Capítulo 26: Pedra brilhante.

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Me afastei lentamente, quando ele pressionou a faca no meu pescoço, me obrigando aquilo. Cedric tinha um sorriso muito grande no rosto. Um que eu nunca tinha visto nos lábios dele. Talvez, como já havíamos discutido, eu estava subestimando ele. Ou ele só estava tornando aquilo mais divertido pra mim.

—Você não vai me matar. —Afirmei, muito lentamente, vendo o sorriso não vacilar nos lábios dele. Mas aquilo estava sendo, indiretamente, prazeroso pra mim.

—Tem certeza disso? —Ele tombou a cabeça de lado, com um sorriso sarcástico. —Já que Kayla não apareceu aqui para buscá-lo. Talvez com você morto, ela venha.

—Esperto, Cedric. Mas você não vai me matar. —Me curvei na direção dele de novo, com a lamina seguindo meu movimento, até nosso narizes quase se tocarem. —Até porque, você parecia muito interessado no que eu estava prestes a fazer.

—Ah, eu estava? —Ele riu, deslizando a ponta da faca até meu queixo, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. —Minha faca diz outra coisa, cara.

Eu não deveria. Não, com toda certeza eu não deveria. Mas algo ficou muito duro dentro da minha calça.

—Eu sei que está tentando jogar comigo. Mas isso não vai funcionar, Kenji. Não sei se sua memoria está boa, mas estamos de lados opostos nisso. —Afirmou, puxando a faca de volta para si, ao mesmo tempo que eu ouvia o som da corrente, quando ele a fechou no meu pulso de novo. —Não vou me envolver com você ou deixar que brinque com a minha cabeça.

—Não estou brincando. —Declarei, ficando de pé, ao mesmo tempo que ele, vendo que o mesmo ainda segurava firme a faca, enquanto os olhos me encaravam com uma intensidade indescritível. —Se eu te beijasse, seria porque eu realmente queria te beijar e não porque queria conseguir alguma coisa. —Ri, aproximando meu rosto dele. —Acredite, tenho meios mais violentos para conseguir as coisas quando quero.

—Tanto faz. —Ele se afastou de mim, caminhando a passos pesados em direção a porta. —Não confio em você e não vou ficar com você.

—Não precisa confiar pra querer me beijar. E você queria. —Afirmei, vendo ele me lançar um olhar duro antes de abrir a porta e passar por ela. —Posso ser muitas coisas, Cedric. Mas burro não é uma delas.

—Ah, jura? —Zombou, com um ar de falsa admiração. —Você é um ótimo ator, vossa alteza. Continue assim que irá longe.

Ele fechou a porta com tudo, fazendo as coisas pelo quarto balançarem. Engoli em seco, soltando uma respiração pesada, antes de me jogar na cama. Senti algo pinicar no bolso da minha calça e enfiei as mãos ali, um pouco desajeitado por conta das correntes. Puxei o objeto que estava ali, me sentando na cama e abrindo a mão, apenas para encontrar uma pedra brilhante e de tom verde.

—Caramba, Kay, eu te amo. —Afirmei, abrindo um sorriso muito grande.

[...]

Encarei os olhos de Trevis, observando a calma dele ao colocar o prato de comida na minha frente, antes de se sentar, com um o ar um pouco resignado. Pressionei meus lábios, olhando pela sala por alguns segundos, procurando qualquer sinal de Cedric. Mas ele havia desaparecido desde o momento que saiu do quarto.

Não me preocupei com isso, é claro. Havia guardado a safira muito bem em um cantinho de lá. Sabia que um dos quatro podia controlar a magia dela, mas esperava que não fosse Cedric ou Trevis a controlar a terra. Isso me daria mais algum tempo ali. Só um pouco.

—O que seu amigo está fazendo lá fora? —Indaguei, percebendo que ele estava demorando demais para voltar.

—Alex está falando com o Lusion, pra saber onde as garotas estão. —Trevis afirmou, sentando na minha frente com seu próprio prato feito. —Cedric estava esperando ele pra irem fazer disso.

—Por que você ou Cedric não falam com ele sozinhos? —Indaguei, um pouco confuso, vendo Trevis encolher os ombros.

—Além de ser uma criatura das sombras, ele já atacou o Cedric. Então a gente costuma evitá-lo quando Alex não está por perto, já que é ele quem tem poder sobre a criatura. —Trevis esclareceu, enquanto começava a comer.

—Ele atacou o Cedric? —Ele assentiu, sem olhar pra mim. —Sei bastante sobre você. Mas não sei muito sobre ele.

—Hm, bem, o que quer saber? —Questionou, e eu tive que me segurar para não abrir um sorriso. —Vivemos nas ruas, assim como a Kayla. Não tem muito o que saber sobre nós.

—Você tem uma história antes das ruas. Ele também deve ter. —Afirmei, como quem não quer nada.

—Ele não se lembra de nada antes das ruas. Mas o Lusion já contou que ele é filho de um pirata. Mas também, só sabemos isso. —Trevis afirmou, enquanto eu arqueava as sobrancelhas. Eu já sabia daquilo, porque Cedric mesmo havia me contado, em um momento de bandeira branca. Mas eu esperava conseguir mais do que aquela informação.

Antes que eu perguntasse algo, Alex e Cedric entraram pela porta, com expressões sérias e contidas. Olhei para o pirata, observando ele olhar para todos os lugares, menos pra mim, como se isso fosse adiantar alguma coisa. Cedric estava muito errado ao meu respeito. E ele não faz ideia de como eu sou bem persistente quando quero algo. Passei séculos atrás de algo para libertar meu povo, não vai ser ele que irá me fazer desistir tão fácil assim de algo.

—E então? —Trevis indagou, enquanto Cedric atravessava a sala e subia as escadas.

—As garotas estão bem. —Ele pressionou os lábios, me lançando um olhar avaliador. —Já sabemos o que elas estão fazendo. Tudo está indo bem. E... pelo que parece, Kayla está em terra firme.

—Ela está vindo pra cá? —Trevis indagou, ficando de pé.

—Não. —Alex olhou pra mim, quando soltei uma risada baixa. —Ela está indo para a Cidade dos Ossos. Ou o que restou dela.

—Eu avisei. —Dei de ombros, me ocupando em comer o que havia no meu prato, com meu bom humor ficando ainda maior. —Uma pena que não quiseram me ouvir.

—Isso não muda nada. —Alex afirmou, me fazendo rir.

—Muda sim. Eu sou um convidado aqui, não prisioneiro. —Olhei pra ele, com um sorriso tranquilo nós lábios. —Só vocês não perceberam isso. Pareço preocupado com o que vão fazer comigo agora?

Ele não respondeu, me lançando um único olhar duro, antes de sair dali, me deixando sozinho com Trevis de novo. Soltei uma risada, negando com a cabeça, achando aquilo tudo muito divertido. Eu iria ter uma bela conversa com o Cedric e depois iria embora dali, com um presentinho pra Kayla.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora