CORINGA
Sabe quando tu acorda tão bem que se sente disposto a dominar o mundo todo? Era assim que eu tava me sentindo. Sábadão chegou e eu só tinha a agradacer, tava tão ocupado com uns lance que vinha acontecendo na favela que nem percebi a semana voando. Normalmente eu sempre tinha planos pro fim de semana que era meus dias de folgar, tá ligado? Mas até agora o Coala não confirmou o churras na casa dele, significava que eu provavelmente iria passar o domingo largado as traças.
Mas nem morto.
Mandei uma mensagem pra uma mina colar na minha sala, tava precisando eliminar o estresse, se é que vocês me entendem. A mina tava me pagando maior boquete bom quando um arrombado entrou na minha sala sem bater.
― Virou bagunça isso aqui pai? ― murmurei, vendo Ruivinho parado que nem uma estátua observando a cena.
A garota não se sentiu nenhum pouco envergonhada, na verdade nem parou pra ver quem era, continuou engolindo meu pau como se sua vida dependesse daquilo.
― Foi mal chefe ― ele saiu e fechou a porta na maior agilidade.
Se pá nem esperei a mina terminar o trabalho, depois do boquete dei uns trocado pra ela e mandei vazar. Tentei eliminar o estresse e acabei arranjando foi mais, que onda.
O Zé mane voltou logo depois que a mina saiu, com a cara de bunda.
― Não queria ser empata foda, nem sabia que tava com ela aqui ― ele tratou de se desculpar.
― Que porra você quer? ― perguntei sem paciência, pegando um beck na minha gaveta da mesa.
― Sabe aquele dinheiro que tu mandou eu cobrar do Nelsinho? Eu fui lá bater na casa do mano e ele se recusou a pagar, disse que precisa de mais tempo ― ele comecou a dizer enquanto se acomodava na cadeira a minha frente.
― Se recusou? Tá de brincadeira ― eu ri pra não chorar.
― Disse que não tem dinheiro pra pagar agora ― Ruivinho passou o verbo.
― Eu quero que ele vá se fuder, na hora de pegar droga ele parecia cheio da grana ― ja tava ficando estressadão.
Isso que nem era pra mim ta ali.
― Faço oque com ele? ― Ruivinho deu de ombros.
― A idéia é uma só, ele tem até amanhã a noite pra me pagar a porra da grana e se não cumprir leva pro desembolo ― mandei o papo.
Odiava ter que lidar com gente complicada, qual era a dificuldade de andar na linha e cumprir as minhas regras? Depois vem dizer que eu saio batendo em gente atoa, mas cadê que quer pagar as droga que deve?
― Bate cerro ― Ruivinho levantou logo em seguida.
― Tá sabendo de alguma revoada hoje? ― perguntei sossegado, acendendo meu baseado.
― Qual qual, tudo parado ― ele negou. ― Mas tem um aniversário pra nós colar hoje, esqueceu? ― ele me fez lembrar do convite.
Era o aniversário da Taís fiel do Cadu, um mano das antigas que trabalha com nós. Conheço a mulher dele, é uma nega bacana e simpática, não tenho muito aproximidade com ela e nem faço questão de ter, mulher de amigo meu pra mim é homem.