MIRELA
Aquele sensação ruim no peito me dominou durante o dia inteiro, antes mesmo de saber que a invasão já tinha começado eu já estava apavorada, implorei pra Deus proteger os meninos mais vezes do que eu poderia ser capaz de contar no dedo. Eu não consegui fazer outra coisa se não ficar plantada em frente a televisão assistindo oque se passava sobre a invasão, alguns redes de jornais tiraram a tarde para falar sobre os acontecimentos no Vidigal e como estava a situação atualmente, e eu fiquei plantada em frente a televisão como uma estátua.
Estava tão nervosa que não consegui comer nada o dia inteiro, a ansiedade tomou conta de mim de uma forma pertubadora. O fato de não saber quase nada que estava acontecendo, a não ser as notícias na televisão me deixaram ainda mais nervosa, eu queria estar no morro acompanhando tudo de perto, saber como Coringa estava, por que até agora não passou nada sobre ele. Foram vazadas algumas imagens dos meninos atacando o Vidigal, dentre eles eu só consegui identificar Batoré e Cadu que estavam aparecendo nas gravações o tempo inteiro.
Naquele momento tinha uma grande parcela de repórteres sobrevoando o morro em busca de informações, sem se preocupar com os riscos que poderiam sofrer se arriscando de tal maneira. A única vez que consegui me comunicar com Coringa no dia, foi uma chamada que durou menos de um minuto onde ele conversou pouco comigo e depois abandonou a chamada, acredito que Coringa tenha esquecido o celular ligado em algum lugar e os barulhos de batida tomaram a chamada em um certo momento, era como se um acidente de carro tivesse acontecido. Mas eu não tinha certeza de nada, só me restava as dúvidas e incertezas.
― Tu não vai comer mermo não? Passou o tia todo aí plantada ― Manteiga me repreendeu pela décima vez no dia, com um pacote de salgadinhos em mãos.
Ele já havia almoçado faz tempo e agora estava fazendo o lanchinho da tarde, que ficou por conta dele já que eu não quis levantar daqui para nada. Não sabia como explicar, mas aquela ansiedade me tirou toda a fome e me deixou paranoica, por algum motivo eu senti que assim que eu me levanta-se daquele sofá, algo de muito ruim iria acontecer e eu não queria isso. Minha perna entrou em estado de caimbra de tanto que eu a movia ansiosa, minhas unhas já não tinha mais seu tamanho normal por que eu fiz questão de roer todas elas, e enquanto encarava aquelas cenas assustadoras do Vidigal sendo atacado, eu só conseguia pedir pra Deus proteger Coringa nessa confusão.
― Eu só vou me acalmar quando souber que eles voltaram para o morro, sã e salvos ― deixei bem claro, encarando a televisão da forma mais atenciosa possível, para não perder nenhuma cena.
Sentada naquele sofá, com minha coluna doendo por conta da posição, eu sentia algumas pontadas na barriga junto com algumas cólicas, mas eu optei por ignorar os sintomas e continuar ali, me forçando a assistir aquela guerra de sangue, as imagens que passava na TV não era tão esclarecedoras e não mostrava exatamente oque estava acontecendo, por isso minha preocupação era ainda maior. Oque realmente estava acontecendo?
― Eu sei que tu tá aflita, mas não pode ficar aí sem comer nada o dia inteiro.. ― Manteiga tentou me dar sermão, e por mais que ele estivesse certo sobre aquilo, eu não queria admitir.
― Me deixa em paz ― falei alto e logo em seguida veio uma dor forte, que me fez encolher entre as pernas.
Algo de errado estava acontecendo com meu corpo, mas eu estava agindo com tanta imprudência naquele momento, que seria incapaz de me preocupar comigo mesma.