049.

1.8K 61 11
                                    

CORINGA


A favela tava uma bagunça como sempre, dia de baile era confusão na certa e o morro ficava uma algazarra que só, como eu não tinha nada pra fazer em casa colei na boca só pra distrair e fumar meus beck em paz, mas nem fudendo que eu ia sair pra resolver B.O hoje, não vou largar minha paz por nada. É muito raro eu me envolver diretamente com problemas da boca, só em casos necessários mermo.

― Boa tarde chefe ― Ruivinho entrou na minha sala com maior sorriso no rosto.

― Que felicidade é essa? ― indaguei logo desconfiado e acendi meu beck.

― Ih alá, posso nem ficar mais feliz? ― cruzou os braços e sentou na minha frente.

― Sei não em ― neguei.

― Tô precisando de uma graninha adiantada aí ― falou serinho.

― Pra quê? ― perguntei curioso.

― Tô querendo sair com a minha mina, jantar romântico e pá ― falou todo gaiato.

― A Gabi? Tu não tinha terminado com ela vagabundo? ― perguntei confuso.

― Que porra de Gabi oque, tô com outra já ― não fez questão de esconder sua indignação ao tocar no nome da ex.

― Tu não perde tempo em ― eu ri.

― Sou otário é? Mas nunca eu abandono minha vida de solteiro ― falou com um tom indignado.

― Qual foi, a mina meteu o pé na tua bunda? ― ri.

― Eu que meti o pé na bunda dela, cê louco tio só queria saber de ficar chiando no meu ouvido ― falou, com a expressão irritada.

― Ué, mas não era tu que dizia que ela era tua fiel? ― zombei.

― Que porra de fiel oque, vou voltar para revoada ― abriu um sorriso largo.

― Eu acho é graça ― soltei a fumaça do meu beck.

― Por falar em fiel, a tua noite ontem rendeu hein? ― Ruivinho me encarou engraçadinho.

― Ó se rendeu ― tive que ri.

― A chefinha gostou da surpresa? ― perguntou curioso.

― Claro que gostou pô, surpresa daquela quem não gosta? Agora tô com moral na casa ― disse animado.

― Tá disposto mesmo abandonar sua vida de bandido? ― me encarou serinho.

Aquela era uma pergunta que eu fazia a mim mesmo.

― A Mirela tava comigo no meu pior momento tá ligado? Não quero mais vacilar com ela ― mandei a real pensativo e traguei mais um poucou do beck.

― Tô ligado pô, mas tu não pode se privar das coisas só por que tá casado e não precisa largar a mina pra ficar com outras ― aconselhou.

― Da última vez que eu segui teus conselhos quase perdi minha mulher ― mandei o papo.

― Tem que ter as manhas pai ― ele rio da minha desgraça.

― E tu não tem nada para fazer não que tá aqui me perturbando? ― mudei de assunto.

― Vou levar umas droga pro menor lá no alto do morro ― levantou da cadeira determinado a ir.

― Ó, fica na atividade que eu vou pra minha casa ― levantei também.

― E a grana? ― indagou.

― Quanto tu precisa? ― perguntei tranquilamente, dinheiro não era um problema, ainda mais para o meu irmão.

― Milzão ― sorriu animado.

Entre becos e vielas Onde histórias criam vida. Descubra agora