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MIRELA

Acompanhar Coringa no velório do Ruivinho partiu meu coração, por que claramente ele não estava bem e isso fazia com que eu também não me sentisse bem. Era agonizante ver Coringa tão quieto e triste como eu nunca o vi na minha vida, eu queria fazer algo por ele mas sentia que qualquer coisa o abalaria ainda mais.

Ele foi um dos únicos que passou o dia inteiro velando o amigo, colocou uma cadeira de plástico ao lado do caixão e ficou lá, parado como uma estátua apenas apreciando o amigo falecido. Me doeu no coração vê-lo daquela forma, sem poder fazer nada para ajuda-ló, mas era melhor deixá-lo passar pelo processo do luto, ele precisava daquilo.

― Amiga, vai lá falar com ele, dá pra ver que ele tá abalado ― Karine sussurou no meu ouvido, estávamos assistindo Coringa parado já fazia um tempo e não sabíamos oque fazer.

― Será? Não quero atrapalhar ― comentei com receio.

Acreditava que seria necessário aquele tempo de Coringa com Ruivinho pra ele se despedir, mas Coringa estava submerso em seus próprios pensamentos de um jeito estranho, sem falar que ele estava com uma garrafa de Whisky na mão que já havia sido praticamente esvaziada.

Alegou que esse era o desejo do amigo, que ele comemorasse as vitórias independente das desgraças. Sem mais delongas eu levantei da minha cadeira, que estava sentada já fazia horas durante o velório e caminhei pelo espaço alugado somente para o velório, indo até meu marido.

― Gabriel, acho que devemos ir ― cruzei os braços e o encarei, no momento ele estava de cabeça baixo e conversava em voz baixa.

A única coisa que ele fez foi olhar para mim, me dando a visão dos seus olhos vermelhos que pela primeira vez não era de efeito de drogas e sim do choro, vi Coringa chorar hoje como eu nunca vi desde de que o conheço, cinco segundos depois ele abaixou a cabeça com um olhar cabisbaixo e me ignorou.

Olhei em volta todos os que estavam ao redor, pareciam estar prestando atenção na situação de Coringa, mas ninguém se prestava a ajudar.

― Gabriel, vamos para casa ― tentei me aproximar e em troca recebi um empurrão do seu braço. Coringa bateu seu braço na minha barriga mas logo se retratou e me olhou com seu olhar penoso, me pedindo desculpa se talvez tivesse me machucado.

― Vai pra casa, eu não vou sair daqui ― ordenou, bebendo mais Whisky.

Sentia raiva de mim mesma por não tomar uma atitude diante aquela situação, eu deveria tomar aquela garrafa da sua mão e obrigá-lo a ir para casa comigo, mas acontece que eu não tinha essa autoridade.

― Gabriel, por favor ― choraminguei, sem saber oque fazer. ― Não estou me sentindo bem ― apelei, acreditando que talvez ele considerasse a idéia de ir para casa comigo.

― Eu vou vingar a morte do meu irmão ― Coringa estava possesso de ódio, vingança e dor, isso dava para se notar nas suas expressões, e na forma raivosa como ele cuspiu aquela promessa.

― Eu sei que vai, mas você precisa ir para casa descansar, está aqui desde de cedo ― agachei próximo a ele, encarando seu rosto que estava abatido tanto pelo cansaço quanto pelo álcool. Eu estava de coração partido em vê-lo naquela situação.

― Porra, eu tenho você ― Coringa sorriu, parecia estar pensando em algo bom. ― Promete que não vai me abandonar? ― Coringa agarrou meu queixo, me obrigando a olhar para ele.

Entre becos e vielas Onde histórias criam vida. Descubra agora