estou mais do que de acordo com qualquer coisa.
—E o exército? —Diana indagou, com uma expressão cansada. —Estão esperando por nós. Precisam de nós e nós precisamos deles.
—Eu sei. Eu entendi. Acho ótimo que tenhamos um exército ou parte dele do nosso lado. —Cedric afirmou, batucando os dedos na capa do diário. —Mas ainda sim, não temos qualquer chance. O exército da rainha está todo contaminado com magia das trevas. Vamos morrer se sequer tentarmos lutar contra eles. Kayla e eu podemos congela-los, mas isso não garante muita coisa porque são só nós dois.
—Espera, o que? —Fiz uma careta, erguendo as sobrancelhas. —Água? Você pode usar a safira da água?
—É, eu posso. E Trevis ficou com a terra. —Cedric afirmou, dando de ombros. —Se Miriam estava certa, então você ficou com o ar e sobra o fogo para a Diana.
—Uau! —Diana soltou uma risada nervosa. —Ela deixou você usar a safira? Você a sentiu?
—Sim, Trevis também. Não estou sentido nada agora, então Kayla deve ter enviado as safiras para algum lugar. —Ele ficou de pé, já que estávamos sentados em um círculo no chão. —Podemos nos dividir e dois de nós voltar pra falar com o exército. O que eu acho uma péssima ideia. Ou podemos ir todos juntos procurar essa relíquia com a Kayla e torcer pra que Alex fale com o Lusion e vá ele mesmo até o exército explicar o que está acontecendo.
—Está se baseando na ideia de uma criatura das sombras que nem gosta da gente. —Afirmei, quase soltando um gemido de frustração. —Mas eu concordo. Nos separar não é bom. O que aconteceu agora foi a prova disso.
—Todos juntos então? —Diana indagou, e nos assentimos. —Então vamos achar essa tal ilha e esse tesouro ou o que quer que seja, e então voltamos para o exército.
—Talvez, com algo que vá salvar a vida de todos nós. —Trevis murmurou baixinho, dando de ombros. —Estou torcendo por isso, na verdade.
[...]
Me sentei no sofá ao lado de Diana, segurando a mão dela e entrelaçando nossos dedos. Seus olhos encontraram os meus por alguns segundos e eu vi a imensidão de sentimentos presos ali, prontos para transbordar. Não consigo parar de pensar no quanto ela está sendo forte naquele momento, aceitando ficar ao lado de Kayla sem pestanejar, porque isso é importante pra todos nós.
—Você sabia? —Olhamos para Trevis, que estava encarando Cedric com as sobrancelhas unidas. —Sabia que o Kenji podia ler o livro?
Cedric hesitou, piscando algumas vezes e olhando para Kenji, que estava com o livro das revelações nas mãos, pronto para usá-lo.
—Ele tinha me falado. Mas eu achei que estava mentindo. —Afirmou, fazendo tanto eu como Diana erguermos as sobrancelhas. —Ele ainda era nosso prisioneiro naquela época.
—Eu considero aqueles dias como férias, já que preso era a última coisa que eu estava. —Kenji deu de ombros e riu quando Cedric olhou pra ele com uma careta. —Eu poderia ter fugido antes. Só não fiz porque não queria.
—Sei. —Cedric bufou. —Não faz diferença agora. Não é como se fôssemos pedir ajuda pra ele naqueles tempos.
Axel soltou uma risada baixa no canto da sala, passando as mãos no rosto como se tivesse incrédulo. Observei ele olhar para Cedric com uma expressão sarcástica, antes de negar com a cabeça e desviar os olhos de novo.
—O que tá rolando? —Diana indagou, olhando de Cedric para Axel. —Tem alguma coisa que falta a gente saber? Porque se tem, a hora de contar é agora.
—Nada que vá nos ajudar. —Kenji suspirou pesado. —Podemos focar no que é importante agora?
—Não... —Fiquei de pé, cruzando os braços na frente do corpo. —O que tá rolando? Vocês estão aí, trocando olhares e sendo idiotas em silêncio. Podem dividir o que está acontecendo. Querendo ou não, somos um grupo agora.
Axel fez um barulho de desdém com a boca, se afastando dali para ir para perto de Kayla, que estava escorada na mesa da cozinha. Olhei para Cedric, vendo ele encarar o chão, parecendo envergonhado e ao mesmo tempo chateado.
—Cedric? —Chamei, caminhando até parar na frente dele. —O que foi? É sobre seus pais? Ou...
—Hm... então. —Kenji o cortou, soltando o livro com força sobre a mesa. —A gente tá junto, tá legal? Era isso que queriam ouvir? Bem, então, eu e o Cedric... estamos juntos.
—Não estamos juntos! —Cedric rebateu, se virando pra ele.
—Cala a boca, nós estamos sim. —Kenji exclamou, fazendo uma careta. —Não pode voltar atrás agora.
—Como assim? —Cedric ergueu as mãos. —Não lembro de ter dito "sim" na frente do altar.
—Você sabe do que eu tô falando. Não vai se fazer só porque seus amigos estão aqui. —Kenji gesticulou entre os dois. —Ja rolou. Para de drama.
—O que... —Diana ficou de pé, com o rosto curvado em espanto. —Como assim? Como assim vocês estão juntos? O que diabos está acontecendo aqui?
—Quando isso aconteceu? —Trevis indagou, parecendo confuso.
—Quando isso começou? —Eu questionei, vendo Cedric revirar os olhos e se virar para Axel, com cara feia.
—Satisfeito? —Sibilou, fazendo o rir e dar de ombros.
—Muito.
Continua...
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Um Mundo de Sombras / Vol. 2
FantasíaUMA CONJURAÇÃO DE MAGIA: PARTE II A Rainha das Rainhas foi julgada e condenada a uma prisão em seu próprio reino. Vivendo esquecida por séculos, agora ela está livre para governar os quatro reinos do continente. Usando magia das trevas para controla...