052.

1.9K 53 15
                                    

MIRELA

Após receber a visita de Karine fiquei sabendo de coisas que até então não estava sabendo, como por exemplo a história do Coringa estar cogitando a idéia de tomar o morro do Vidigal, ele não me contou nada relacionado a isso e confesso que fiquei um pouco chateada, até por que achei que estávamos em uma fase do nosso relacionamento em que nada era guardado, não tinha segredo entre nós, Coringa não via problema em me contar a situação da favela e não entendo por que privou uma notícia tão importante de mim, por isso resolvi tirar satisfações com ele.

― Gabriel ― cutuquei seu braço na cama.

Ele murmurou mas não abriu os olhos.

― Gabriel ― dei um tapa forte no seu braço, fazendo ele acordar de vez.

― Oque é? ― acordou assustado.

― Levanta ― pulei da cama.

― Que horas são? ― indagou, voltando a se enrolar nos lençóis.

― Que história é essa que você está pensando em invadir o morro do Vidigal? Você está maluco? ― perguntei desacreditada e dei voltas ao redor da cama esperando ele acordar.

Coringa não parecia preocupado em me explicar a situação, muito pelo contrário, ele rolou na cama e tentou voltar a dormir como se nem estivesse me escutando, ou pelo menos fingindo.

― Gabriel, eu tô falando com você! ― pulei de volta na cama e arranquei os lençóis dele. ― Poxa, eu achei que você me contava tudo ― murmurei em voz baixa.

― Porra, pode nem dormir em paz ― ele saiu da cama de repente me deixando ali sozinha.

Acompanhei seus passos e o vi entrando no banheiro, Gabriel ignorou totalmente oque eu havia dito e bateu a porta. Respirei fundo para não perder minha paz e continuei ali, estava disposta a continuar sentada enquanto o esperava, mesmo que ele não estivesse afim de ter essa conversa.

Acho que minha maior preocupação não era o fato dele ter escondido uma informação dessas, minha maior preocupação era a segurança dele, todo o morro sabia que não é tão fácil assim, e além do mais, o Vidigal deve estar armado até os dentes, preparado para qualquer contra-ataque.

― Vai me explicar essa história? ― cruzei minhas pernas, o vendo sair do banheiro de toalha.

― É isso aí mermo que te contaram ― não fazia questão de me explicar.

― Você sabe que isso é suicídio, o Vidigal atacou nosso morro a pouco tempo e sabe que vai ter retorno, deveria pelo menos esperar um pouco mais ― aconselhei, sabendo que aquilo não iria entrar na sua cabeça nem que eu quisesse.

Quando ele decidia algo, era só esperar para ver o resultado, não tinha a menor chance dele voltar atrás.

― Suicídio é eu ficar de braços cruzados vendo meus homens cair por um morro rival ― rebateu com um tom chateado.

― E por que você não me contou? ― levantei da cama indo até ele, mantendo aquela converse em um nível neutro para não estressa-ló.

― Tem coisas que eu não posso sair contanto pra todo mundo ― deu de ombros e deu as costas para mim.

― Todo mundo? Eu sou a sua mulher ― rebati irritada.

Entre becos e vielas Onde histórias criam vida. Descubra agora