038.

2.5K 78 23
                                    

Coringa

Nunca pensei que ia ser recebido tão bem pela favela, mas só foi eu pisar no morro de volta que a comunidade soltou fogos comemorando, tinha gente pra todo lado prestigiando minha volta e muitos gritando, me senti até celebridade.

Mas se pá nem fiquei muito tempo na rua, vim pra casa da minha sogra bater o rango por que tava na mó larica, a comida ruim do hospital não forrou nem metade do meu estômago.

Depois que Mirela fez meus curativo Ruivinho levou a gente pra casa da dona Fátima, já que eu não tava aguentando nem andar direito.

― Quem é vivo sempre aparece ― minha cunhada saudou assim que entrei dentro de casa, com aquele sorriso idiota de quem estava feliz em me ver, mas nunca admitiria.

― Pra infelicidade de muitos, avisa que eu voltei ― falei em voz alta, chegando já causando.

― Mãe, Gabriel chegou ― Mirela gritou quando entrou pra que minha sogra escutasse de onde estivesse.

― Oh meu filho, estava preparando um almoço para você, pensei que não vinha ― Dona Fátima surgiu de repente na sala, com um pano de prato no ombro e sua expressão mais alegre do que eu já vi em toda minha vida.

― Que isso tia, e perder o rango da senhora? Jamais ― falei rindo.

― Olha só para você, todo machucado ― ela se aproximou, me encarando de cima a baixo com um olhar piedoso.

― O Coringa tá bem ― Mirela murmurou enquanto sentava no sofá, isso tudo era ciúmes por que a atenção da sua mãe era toda minha.

― Ih alá, sua filha com ciúmes ― brinquei, dando uma abraço na tia.

― Tá com ciúmes minha filha? ― Dona Fátima perguntou em tom de brincadeira.

― Eu? Jamais ― respondeu seca, mas fazendo altas caretas.

― Olha lá, a cara inchada de ódio ― o carinha que tava ao lado de Isadora comentou, acho que era o namorado dela.

― Então quer dizer que tu é o carinha da vigilância no hospital? ― perguntei me aproximando do cara.

― Em carne e osso ― ele levantou pra falar comigo.

― Valeu cara, me contaram oque tu fez pra me ajudar a sair de lá ― fiz o toque com ele, não o conhecia muito bem mas só de saber que o cara me ajudou a sair da uma moral.

― Que isso, a Mirela que arquitetou o plano, eu só fiz colocar em prática ― me explicou todo sorridente.

― É, fiquei sabendo, tava doidinha de saudades ― falei pra provocar, lançando meu olhar em direção a garota que tava sentada no sofá.

― Doidinha de saudade.. alguém avisa pelo amor ― ela me imitou com aquele voz fina de maritaca, tentava negar mas dava para ver na sua expressão chateada que eu tinha razão.

― Vamos comer se não a comida vai esfriar ― Dona Fátima deu fim aquela conversa.

Todos foram em direção a cozinha, Mirela ficou por último me acompanhando.

Entre becos e vielas Onde histórias criam vida. Descubra agora