Capítulo 48: Presente.

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Henry olhou pra mim e depois para Lyra, erguendo as sobrancelhas ao mesmo tempo que fazia uma careta. Apertei os dedos de Lyra que estavam entrelaçados nos meus, sentindo meu coração bater acelerado dentro do peito.

—Vocês estão brincando? —Indagou, me fazendo revirar os olhos e rir ao mesmo tempo.

—Não, eu estou falando muito sério. —Olhei para Lyra com um sorriso muito grande e então voltei a encarar Harry, respirando fundo. —Você pode casar a gente? Eu e a Lyra? Aqui e agora?

—Er... eu posso, eu acho. —Ele coçou a cabeça, balançando as longas tranças do seu cabelo. —Mas eu não sou padre. Vocês tem certeza que querem isso?

—E daí? Não importa se é ou não. Só case a gente. Temos várias pessoas aqui pra servirem de testemunhas. —Lyra afirmou, parecendo tão ansiosa quanto eu. —Por favor, Henry. Não é um pedido tão complexo assim.

—Tudo bem, tudo bem. —Exclamou, soltando um suspiro pesado. Mas Henry sorriu quando eu e Lyra pulamos em cima dele, lhe dando o abraço mais apertado que conseguimos.

Não houve nenhum preparativo e muito menos vestidos brancos e flores. Eu e Lyra paramos lado a lado, de mãos dadas na frente de Henry, enquanto Cedric e Trevis serviam como nossos padrinhos. Lyra parecia um pouco nervosa, já que a atenção de todos no navio estavam de nós. Até mesmo Kayla, Axel e Kenji estavam lá, no canto mais afastado, observando tudo.

Sorri ao ver Henry tentar reproduzir as palavras que um sacerdote provavelmente iria proferir em um casamento, pedindo para que repetíssemos as palavras quando necessário e dissemos o famoso "sim" quando ele perguntasse. Usamos linhas velhas, amarradas em nossos dedos para simbolizar nossas alianças.

Apesar do caos que estava no continente, comemoramos aquela noite. Comemoramos pelo que havíamos acabado de construir com aquelas palavras. Comemoramos pelo amanhã e pelo que iríamos fazer em breve. Comemoramos pelas últimas coisas boas no mundo.

Não vi o momento que Cedric e Kenji desapareceram do meio dos marujos que bebiam e cantavam naquele navio, no meio da noite estrelada. Também não vi Trevis depois que eu e Lyra fomos oficialmente casadas. Ou algo muito perto disso. Mas vi o momento que Kayla se aproximou, sorrindo de leve para os marujos que cantavam ao redor dela e desviando das mãos e braços que estavam no caminho, como se o toque pudesse queimá-la.

—Meus parabéns. —Murmurou, engolindo em seco ao parar na nossa frente. Meus lábios se contraíram, mas balancei a cabeça em um mínimo cumprimento. Lyra sorriu pra ela. Um sorriso educado e simples. —Tenho algo pra vocês.

—Como? —Lyra fez uma careta, como se não acreditasse. Isso fez Kayla se encolher um pouco.

—Um presente de casamento. Coisa parecida. —Ela estendeu a mão na nossa frente, deixando que a safira do fogo e do ar surgissem ali. Senti meu corpo formigando na mesma hora, com o poder chamando por mim. —Trevis e Cedric já sabem os seus. Acho justo que vocês também saibam. Podem ficar com elas está noite.

—Oh... —Lyra pegou as duas, arrancando uma careta de Kayla quando suas mãos se tocaram. —É muita gentileza sua. Obrigada.

Acenei com a cabeça pra ela, porque era o máximo que eu conseguia. Meus lábios pareciam ter sido colados e minha voz havia ido embora. A felicidade estava me consumindo demais para eu me importar com a simples presença dela ali. O peso daquele momento era grande demais e eu não queria estragar tudo com uma vingança idiota.

—Obrigada. —Consegui dizer, vendo Kayla piscar várias vezes, olhando pra mim por alguns segundos, antes de dar um passo para trás para se afastar.

Ela esbarrou em alguém, se encolhendo e olhando para trás, um pouco assustada com a animação de todos ao redor. Axel surgiu do meio das sombras, pegando ela e a tirando dali. As sombras sumiram junto com os dois, deixando apenas um bando de marujos bêbados e podres de felicidade.

Olhei para Lyra, vendo que ela estava observando as duas safiras na sua mão. Não precisei testar, apesar ergui a mão e peguei a safira vermelha, sentindo o poder do fogo reverberando por cada canto do meu corpo, me deixando mais forte e mais poderosa. Era a primeira vez que eu sentia de fato o poder de ser uma guardiã, além de ter a eternidade. Mas controlar uma safira era algo totalmente novo. 

—Minha rainha? —Lyra ergueu os olhos ao me ouvir chamá-la. —Vamos dançar?

E nós dançamos a noite toda, com os maiores sorrisos que conseguíamos abrir. Acho que nunca me senti tão feliz em toda minha vida. Nada na realeza poderia ser comparado com aquilo. Com aquele sentimento de ter alguém do seu lado. Era nosso ponto de luz no meio da escuridão.

Por muito tempo pensei que eu me tornaria uma rainha infeliz ao lado de um príncipe consorte ou de um rei com quem eu seria obrigada a me casar. Pensei que viveria a vida em meio a obrigações da coroa e do trono. Mesmo depois de tudo isso, sei que parte das coisas no futuro serão feitas por obrigação. Mas hoje tenho mais do que certeza de que quero ser rainha nesse mundo. Quero governar pelo meu pai e por todos que morreram pela Rainhas das Rainhas. Quero trazer a paz para este mundo, como de fato os guardiões estão destinado a trazer.

Mas lá no fundo, posso sentir a escuridão e a guerra se aproximando. E também sinto que este foi nosso último momento de felicidade antes do mundo virar caos e sombras.


Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora