Coringa
Nunca pensei que ia ser recebido tão bem pela favela, mas só foi eu pisar no morro de volta que a comunidade soltou fogos comemorando, tinha gente pra todo lado prestigiando minha volta e muitos gritando, me senti até celebridade.
Mas se pá nem fiquei muito tempo na rua, vim pra casa da minha sogra bater o rango por que tava na mó larica, a comida ruim do hospital não forrou nem metade do meu estômago.
Depois que Mirela fez meus curativo Ruivinho levou a gente pra casa da dona Fátima, já que eu não tava aguentando nem andar direito.
― Quem é vivo sempre aparece ― minha cunhada saudou assim que entrei dentro de casa, com aquele sorriso idiota de quem estava feliz em me ver, mas nunca admitiria.
― Pra infelicidade de muitos, avisa que eu voltei ― falei em voz alta, chegando já causando.
― Mãe, Gabriel chegou ― Mirela gritou quando entrou pra que minha sogra escutasse de onde estivesse.
― Oh meu filho, estava preparando um almoço para você, pensei que não vinha ― Dona Fátima surgiu de repente na sala, com um pano de prato no ombro e sua expressão mais alegre do que eu já vi em toda minha vida.
― Que isso tia, e perder o rango da senhora? Jamais ― falei rindo.
― Olha só para você, todo machucado ― ela se aproximou, me encarando de cima a baixo com um olhar piedoso.
― O Coringa tá bem ― Mirela murmurou enquanto sentava no sofá, isso tudo era ciúmes por que a atenção da sua mãe era toda minha.
― Ih alá, sua filha com ciúmes ― brinquei, dando uma abraço na tia.
― Tá com ciúmes minha filha? ― Dona Fátima perguntou em tom de brincadeira.
― Eu? Jamais ― respondeu seca, mas fazendo altas caretas.
― Olha lá, a cara inchada de ódio ― o carinha que tava ao lado de Isadora comentou, acho que era o namorado dela.
― Então quer dizer que tu é o carinha da vigilância no hospital? ― perguntei me aproximando do cara.
― Em carne e osso ― ele levantou pra falar comigo.
― Valeu cara, me contaram oque tu fez pra me ajudar a sair de lá ― fiz o toque com ele, não o conhecia muito bem mas só de saber que o cara me ajudou a sair da uma moral.
― Que isso, a Mirela que arquitetou o plano, eu só fiz colocar em prática ― me explicou todo sorridente.
― É, fiquei sabendo, tava doidinha de saudades ― falei pra provocar, lançando meu olhar em direção a garota que tava sentada no sofá.
― Doidinha de saudade.. alguém avisa pelo amor ― ela me imitou com aquele voz fina de maritaca, tentava negar mas dava para ver na sua expressão chateada que eu tinha razão.
― Vamos comer se não a comida vai esfriar ― Dona Fátima deu fim aquela conversa.
Todos foram em direção a cozinha, Mirela ficou por último me acompanhando.