Capítulo 2: Rainha Vermelha.

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Kayla

O horizonte estava pintado de laranja, vermelho e amarelo, a medida que o sol se escondia no horizonte. Me encolhi contra o ar frio que a noite trazia, escorando meu braços no parapeito do navio, enquanto descia meus olhos para as águas que batiam contra o casco de madeira.

O som das risadas dos marujos soava pelo navio, junto com o barulho das gaivotas que passavam voando por cima de nós. Me afastei da beirada do navio, caminhando em direção as escadas e subindo para o deck superior.

—Capitã. —Kaiser, o imediato, se afastou do timão, deixando que eu comandasse o navio. —Nada no horizonte ainda. —Ele analisou o mapa que estava aberto sobre a pequena mesa atrás de mim. —Acha que devemos mudar a rota?

—Ainda não. —Afirmei, olhando por cima do ombro para o mapa. —Estamos indo na direção certa. Não é porque não está no mapa, que não exista.

Voltei minha atenção para frente, deslizando meus dedos pelo timão, enquanto via o sol ir embora e a noite começar a reinar. Peguei a luneta em cima da mesa e olhei para o horizonte a nossa frente, esperando ver a terra que tanto procurava.

—Ei, princesa, eu vou dar um soco na cara do seu namorado. —Kenji apareceu bem na frente da luneta, fazendo minha visão ser invadida por uma versão muito grande do seu rosto. Abaixei a mesma e olhei pra ele.

—Vai, é? —Ele assentiu com a cabeça. —E o que ele fez dessa vez?

—Ele estava me mandando ir dormir com os marujos nas redes lá embaixo. Eu, acredita? —Ele levou a mão ao peito, fingindo estar muito ofendido, enquanto negava com uma expressão de sofrimento. —Ele é um sem coração que não gosta dividir a cama macia e confortável que vocês tem na cabine do capitão. —Ele parou na minha frente, fazendo um biquinho e espalmando as mãos nas minhas bochechas. —Mas você não liga de dividir a cama comigo, não é? Você ama dividir a cama com dois gostosos, não é?

—Você é muito idiota. —Afirmei, empurrando- o enquanto ria. Kenji abriu um sorriso e deixou um beijo estralo não minha bochecha.

—Sério, princesa, na próxima parada eu vou ter que descer. Não quero passar a última noite lá embaixo, com um bando de marujos suados que não tomam banho. —Resmungou, enquanto eu sorria e negava com a cabeça.

—Pode dormir na cabine, Kenji. —Afirmei, vendo ele dar um soquinho no ar e soltar uma exclamação animada.

—Você é a maior, Kay. —Ele me agarrou, me abraçando apertado e me tirando do chão. Ri da sua animação, vendo ele me soltar e descer as escadas correndo, provavelmente para provocar Axel.

Olhei para o mapa aberto sobre a mesa, que tinha mostrava perfeitamente a Dimensão Nascente, com o continente principal, as terras esquecidas e a ilha dos piratas. E se as anotações do famoso rei dos mares estiver certa, existe uma ilha perdida no meio do oceano, com algo muito, muito precioso.

Eu havia voltado a ilha dos piratas e recuperado o navio, usando os poderes das safiras para colocá-lo de volta as águas, inteiro. Eu tinha um tesouro imenso escondido em uma passagem secreta na cabine e várias anotações dele, sobre objetos raros e poderosos. Parece que ele queria muito mais do que uma única safira.

—Procurando ilhas fantasmas ainda, Kay? —Meu corpo estremeceu quando Axel surgiu no meio das sombras atrás de mim, deixando um beijo molhado na curva do meu pescoço.

—Não são fantasmas. Elas existem. Estão em algum lugar, prontas para serem encontradas por mim. —Afirmei, girando meu corpo e erguendo meu queixo para observar seu rosto. As belas estrelas naqueles olhos negros brilharam, como sempre faziam quando ele tinha sua total atenção em mim. —Acha que eu deveria desistir?

—Não, você está se saindo muito bem, capitã. —Murmurou, abrindo um sorriso com o canto dos lábios, enquanto deslizava as mãos pela minha cintura. —A grande Kayla, de mendiga a capitã do Rainha Vermelha.

—Quer conhecer minha coleção nova de adagas, Axel? —Arqueei as sobrancelhas, vendo ele tombar a cabeça para o lado. —Vou adorar testar as lâminas em você.

—Claro que vai. —Ele firmou o aperto na minha cintura, enquanto eu passava os braços ao redor do seu pescoço e encostava meu rosto no seu ombro, me aconchegando ao seu calor já muito conhecido. Ouvi o som do seu coração batendo, enquanto o meu parecia se acalmar, a medida que as sombras deslizavam até me tocarem. Sempre ansiosas.

—Merda, Axel! —Kenji apareceu no topo da escada, fazendo eu me afastar de Axel, que revirava os olhos. —Eu estava tentando falar com você e tu simplesmente sumiu no meio das sombras, irmão.

—Estava? Jurei que você já tinha terminado. —Axel se virou para ele, com uma de falsa confusão. Kenji balançou a mão, ignorando ele e veio até mim.

—Onde está essa maldita ilha, hein? Queria estar com vocês quando a encontrassem.

—É só não descer na próxima parada. —Murmurei, vendo ele encolher os ombros.

—Tenho que ir visitar minha, mãe, esqueceu? Acho que ela surta se eu não aparecer lá de vez em quando. —Afirmou, soando um pouco frustrado. —Ela anda meio estranha nos últimos dias.

—Estranha como? —Axel indagou, parecendo curioso.

—Sei lá. Acho que o poder está subindo a cabeça. —Ele deu de ombros. —Vocês podiam ir comigo pra variar um pouco.

—Não, obrigada. Não estou afim de olhar pra cara do meu amado pai. —Axel declarou, pegando a luneta em cima da mesa para olhar o horizonte.

—Foi mal, Kenji. Não posso pisar em terra firme agora. —Afirmei, dando um tapinha no ombro dele. Kenji soltou um suspiro pesado e assentiu com a cabeça, resignado.

—Tudo bem. Mas se acharem a ilha, só vão pisar nela quando eu estiver de volta, pra que eu possa ir junto! —Exclamou, nos fazendo rir. —Eu tô falando sério, gente. Vou ficar com o coração partido se não me esperarem!

—A gente vai te esperar, Kenji. Relaxa. —Olhei para Axel, vendo que ele tinha um sorriso no rosto, enquanto balançava a cabeça negativamente.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora