Capítulo 14: Toda informação tem um preço.

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Cedric

Abri a porta do quarto, olhando ao redor e vendo Kenji deitado na cama, com uma expressão tranquila, enquanto encarava o teto. Não vou negar que estava esperando vê-lo tentando achar uma saída. Ou tentando destrancar a porta. Mas ele estava apenas deitado ali, pronto para tirar um cochilo.

—Estava me perguntando quanto tempo levaria pra um de vocês subir aqui. —Murmurou, girando a cabeça pra me encarar. —Mas estava esperando uma das garotas.

—Por que? —Indaguei, trancando a porta e enfiando a chave no bolso.

—Porque de vocês quatro, as duas são as únicas que parecem não ter intenção alguma de serem legais comigo. —Deu de ombros, se sentando na cama e olhando pra mim.

—E o que te faz pensar que eu vou ser legal com você? —Arqueei as sobrancelhas e ele riu, tombando a cabeça para trás. —Não sei o que está tentando fazer, Kenji. Qual é esse jogo que você acha que estamos. Mas é melhor parar.

—Hm? —Ele soltou o ar com força, mordendo o lábio para não sorrir. —Você não tem ideia do que está falando, Cedric. E quem começou esse jogo foi vocês, me prendendo e me trazendo pra cá. Só não pense que eu vou ficar em silencio enquanto vocês brincam de heróis.

—Não estamos brincando. Estamos tentando ajudar as pessoas que sua mãe está matando aos poucos, enquanto deixa o mundo virado em caos e sombras. —Afirmei, apertando meus dedos, enquanto sentia minha boca ficar seca.

—E o que você veio fazer aqui, Cedric? —Ele tombou a cabeça de lado e cerrou os olhos enquanto sorria. —Veio tentar arrancar alguma informação de mim? Quer saber onde a Kayla está?

Parei por alguns segundos, vendo o sorriso dele aumentar quando percebeu que era exatamente isso que eu pretendia fazer. Kenji ficou de pé, dando alguns passos pelo quarto, enquanto mantinha os olhos em mim.

—O que você quer saber? —Indagou, me deixando surpreso. Olhei pra ele sem entender, até o mesmo começar a caminhar na minha direção. —Kayla está em alto mar e não tem o menor interesse em voltar a terra firme agora.

—Que acordo ela fez com a rainha? —Perguntei, sem saber se ele ia ou não responder isso. Mas Kenji abriu um sorriso muito grande e parou de caminhar, ficando próximo a mim. —Por que ela não faz nada?

—Bom... —Ele suspirou. —Primeiro, por minha causa, como eu já te disse. Segundo que, ela prometeu para minha mãe que não iria interferir em nada, se ela em troca prometesse não matar nenhum de vocês.

Soltei uma respiração pesada, sem acreditar no que ele disse. Kenji sorriu, como se soubesse que eu não estava acreditando nem um pouco naquilo. Eu não duvidava que Kayla talvez se importasse comigo e com Trevis. Mas fazer um acordo assim? Não me parece real.

—Você está mentindo. Não pode ter sido só isso. —Afirmei, umedecendo os lábios quando os senti subitamente secos. Kenji observou o movimento e então sorriu.

—Digamos que tem mais algumas pequenas coisas. Algumas que envolviam os outros reis. —Ele deu de ombros, dando mais um passo na minha direção, me obrigando a erguer os olhos para encara-lo. —Mas toda informação tem um preço. E você já conseguiu muitas de graça.

Cerrei os olhos, aspirando o ar com força ao perceber que ele estava próximo demais do que era necessário. Engoli em seco, enquanto ouvia as batidas do meu coração, martelando no meu peito.

—E o que você quer? —Indaguei, um pouco rude, porque era obvio que ele não diria nada de graça.

—Quero sair desse quarto e dar uma volta por esse lugar. —Ele gesticulou com as mãos acorrentadas. —Quero um banho quente e comida, porque pelo visto vocês acham que eu posso sobreviver só com aquele prato de comida do navio. E eu estou morrendo de fome. —Ele fez uma careta, enquanto eu me segurava para não revirar os olhos. —E a última coisa, que você provavelmente me mataria se eu pedisse.

—O que é? —Resmunguei, vendo ele rir.

—Não vou pedir agora. Vou esperar o momento mais oportuno. —Ele piscou pra mim, sorrindo de lado e então se afastou de volta até a cama. —Então, posso sair daqui?

—Pode. —Confirmei, vendo ele arregalar os olhos, sem acreditar, e então abrir um sorriso muito grande. —É claro que não.

—Ah, cara, você era meu favorito dos quatro, sabia? —Ele deitou na cama, parecendo frustrado, enquanto soltava aquela frase que se chocou em cheio contra mim. —Mas eu sou muito paciente e entendo sua raiva por mim.

—Eu não odeio você. Eu odeio a sua mãe e tudo que ela está fazendo com o mundo. E você, infelizmente, está no meio disso. —Afirmei, não sabendo lidar com a forma que ele estava agindo. —O que você está fazendo, Kenji?

—Não entendi. —Ele se sentou na cama, erguendo as sobrancelhas. —Estou tentando fazer uma troca com você. Informações por coisas básicas para alguém sobreviver.

—E por que você daria informações que poderíamos usar contra sua mãe? —Perguntei, e ele olhou pra mim por mais tempo do que era necessário, de uma forma que me fez ficar levemente desconcertado e me obrigou a desviar os olhos. Não era o tipo de olhar que eu estava acostumado a receber.

—Porque, diferente do que você imagina, não sou uma pessoa ruim. E porque, diferente do que você imagina, eu me importo muito com o mundo. —Deu de ombros, sorrindo fraco. —E eu estou muito disposto a participar de tudo isso ativamente. E não me importo se vou ser considerado o vilão ou o herói. Mas não vou ficar nos bastidores.

—Kayla pensa da mesma forma, não é?

Ele riu, mordendo o lábio e negou com a cabeça, soltando o ar com força, antes de se deitar de novo e encarar o teto.

—Vocês já a consideram uma vilã, certo? Então acho que não preciso responder isso. —Afirmou, enquanto eu o observava. —Vai desejar, Cedric, nunca ter me trazido pra cá.

—Por que acha isso? —Questionei, sem desviar os olhos dele, sentindo o ar extremamente quente naquele quarto.

—Você vai descobrir em breve. —Murmurou, se ajeitando na cama para dormir. —Ou talvez você já saiba. Só não quer enxergar.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora