Capítulo 57: Incêndio.

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Diana

Cedric estava dormindo sobre uma daquelas camas improvisadas que haviam pelas barracas. Havia tomado poção de cura, mas não havia acordado até agora. Trevis estava em outra barraca, junto com Kayla e Axel. Por algum motivo, não quis sair do lado dela por um segundo depois do que tudo aconteceu.

—Acha que vai demorar pra ele acordar? —Kenji indagou, olhando pra bruxa que havia acabado de checar como ele estava.

—Ele já deveria ter acordado. Não sei o que há de errado com ele. —Ela brincou com os fracos de poções que tinha na mão, balançando a cabeça negativamente. —Mas ele vai ficar bem. Só precisa de tempo.

—Tempo é o que não temos. —Lyra murmurou, esfregando a testa. —Isso foi péssimo. Quem vai ser o próximo? Você, Kenji? Eu e a Diana? Ou a Kayla?

—Não fala isso. Olha só o que aconteceu só com o Trevis. Imagine com a Kayla que pode controlar as quatro. —Me encolhi, contra o estremecimento do meu corpo com o pensamento. —Ninguém conseguiria pará-la se isso acontecesse com ela.

—Não vai. Vamos parar minha mãe antes disso. —Kenji rebateu, se sentando ao lado de Cedric e segurando a mão dele com cuidado. —Vamos fazer alguma coisa antes que ela ataque de novo.

—Vou pedir uma reunião com todo acampamento. —Falei, ficando de pé, vendo Lyra ficar de pé também. —Vamos bolar um plano e atacar, enquanto isso Cedric e Trevis podem ter o tempo deles de voltar ao normal.

—Acho uma ótima ideia. —Lyra falou, olhando de Cedric para Kenji. —Você... não quer ir? É filho dela, pode ajudar na criação do plano. Conhece mais as terras esquecidas do que qualquer um de nós aqui.

—Não vou deixar ele sozinho. —Kenji indicou Cedric com a cabeça, como se Lyra estivesse falando alguma bobagem.

—Eu fico com ele. Se ele acordar, eu vou lá te chamar. —Afirmou, comprimindo os lábios.

—É realmente importante que entendemos as terras esquecidas. —Murmurei, vendo Kenji ficar de pé a contragosto. —Vamos lá, vossa alteza, precisa ajudar em alguma coisa.

—Eu ajudei, fiquei como prisioneiro de vocês por dias. —Kenji resmungou, fazendo Lyra abrir um sorriso e negar com a cabeça. Mas ele me seguiu para fora da barraca.

[...]

—Essa área normalmente ficava mais cheia de guardas. —Kenji indicou o local no mapa, enquanto parecia pensativo. —A entrada do Mundo Inferior fica lá. É um local inteligente para se entrar. Tenho certeza que nenhum deles iria imaginar isso.

Já havia anoitecido e estávamos a horas observando o mapa das terras esquecidas tentando bolar um plano que nos levasse direto a rainha suprema. Mas quanto mais Kenji falava, mais difícil tudo parecia.

—E onde a rainha costuma ficar? —Ronny indagou, chamando a atenção de Kenji, que franziu a testa.

—A sala do trono fica na ala leste do castelo. Mas se a atacarem, tenho certeza que ela descerá até a sala dos feiticeiros, onde a maior concentração de magia das trevas está. —Kenji passou a mão no rosto, olhando para o mapa com cautela. —Esse é um ponto importante. Precisamos evitar que ela entre nessa sala, ou terá muito poder em mãos lá dentro.

—Algo a se pensar. —Falei, sentindo um cheiro estranho no ar. —Estão sentindo isso?

—É cheiro de... fumaça. —Kenji murmurou, e nós dois trocamos olhares, antes de corremos para fora da barraca.

Tudo estava aparentemente normal. Mas não demorou para que encontrássemos o foco daquele cheiro. Do outro lado do acampamento, uma barraca estava tomada pelas chamas. Pessoas começaram a correr, com baldes de água em mãos, tentando apagar as chamas.

—Vai atrás do Cedric e da Lyra que eu vou atrás dos outros. —Kenji exclamou, disparando em direção a barraca de Kayla e Axel.

Enquanto eu corria pelo acampamento, desviando de pessoa com baldes de água, notei a sombra que passava pela floresta. Uma silhueta masculina que eu conhecia muito bem. Meu coração disparou dentro do peito quando corri ainda mais rápido, percebendo que as chamas não estavam sendo contidas, estavam aumentando a ponto de atingir outras barracas e cabanas, se tornando um incêndio em segundos.

—LYRA! —Gritei, entrando na barraca e a encontrando vazia.

As coisas estavam reviradas, assim como a cama de Cedric. Do outro lado da cabana havia um rasgo na lona, revelando o final do acampamento e a floresta, por onde um grupo de soldados da rainha desaparecia com os dois.

—Não, não, não, não... —Disparei em direção a floresta, agarrando um arco e um suporte de flechas. No acampamento atrás de mim eu podia ouvir os gritos avisando que estávamos sendo atacados, mas eu ainda corria em direção ao grupo de homens, desviando das árvores enquanto a neve saltava pelas minhas pernas.

—Lyra! —Exclamei, sentindo meu coração se contrair dentro do peito. Desviei de uma flecha quando ela foi lançada na minha direção e atingiu uma árvore, agarrando o arco e atirando também.

Corri o mais rápido que consegui, atirando mais flechas no que pareciam ser um grupo de seis soldados. Cedric e Lyra não estavam mais a vista, mas isso não me desanimou. Continuei a correr, escorregando na neve e desviando das flechas quanto mais próxima deles eu ficava. Percebi que estavam indo para o litoral, um pouco mais ao norte de onde Henry deveria estar com o navio.

Soltei um grito e me escondi atrás de uma árvore quando uma flecha passou de raspão ao lado do meu rosto, quase acertando meu olho. Agarrei uma flecha e coloquei no arco e me virei, atirando a flecha e acertando em cheio a cabeça de um deles. Mordi o lábio e soltei uma exclamação alta quando o soldado simplesmente continuou de pé.

—Filha da mãe! —Exclamei, odiando ainda mais a rainha suprema por aquilo. Ela nunca jogava limpo. E eu havia começado a entender o plano dela naquele momento. E ela estava ganhando.

Agarrei outra flecha e me preparei para correr de novo, pronta para continuar. Não iria desistir dos meus amigos. Com uma respiração pesada, desviei da árvore e me virei para correr, dando de cara com um dos soldados bem ali. Ele ergueu o cabo da espada e me atingiu em cheio na cabeça.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora