Capítulo 46: Eu te amo.

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Axel ficou de pé, tão rápido que meu cérebro demorou pra processar a imagem dele ali, de pé na frente da cama, encarando Kenji como se ele fosse só um fantasma.

—Você não está falando sério. —Axel murmurou, muito lentamente, parecendo usar todo pingo de autocontrole que havia dentro de si. —Você não pode estar falando sério!

—Cara... —Kenji ficou de pé, passando as mãos nos cabelos, enquanto olhava para todos os lugares do cômodo, menos para Axel. —Também não fiquei feliz com isso quando descobri. Mas é verdade. Eu vi ele entrando no quarto dela no meio da noite. Não sei quanto tempo faz que isso está rolando. Mas está, de verdade.

—Por que não me contou antes, Kenji? —Axel exclamou, me fazendo ficar de pé quando as sombras dele surgiram, um pouco afitaras demais ao redor dos seus ombros.

—Eu esqueci, tá legal? E também não tivemos uma conversa normal desde que eu voltei. —Kenji afirmou, olhando pra Axel um pouco sem jeito. —Sinto muito. Eu disse, também não estou feliz com isso.

—Você esqueceu porque de repente resolveu se juntar com a pessoa que quer usar a Kayla e as safiras. Que esteve atrás de nós o tempo todo. Que te prendeu e algemou! —Axel rebateu, fechando os olhos com força antes de se virar de costas. —Eu não acredito que isso está acontecendo.

—Ei, sei que não está feliz com a questão com o Cedric. Mas a gente não escolhe esse tipo de coisa. Aconteceu, tá legal? —Kenji tentou se aproximar de Axel, mas eu estava sentindo a tensão no ar. Estava sentindo o clima quente prestes a explodir. —Se acha que eu gosto da ideia da minha mãe com Devlon, está errado. Eu detesto essa ideia.

—Você não entende! —Axel se afastou dele, quando Kenji tocou seu ombro. Ele sumiu nas sombras e surgiu do outro lado do cômodo, encarando Kenji de longe. —Imagine a quanto tempo isso está acontecendo. Imagine a quanto tempo, sua mãe e Devlon fazem essas... essas coisas juntas. Está pensando? Está imaginando?

—Não acho que eles faziam isso enquanto sua mãe ainda estava viva. —Kenji rebateu, baixinho, mas o tom de voz deixava claro que ele não acreditava nas próprias palavras.

Axel soltou uma risada irônica, esfregando as mãos no rosto com uma raiva mal contida. Me aproximei dele aos poucos, tocando suas mãos para que ele olhasse pra mim. Quando ergueu os olhos e me fitou, quase pensei que iria sorrir pra mim. Mas ele não sorriu. Franziu a testa e cerrou os olhos como se não pudesse me ver de fato.

—O que foi? —Indaguei, me afastando deles quando as sombras tentaram me tocar, um pouco agressivas demais. —Axel?

Ele ficou olhando pra mim. Olhando tanto que parecia estar tentando ver meu interior. Dei um passo para trás, um pouco assustada com o que estava vendo no rosto dele. Não era normal. Era sombrio e vazio.

—Axel? —Chamei, vendo ele dar um passo na minha direção.

—Ei, irmão, o que está havendo? —Kenji tentou se aproximar, mas as sombras foram pra cima dele, como se fossem atacá-lo. Kenji tropeçou pra trás, soltando um som abafado com a boca. —Axel? O que está fazendo?

Ele continuou olhando pra mim. Dando outro passo na minha direção. Não me afastei quando ele parou bem na minha frente, com o rosto contorcido em algo tão distante e vazio.

—Axel? —Chamei de novo, com medo do que estava acontecendo ali naquele momento. —Ela está fazendo aquilo com você, não é?

—Você não é real. —Axel murmurou, agarrando minha garganta de uma forma que me deixou sem ar. —Você não está aqui.

—Axel, ela está... ela está brincando com você. —Tentei dizer, tentando puxar o ar para dentro dos meus pulmões, enquanto ele pressionava minha garganta com tanta força que eu começava a ficar zonza. —O que quer que esteja vendo, não é real. Sou eu Axel, a Kayla.

Kenji veio na nossa direção, tentando desviar das sombras quando elas foram pra cima dele. Agarrei a mão de Axel que estava no meu pescoço, tentando fazê-lo me soltar. Mas a cada puxada de ar minha, mais ele me sufocava.

—Axel! —Kenji exclamou, sendo engolido pelas sombras. —Axel, pare!

—Não quero usar poderes em você. —Afirmei, vendo ele me empurrar até que minhas costas bateram contra a parede com força. —Axel, sou eu, a Kayla. Ela está na sua cabeça. Isso não é... real.

As sombras dele tomaram conta do quarto, enquanto eu sentia meus olhos tremerem quando minha consciência estava perto de ir embora. Puxei o ar uma última vez, deixando o poder das safiras reverberar por cada célula do meu corpo e então explodi uma onda de ar dentro daquele cômodo, lançando Axel do outro lado, enquanto caia de joelhos.

Arfei em busca de ar, sentindo os músculos da minha garganta doerem. Quando ergui os olhos, Axel estava vindo na minha direção de novo, com aquela expressão furiosa de novo. Kenji ainda estava sendo tomado pelas sombras, tentando se livrar delas.

—Pare! —Lancei uma bola de fogo na direção dele. As sombras absorveram o poder em segundos, antes que ele atingisse Axel. Fiz isso de novo e de novo, até ele estar na minha frente. —Axel, pare! —Ele ergueu a mão para me segurar de novo, parando quando suguei o próprio ar que ele respirava. —Eu não queria fazer isso.

Ele caiu de joelhos, com as sombras se aglomerando ao redor dele, nervosas, enquanto Axel tentava respirar, levando a mão até o pescoço quanto mais o ar se tornava tenso ao seu redor. Kenji desabou no chão quando as sombras saíram de perto dele, voltando para perto de Axel, parecendo tentar ajudar ele de alguma forma.

Ele estendeu a mão pra frente, segurando minha perna, antes de cair pra trás. Me ajoelhei ao lado dele no mesmo instante, segurando seu rosto quando percebi que ele estava prestes a desmaiar. Axel segurou minhas mãos, olhando pra mim com os olhos tão escuros e com aquelas estrelas tão brilhantes nos olhos.

—Kay... —Murmurou, parecendo ficar subitamente assustado. Soltei um suspiro pesado, abaixando a cabeça e dando um beijo na sua testa, quando percebi que ele finalmente tinha voltado ao normal. —Kay... meu Deus, eu sinto muito. Me perdoe. Eu sinto muito...

—Está tudo bem. —Prometi, vendo ele balançar a cabeça negativamente, me puxando cada vez mais para perto, enquanto continuava murmurando que sentia muito. —Está tudo bem, Axel. Juro. —Afastei meus lábios da testa dele e o beijei, fazendo com que ele parasse de murmurar aquelas coisas. —Eu amo você, ouviu? Prometo que está tudo bem. —Falei, sentindo meu coração acelerar. —Amo você.

E ele relaxou, enquanto me abraçava apertado. Quem quer que ele tivesse visto, tinha desaparecido de novo. E o que havia acontecido ali, não podia se repetir de novo.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora