MIRELA
Como todos os dias fui fazendo meu caminho de volta para casa no mesmo horário de sempre, hoje a loja fechou no horário certo consequentemente me fazendo vim embora mais cedo do que nos dias normais. Minhas pernas já estavam doendo de tanto andar mas ainda faltava uma boa caminhada até minha casa, olhei em volta e atravessei a rua da pracinha correndo por que o movimento tava tenso. Tinha algumas crianças na rua brincando e algumas até no meio da rua, entre os carros e motos. Não sei como tinha pais desorientados ao ponto de deixarem seus filhos sozinho em uma rua com tanto movimento, Deus o livre acontece um acidente.
― Boa noite princesa ― escutei uma voz rouca, logo tomei um susto.
― Que susto ― coloquei a mão no coração mas me acalmei quando vi que se tratava de Guto.
― Tá devendo? ― ele desacelerou a moto e eu continuei andando.
― Oque é que você quer? ― perguntei reta e direta.
Logo me lembrei da ameaça que Coringa me fez a dois dias atrás, não sabia por que ele havia ficado tão furioso ao saber que eu estive com Guto, até por que os dois eram próximos um do outro, mas para todo caso é melhor eu evitar.
― Só tô te levando até em casa ― ele deu de ombros e pilotou sua moto em baixa velocidade para poder me acompanhar.
― Obrigada mas eu sei onde fica minha casa e não preciso de escolta ― sorri debochada e olhei em volta, vai que tenha alguém me observando.
― Porra.. quando é que tu vai abaixar a guarda? ― ele fingiu estar afetado com minha resposta.
― Por favor Guto, não enche ― murmurei sem paciência.
Meu dia tinha sido cansativo e ainda por cima tinha que aturar um homem chiando no meu ouvido, Deus me livre.
― Pensou naquele assunto? ― ele mudou o rumo da conversa.
― Que assunto? ― franzi a testa sem fazer idéia do que ele tava falando.
― Te dei carona naquele dia pô, mereço uma moralzinha ― ele insistiu, achando mesmo que eu tinha parado para pensar naquilo.
― Ainda tá nessa ― tive que rir.
― Não tô entendendo legal isso aí não ― Guto falou sério e de repente desceu da moto.
Parei junto com ele.
― Oque é que você não tá entendendo? ― respirei fundo me preparando para lidar com isso.
― Você ai me desprezando caraí ― ele se fez de vítima.
― Desprezando? ― cruzei meus braços segurando a risada.
― Isso aí é por conta do Coringa né? ― ele me encarou sério.
― Oque tem o Coringa? ― engoli em seco.
Só de tocar no nome daquele infeliz eu já perdia meu brilho.
― Tu ainda tá ficando com ele? ― Guto me questionou como se estivesse no direito.