Axel
Sabia que tinha alguma coisa errada no momento que os gritos começaram do lado de fora. Kayla e Trevis estavam dormindo juntos naquela cama improvisada no chão, mas acordaram assim que a confusão começou lá fora. Corri para a entrada da barraca, erguendo a lona e vendo as chamas que tomavam conta de algumas barracas e cabanas, enquanto alguns soldados da rainha lutavam com alguns dos nossos.
—Eles estão aqui. —Afirmei, vendo Kayla pular para ficar de pé, assim como Trevis.
—Temos que encontrar os outros. —Trevis afirmou, disparando na minha direção. —Antes que a magia ataque outro de nós.
Saímos da barraca, começando a correr em direção a barraca que Kenji estava dividindo com Cedric. As sombras engoliram nós três e surgimos dentro da barraca, encontrando tudo revirado e nenhum dos quatro ali. Nem mesmo Cedric, que ainda estava desacordado da última vez que o vimos.
—Acha que eles estão lá fora lutando? —Trevis indagou, correndo em direção a entrada da barraca.
Kayla olhou pra mim por alguns segundos, antes de correr pro lado de fora, quando os gritos ficaram mais altos. As safiras surgiram ao redor dela, enquanto ela começava a usar o poder pra congelar os soldados a medida que eles vinham pra cima de nós e tentava apagar as chamas que tomavam conta do acampamento.
Trevis parou de correr, fazendo raizes sairem do chão e agarrarem os soldados, os puxando para o fundo da terra, onde deviriam ir e jamais sair. As sombras saíram de mim, engolindo alguns deles e os devorando, carregando-os para a escuridão. Parei de correr, escorregando na neve quando as sombras ficaram em alerta, sussurrando umas com as outras de forma constante e rápida.
Olhei ao redor muito lentamente, vendo Kayla e Trevis usado os poderes, enquanto outros lutavam com espadas e arcos contra os soldados da rainha suprema. As chamas aumentavam nas cabanas, transformando tudo em cinzas em segundos. Mas então eu encontrei o que detinha a atenção das sombras. Devlon estava correndo em direção a floresta, parecendo pronto pra ir embora.
—Filho da puta! —Exclamei, disparando na direção que ele estava indo. Kayla gritou atrás de mim, mas não parei de correr, sentindo as sombras me engolindo antes de eu atravessar para a floresta. —DEVLON?
Olhei ao redor, sentindo meu sangue queimar nas minhas veias e latejar na minha cabeça, enquanto a raiva transbordava de mim. Escutei um galho se quebrando em algum lugar da floresta tomada pela noite e disparei, assobiando e deixando minhas sombras expandirem até alguns lobos negros surgirem saltando pelas raizes e correndo na direção que eu sabia que ele estava.
Os lobos rosnaram e grunhiram, correndo mais rápido, enquanto eu os seguia. Quando mais nos aproximávamos dele, mais as sombras ficavam violentas ao meu redor, loucas para despedaça-lo. Mas elas jamais fariam isso. Eu mesmo faria, com minhas próprias mãos. O deixaria da mesma forma que minha mãe ficou quando foi morta. Irei deixá-lo tão pior que ela.
Abri um sorriso quando ouvi os gritos dos soldados que estavam com ele quando os lobos atacaram, destroçando-os que seria impossível eles ficarem de pé de novo e tentarem lutar. As sombras se moveram ao meu redor, se expandindo até tomar conta de parte da floresta ao nosso redor. A raiva transbordou de vez quando elas encontram Devlon, ainda correndo pelo meio da floresta, enquanto seus homens ficavam para trás e eram devorados.
Atravessei de novo, surgindo bem na frente dele. Seus olhos se arregalaram quando me viram e ele parou de correr, escorregando na neve e caindo para trás. As sombras ficaram furiosas, como se sentissem o mesmo que eu o dobro mais forte. Meus lábios se comprimiram quando ele olhou pra mim, sem parecer minimamente preocupado.
—Confraternizando com o inimigo, filho? —Ele sorriu, se levantando aos poucos. —Eu realmente pensei que estávamos do mesmo lado.
—Nos nunca estivemos. Eu corri atrás das safiras antes por causa do Kenji. Ele é meu príncipe e amigo. E por todas as outras pessoas que não podiam voltar pra casa. —Afirmei, trincando meus dentes. —Nunca foi pela rainha.
—E agora? —Ele estava de pé na minha frente, tirando a neve da jaqueta. —Seu príncipe está contra a própria mãe? E você, Axel?
—Eu estou do lado da Kayla. Mas acho que você não entende isso. —As sombras o jogaram contra uma árvore, se enrolando no corpo dele enquanto ele grunhia de dor. —Porque você não soube ficar do lado da minha mãe, não é? Você não sabe o que isso significa.
—Já chega, Axel! —Exclamou, ficando furioso de raiva e tentando se soltar, quanto mais as sombras se enrolavam nele. —Você não é mais uma criança. Você não tem 10 anos. Chega com essa história chata e sentimental da morte da sua mãe. Supera isso, entendeu? Já foi. Foi a tanto tempo que até mesmo os ossos dela não devem existir mais então...
Ele gritou quando as sombras quebraram seu braço, fazendo o som do osso se partindo ecoar pela floresta escura, assustando os pássaros que estavam nas árvores.
—Você estava dormindo com a rainha nessa época, não estava? —Indaguei, sentindo meu coração martelando no meu peito, enquanto me aproximava até parar bem na frente dele, que ainda grunhia de dor pelo braço quebrado. —Por isso você a deixou pra morrer. Estava dormindo com a rainha nessa época já.
—Kenji contou a você? —Questionou, quase cuspindo as palavras, sem negar o que eu havia dito.
—Você é nojento. —Afirmei, deixando que as sombras quentassem o outro braço dele, ouvindo seu grito soar como músicas nos meus ouvidos. —Fico muito feliz em saber que não puxei absolutamente nada de você. E quer saber? Obrigada por ser esse babaca nojento, vai ser muito mais fácil pra mim matar você agora.
Agarrei o pescoço dele, ouvindo-o gritar quando as sombras começaram a devora-lo, levando cada parte de si para a escuridão. Meus dedos apertaram a garganta dele, fazendo-o se debater pela dor e pela falta de ar. Puxei a faca que estava na minha jaqueta, segurando seu queixo e o fazendo olhar pra mim, cheio de horror e descrença.
—Não se preocupe, sua rainha vai ser a próxima. —Sibilei, antes de fincar a faca na sua garganta, vendo o sangue saltar pela sua boca e seus olhos se fecharem quando sua cabeça pendeu para frente.
O sangue espesso escorreu rapidamente pela minha mão, enquanto eu girava a faca lentamente, apreciando a sensação de fazer aquilo com ele. Puxei ela logo depois, fazendo as sombras o soltarem. Ele desabou sobre meus pés quando dei um passo para trás, sentindo o peso da faca na minha mão e o sangue escorrer e pingar dos meus dedos, enquanto o cheiro ferroso invadia tudo ao meu redor.
Fiquei olhando para o corpo imóvel dele, apreciando a sensação de calmaria quando as sombras subitamente ficaram silenciosas na minha cabeça. O ar frio da noite me envolveu e eu dei um passo para trás, deixando que os lobos terminassem o serviço, despedaçando ele aos poucos até não restar nada.
—Axel? —Ergui os olhos para o meio da floresta, vendo Kayla desviando de uma árvore caída e se aproximando de onde eu estava. Seu rosto estava inexpressivo, mas a presença dela explicava o silêncio das sombras. Era sempre uma calmaria quando ela estava por perto, mesmo quando meus sentimentos eram uma tempestade.
Ela parou de andar quando viu o corpo de Devlon, rodeados por lobos. Vi quando ela comprimiu os lábios, parecendo enojada da cena. Prendi a respiração com medo da reação dela, mas ela se virou pra mim, dando os passos restantes na minha direção e me estendendo a mão.
—Estou sujo de sangue. —Alertei, já que minhas mãos e minha roupas estavam manchadas com o sangue dele. E no fundo, sentia que até meus ossos estavam sujos da presença dele.
—Eu sei. —A voz dela saiu como uma calmaria em meio a tempestade e eu percebi o porquê de amá-la tanto. Ela me entendia. Kayla olhava pra quem eu era de verdade e não para o fantasma que um dia eu fui. —Vamos achar os outros. Posso dar um banho em você depois.
—Tudo bem. —Olhei uma última vez para o corpo no meio dos lobos, antes de caminhar em direção a Kayla.
Segurei a mão dela, sentindo meu coração se acalmar quando ela entrelaçou os dedos nos meus, ignorando o sangue que ensopava minhas mãos e me guiou de volta para o acampamento.
Continua...
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Um Mundo de Sombras / Vol. 2
FantastikUMA CONJURAÇÃO DE MAGIA: PARTE II A Rainha das Rainhas foi julgada e condenada a uma prisão em seu próprio reino. Vivendo esquecida por séculos, agora ela está livre para governar os quatro reinos do continente. Usando magia das trevas para controla...