Capítulo 62: A magia das estrelas.

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Diana

O que quer que Axel tivesse feito com Kayla, havia funcionado. O castelo parou de tremer embaixo dos nossos pés, apesar das paredes continuarem caindo em alguns pontos. Eu e Trevis estávamos correndo pelos corredores, procurando a entrada das celas para ir atrás de Lyra e Cedric. Agarrei o ombro dele e o fiz parar de andar quando demos de cara com um grupo de guardas da rainha. Eles estavam imóveis, ocupando todo o espaço do corredor.

Puxei o poder da safira do fogo, sentido a magia vibrar no meu sangue e nos meus ossos. Trevis pareceu fazer o mesmo com o poder da terra, porque olhou pra mim e assentiu, pronto para atacar. Mas quando nos movemos em direção a eles tudo que fizeram foi mover as espadas, deixando-as presas contra a parede do corredor, como se deixassem claro que não iríamos passar.

—Diana? —Trevis hesitou, agarrando meu braço. —Eles não vão nós atacar.

—Não. —Sussurrei, me virando para o outro lado do corredor, vendo que estava livre. —E nós também não. Venha!

Puxei ele para o outro corredor, olhando por cima do ombro e vendo que os guardas não saíram no lugar e nem se moveram, como se fossem simples estátuas de decoração. Corremos até uma bifurcação, vendo que uma delas outros guardas estavam parados, impedindo que seguíssemos naquela direção sem nós atacar. Comecei a perceber que aquilo era um jogo da rainha. Ela estava nos guiando para onde desejava.

Corredor por corredor, mais e mais guardas apareciam, bloqueando a nossa passagem e nos obrigando a seguir pelo único caminho livre. O poder se concentrou dentro de mim quando senti que estávamos cada vez mais próximos de onde a rainha estava. Se ela queria jogar, nós iríamos jogar.

Respirei fundo e enfiei a mão no bolso, sentindo a lágrima de sangue entre meus dedos. Minha respiração se acelerou e eu a apertei, ciente do que precisava fazer. Assim que viramos em outra bifurcação, duas portas de madeira estavam a nossa frente.

—Diana, espera... —Trevis exclamou, mas eu já havia me afastado dele e empurrado as duas de uma vez só. O sangue se acumulou no meu rosto, frio como gelo quando entramos na sala do trono e eu vi Lyra, pendurada em cima do trono de cabeça para baixo, parecendo apenas uma decoração. E sentada no trono, a rainha supresa exibia um sorriso presunçoso de quem havia acabado de ganhar o melhor presente.

—Olha só quem chegou. —Os olhos dela se iluminaram na minha direção, ansiosos e perspicazes.

Eu e Trevis entramos na sala do trono, vendo a fileira de guardas que haviam nas duas laterais e atrás da rainha. Foquei meus olhos em Lyra, vendo ela sorrir pra mim, apesar de parecer um pouco abatida e frágil.

—Sabe, por muito tempo eu pensei que você era uma ninguém. —A rainha balançou a cabeça negativamente. —Até um passarinho vir me contar que você na verdade era uma princesa.

—Rainha. —Corrigi, umedecendo os lábios com a língua quando eles ficaram subitamente secos. —Como última herdeira do reino Lunar, sou uma rainha e não uma princesa.

—Meu filho sabia sobre você? —Indagou, ignorando meu tom de voz ácido. —Devlon me deu certeza que sabia. Mas não gosto de pensar que meu próprio filho me esconderia algo tão importante assim.

—É por isso que você vai perder, porque você espera coisas demais de pessoas que não se importam com você. —Afirmei, sentindo Trevis segurar e apertar minha mão.

Sabia que estava mentindo. Kenji se importava com a mãe, por mais ruim que ela fosse, assim como eu me importava com meu pai apesar dos pesares. Eu o entendia nesse ponto. Eu sabia pelo que ele estava passando agora. Mas precisava atingi-la de alguma forma.

—Não preciso que as pessoas se importem comigo. —Afirmou, soltando uma risada. —Eu só preciso que elas se curvem a mim.

—Jamais iremos nos curvar a você. —Trevis exclamou, erguendo o queixo de forma corajosa, apesar dos seus lábios estarem tremendo.

—Você, criança, ainda tem muito a aprender sobre o mundo. —A rainha ficou de pé, estalando os dedos. Os guardas se moveram, puxando as espadas e formando uma posição de ataque. Me afastei de Trevis, deixando as chamas surgirem nas minhas mãos.

—Não vamos conseguir sozinhos. —Trevis afirmou, enquanto eu sentia o chão tremer embaixo de nós quando ele puxou o próprio poder. Pensei no que Kayla havia me dito antes de entregar aquela flor e em tudo que passando para chegar até ali.

—Não estamos sozinhos. —Olhei pra ele e abri um sorriso, deixando o poder do fogo sair de dentro de mim, sabendo que ela iria se juntar a nós a qualquer momento.

Então os guardas atacaram, erguendo as espadas e vindo na nossa direção. Criei uma espada de fogo, enquanto a erguia para me defender, ao mesmo tempo que lançava chamas em parte dos guardas que vinham na nossa direção. Minha lâmina de chocou contra outra e o fogo se expandiu até atingir as mãos no homem que a segurava. Do outro lado do salão, Trevis estava envolvido com a própria magia, criando um casulo de raizes ao redor de si, que atacavam os guardas que tentavam se aproximar dele, lançando-os longe.

Me abaixei no chão, fazendo um circulo de fogo ao meu redor, expandindo-o na direção dos guardas que me cercavam. Eles sequer gritavam quando as chamas tomavam conta do seu corpo, como se nada mais os afetasse. Gritei quando o poder fez meu corpo tremer e vi de relance Lyra tentando usar o poder do ar, antes das correntes que a prendiam cederem e ela desabar sobre os pés da rainha.

Me levantei, pronta para correr e ajuda-la, com a espada de fogo ficando mais forte na minha mão. Mas então tudo sumiu. Minhas chamas se apagaram e tudo virou um breu quando sombras tomaram conta de todo salão. Parei de andar quando não vi mais nada e ouvi apenas o som das criaturas das sombras que Axel estava trazendo consigo.

Meu coração se apertou quando percebi que Kayla havia conseguido sair daquele pesadelo e tinha vindo mesmo nós ajudar. A espada de fogo sumiu das minhas mãos quando agarrei a lágrima de sangue, vendo o brilho da flor iluminar o espaço ao meu redor.

Vi as sombras de Axel atacando os guardas. As criaturas os devorando e impedindo que eles se erguessem de volta. Vi Axel atravessando em meio a escuridão e desaparecendo, enquanto Kayla ficava ao lado de Trevis. Vi a rainha, puxando o próprio poder, de um tom roxo vibrante em meio a raios, lançando-os na minha direção quando percebeu o que eu segurava. E Lyra, olhando na minha direção, ainda do chão. Nossos olhos se encontraram e ela sorriu, me passando a coragem que faltava.

—Quero fazer um desejo as estrelas. —Sussurrei, fechando meus olhos quando pensei que a magia da rainha iria me atingir, ao mesmo tempo que meus dedos apertaram a flor com força.

O tempo pareceu congelar ao meu redor. As sombras foram afastadas quando uma luz forte surgiu na minha frente e eu abri meus olhos, dando um passo para trás com o coração martelando dentro do peito quando uma criatura alada apareceu na minha frente, com longas asas brancas abertas atrás de si e olhos que eram tão brilhantes quanto a flor nas minhas mãos.

—Você me chamou, vossa majestade. —A mulher murmurou, com o tom de voz parecendo se perder no tempo quando estendeu as mãos na minha direção. —O que deseja pedir as estrelas?

—Quero... —Minha respiração se acelerou quando minhas mãos tocaram as dela e a lágrima de sangue formigou nas minhas mãos, com a magia das estrelas vibrando ao meu redor. —Quero que eu e os outros três guardiões se tornem conjuradores, como a Kayla.

—Que seu desejo seja realizado e jamais desfeito. —A flor sumiu das minhas mãos junto com a mulher, ao mesmo tempo que uma fisgada dentro de mim me fazia desabar no chão, quando senti algo adentrar no meu sangue e nos meus ossos. A magia nublou minha mente e queimou minha pele quando senti a força das quatro safiras de uma vez só.



Continua...

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