MIRELA
Sexta era o meu dia preferido da semana, era o único dia que eu tirava para cuidar de mim mesma, buscava ir no salão todo fim de mês fazer as unhas e de vez em quando uma hidratação nas madeixas de cabelo.
Também era meu dia preferido por que sempre rolava fofoca no salão da tia Rose, então eu orava pras semanas voarem só pra mim poder ficar por dentro de tudo que rolava no morro. Só uma alma curiosa vai entender. Já virou hábito eu comparecer no salão toda sexta ao mesmo horário, sempre depois que sou liberada do trabalho.
― E você respondeu oque? ― perguntei animada.
No momento minha manicure estava contando a fofoca quentinha do dia, de quando a namorada do seu ficante - comprometido - descobriu todo o lance e veio tirar satisfação com ela.
― Eu neguei até a morte, a mulher era muito mais alta que eu e pudia me arrebentar no meio ― Karine respondeu entre risos.
Ela tinha a mania de se envolver com homens comprometidos que na maioria eram traficantes, eu já avisei pra ela que isso um dia daria muito ruim até por que essas cornas não gostam de ser provocadas, outro dia rolou barraco nas ruas de trás, uma fiel de um tal marginal ateou fogo no barraco que a amante morava. Foi uma briga danada.
― Não sei como você consegue viver nessas aventuras ― comentei depois de escutar tudo.
― Batoré apareceu também e assumiu o B.O, disse que eu era namorada dele pra não sobrar pro Ruivinho ― Ka continuou falando enquanto fazia minha unha.
― O Ruivinho também é um vagabundo, trai aquela quenga que ele chama de mulher com o morro todo ― Aline murmurou ao lado, enquanto fazia o cabelo de uma cliente.
― O pior não é ele trair, o pior é as mulheres que ficam com ele, será que o vabagundo tem o macete? ― comentei olhando diretamente para minha manicure, ela teria a resposta.
― Ó se tem, a melhor foda que já tive ― ela sussurrou por conta das clientes.
Imagina ouvirem essas baixarias.
― Uau, talvez seja por isso ― Aline estava incrédula.
― Agora vou te falar viu, nunca vou superar a vontade de dá pro Coringa
― Karine me olhou toda derretida.Coringa é o dono do morro e Karine não nega o desejo de ficar com ele, mesmo ele sendo o dono do morro.
― Será que ele é tudo isso mesmo? ― Aline indagou franzindo a testa.
As duas são tão novas quanto eu mas já ficaram com muito mais pessoas do que eu já fiquei, são verdadeiras vagabundas natas.
― Amiga, eu fiquei cara a cara com ele ontem ― Karine estava toda animada. ― Juro pra você, pensei em trocar o Ruivinho pelo Coringa ― ela abriu um sorrisão.
Eu disse. Vagabunda nata.
― Você não presta ― comentei entre risos.
Nunca cheguei a vê-lo de perto mas sei que ele é bem bonito mesmo, tem bastante tatuagens oque o deixa ainda mais atraente. Confesso que tenho mais tesão em caras tatuados e mais velho que eu.