Capítulo 68: Meu nome é Eris.

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Diana

Observei o navio sumir no horizonte, sentindo a sensação de vazio preencher o espaço dentro de mim. Meu coração bateu fraco dentro do peito enquanto eu continuava a encarar o mar, procurando por algo que eu não sabia o que era. Não havia nada no horizonte pra mim.

—Vossa majestade? —Olhei por cima do ombro, vendo o guarda fazer uma pequena reverência. —Os líderes das cortes estão vindo para o reino. Devem chegar no início da noite no castelo.

—Obrigada, nós já vamos. —Falei, dispensando ele com a mão e voltando a olhar para o mar. Agora não existiam mais cinco reinos, apenas um, com cinco cortes. Com dois meses muita coisa já havia sido colocada em ordem, mas haviam muito mais para se acertar. E essa era minha obrigação agora.

Com um último olhar para o mar, onde meus amigos estavam, me virei de volta para a carruagem, acenando para Henry e Vlad quando os vi indo para o navio, prontos para desaparecer no mar também. Era onde o coração deles estava. Assim como o de Cedric depois que ele descobriu sua origem. Era onde o coração de todos eles estava. Mas o meu não. O meu havia partido junto com Lyra e não havia como trazê-lo de volta.

—De volta ao reino. —Pedi, subindo na carruagem, sabendo que nada mais importava agora.

[...]

O reino todo estava iluminado está noite, como nas outras que se passaram. O povo estava constantemente comemorando a partida da Rainha das Rainhas. Tochas, fogueiras, música e muita bebida. Gostaria de ter pelo que comemorar também, mas o peso a coroa sobre a minha cabeça me deixava tensa e vazia.

Me afastei da varanda, saindo dos meus aposentos, que um dia pertenceram ao meu pai. Caminhei silenciosamente pelos corredores, dispensando os guardas com um aceno de mão antes de seguir para os jardins principais do castelo.

O céu estava incrivelmente estrelado naquela noite, com a lua brilhando o tempo todo. Caminhei pela grama, segurando a saia do vestido para que não se enroscasse me nada, antes de encarar a estátua colocada no centro do jardim. Meus lábios se comprimiram enquanto meus olhos engoliam a silhueta da estátua que tinha a forma de Lyra.

Ela havia sido construída logo que me sentei no trono. Não havia outra forma de eterniza-lá que não fosse essa, nos jardins do castelo. Uma estátua enorme para que ela fosse lembrada pra sempre. Me aproximei até ficar de frente para o suporte onde a estátua estava, observando-a mais de perto.

—Fada da luz, guardiã, conjuradora... —Murmurei as palavras marcadas embaixo da estátua dela. Ao redor, flores, buquês e presentes haviam sido colocados por todos que haviam passado por ali para vê-la. Eu ainda podia reconhecer o buquê de flores que Cedric, Trevis, Kenji, Axel e Kayla haviam deixado ali antes de partirem.

—A vida foi um pouco injusta com nós duas, não é? —Ergui os olhos para o rosto dela, sentindo as lágrimas borrando meus olhos. —Mais ainda tive o privilégio de conhecê-la, amá-la e me casar com você. Jamais vou me esquecer disso, Lyra. Jamais vou me esquecer de você.

Levei a mão aos lábios, mordendo meus próprios dedos quando não consegui conter as lágrimas. Fiquei de joelhos ali, sentindo minha garganta arder e meu peito se apertar. A coroa caiu da minha cabeça quando a abaixei, mas não me importei com ela. Não me importava com nada. Eu havia pedido absolutamente tudo. Sabia exatamente o que Trevis tinha sentido, porque agora eu também estava sozinha.

—Ah, perdão... —Um homem estava vindo pelo jardim, mas parou quando deu de cara comigo ali. Escondi meu rosto entre as mãos, tentando limpar as lágrimas. —A senhorita está bem?

—Não, mas eu vou ficar, obrigada. —Juntei a coroa, ficando de pé e a colocando sobre minha cabeça de novo, antes de limpar o vestido e olhar para o homem. Os olhos dele, de um tom amarelo muito vivo se arregalaram e ele se apressou em fazer uma reverência.

—Perdão, vossa majestade, eu não vi que era a senhora.

Olhei para as roupas dele, um sobretudo preto um pouco amarrotado, botas cheias de neve e uma bolsa de viagem na lateral do corpo, além de algumas facas e ervas presas na cintura. Não parecia ter mais de 45 anos. Podia ver que os cabelos eram brancos e extremamente curtos, em uma pele bronzeada. Ele me observou por alguns segundos, parecendo sem saber o que fazer já que eu estava chorando.

—Eu acho que não conheço você. —Falei, observando-o mais de perto. —É um mago, certo?

—Isso. Eu cheguei a pouco tempo, majestade. Estava em outra dimensão. Faziam anos que eu não vinha até aqui, minha dimensão natal. —Explicou, dando a volta na estátua para se aproximar de mim. —Quando cheguei ouvi história sobre o que havia acontecido. Vim até o reino saber se podia ajudar de alguma forma. —Ele tirou um lenço do bolso, um pouco amaçado e me estendeu, me fazendo abrir um sorriso fraco. —Meu nome é Eris Keegan.

—É um prazer, Eris. —Ajeitei o lenço dele, antes de secar minhas lágrimas, voltando a olhar para a estátua de Lyra. —Acho que vamos precisar da sua ajuda sim. Magos são sempre bem-vindos e há muito a se fazer no nosso mundo.

—Estou pronto para ajudar, vossa majestade. Não estou querendo me gabar, mas acabei de ajudar um rei e uma rainha a vencer uma guerra. Estou pronto pra outra. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada e o encarar. Ele estava observando a estátua também, parecendo curioso. —Ela...

—Era minha esposa. —Falei, vendo ele balançar a cabeça, com uma expressão pesarosa.

—Eu lamento muito. Batalhas costumam ter um preço alto. —Ele enfiou as mãos no bolso do sobretudo, parecendo cansado. —Tenho certeza que ela está em um lugar bom agora.

Meu coração se apertou, enquanto algumas lágrimas insistiam em sair dos meus olhos. Abracei meu próprio corpo, olhando para a estátua de Lyra uma última vez, antes de me virar para o mago.

—Você veio sozinho?

—Ah, sim. Um amigo me deixou aqui. Mas ele tinha as próprias aventuras para viver e uma parceira. —Ele riu baixo e deu de ombros. —Tenho certeza que ainda vou revê-lo um dia.

Assenti, limpando minhas lágrimas de novo. Eu esperava rever meus amigos um dia também. Mas eu iria, tinha certeza.

—Venha, Eris, vou pedir para que arrumem um quarto no castelo para você. —Falei, vendo-o olhar pra mim surpreso. Abri um sorriso pequeno, indicando o castelo. —Enquanto isso, porque não me conta sobre seus amigos e a guerra que estava ajudando?

Eris me seguiu para dentro do castelo, começando a contar uma história sobre três humanos, bruxas e um rei feérico. E depois, me contou sobre um portador das sombras que era seu amigo, além de uma garota que controlava fogo e tinha um dragão como guardião.

Prestei atenção em cada história que ele me contou, e me senti menos solitária ao ouvi-lo.



Epílogo...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora