Capítulo 37

987 105 22
                                    

Maiara narrando.

Amor, tá tudo bem?

Marília parecia um pouquinho distante hoje. Talvez um pouco chateada por tudo que tem rolado entre nós e por não ter te dado tanta atenção como deveria depois que voltei da comemoração com os meninos.

— Tudo.

— Não parece.

— Mai, a gente nem consegue conversar e se entender. - Ela diz me olhando. — Eu não sei mais o que faço pra gente voltar a ser como éramos antes.

— E você acha que eu sei?

— Mas você quer? Porque sinceramente, não parece que você quer que as coisas se ajeitem. Eu olho pra você e procuro a pessoa que me apaixonei..

— Não me ama mais?

— Eu não disse que não te amo, pelo contrário eu te amo, mas eu não sei lidar com a gente. Não sabemos lidar com a gente. E antes era tudo tão incrível. - Ela faz uma pausa. — Eu te amo tanto, que chega a doer pensar em como estamos hoje. Eu não queria ser tão dependente como tenho me tornado disso tudo.

— Eu entendo.. eu sei que nós nos perdemos!

A olho triste, porque realmente é triste a situação que estamos. Sempre soube que em um relacionamento estamos sujeito a passar por fases não tão agradáveis assim. Mas o que me deixa apreensiva é a possibilidade de não conseguirmos nos trazer de volta.

— Será o início do fim?

Engulo a seco assim que ouço a pergunta que ela acabou de formular. Nunca, mesmo em meio a tantos obstáculos passou pela minha cabeça a possibilidade de não sermos mais nós.

Mesmo que tudo que fazemos agora grita pra que nos resolvemos, juntas ou não. Mas que resolvemos, pois isso tem nos machucado.

— Eu não estou assim por não te amar.

— Não? - Ela me encara. — Por que tá tão distante e parece que já não faz questão da minha presença?

- Marília, eu não sei como agir quando o assunto é nós. Eu te disse inúmeras vezes que a sensação que tenho é que reiniciamos o que tínhamos e estamos começando tudo de novo.

— Mas não estamos, Mai. Estamos continuando de onde paramos. - Sua voz falha. — Eu quero muito te entender, mas eu não consigo. Em cada canto que olho dessa casa me lembro de um momento incrível que vivemos. Nós amamos aqui e em vários lugares que aqui existe. Mas hoje eu te olho e não pareço te encontrar.

Fico em silêncio diante de tudo que ela havia dito a segundos atrás. Não tenho resposta pra isso agora.

Me aproximo dela, e me deito em seu ombro e parece estranho. Não consigo me sentir confortável com isso..

Maiara ela é sua namorada! Penso e tento não deixar transparecer todo o meu desconforto com isso. Mas percebo que foi em vão toda a minha tentativa. Já que ela acabou de perceber e se afastar.

— Eu vou tocar alguma coisa! - Ela diz se levantando do sofá e indo em direção da escada.

Marília sempre teve essa mania de tocar, cantar e compor quando as coisas a deixava triste. E era nítido a sua tristeza nesse momento.

Pensei em questiona-lá, mas sei que ela precisava desse tempo, de ficar só e pensar sobre tudo. Eu entendo que estamos uma bagunça e que isso tem nos destruído aos poucos.

Mas não quero isso, não quero viver assim, mas eu também não sei como resolver. É tanta coisa dentro de mim, que nem eu ao menos sei lidar com isso.

Passo todo o fim da tarde e começo da noite ali na sala, esperando o tempo passar e talvez a Marília resolver aparecer novamente.

Mas toda a espera é em vão já que ela não volta, ela realmente se enfiou dentro da sala de música e não saiu nem se quer pra se alimentar ou pra fazer qualquer outra coisa.

Estou cansada, exausta de ficar sentada nesse sofá. Resolve ir até a sala de música, na intenção de chamá-la pra comer alguma coisa, talvez tentar deixar as coisas mais tranquilas entre nós.

Subo as escadas, percorro todo o corredor dos quartos que tem ali até o final do mesmo, onde fica a sala de música. A porta está entreaberta, então me aproximo com cuidado pra não assusta-lá e ouço ela cantarolar algo e anotar em seu caderno de composições.

Fico ali a admirando como sempre faço e hoje, mesmo com toda a bagunça não seria diferente. Até que começo a prestar atenção em sua letra.

Dói demais
Assumir que eu não tô mais em paz
Nem o beijo é como era antes, tão perto e distante
Onde foi que a gente se perdeu?

Torço pra que no final essa não seja uma música sobre nós, pois se for, sei o quão triste ela deve está.

Me afasto e sigo até meu quarto,entro e fecho a porta. Caminho em direção da cama e me sento na mesma. Aquela pequena letra não para de passar pela minha cabeça.

— Um banho seria perfeito!

Falo pra mim mesmo e me levanto e indo em direção do banheiro. Tira minhas roupas e coloco no cesto que tem ali.

Ligo o chuveiro e entro debaixo do mesmo e sinto a agua cair em meu corpo. Tento relaxar e não pensar em tantas coisas ao mesmo tempo.

Perco a noção do tempo, só percebo que havia ficado demais ali, quando sinto meus dedos todos enrugados. Desligo o chuveiro e me enrola na toalha que tem ali.

Saio do banheiro e vou até o closet, pego um vestido qualquer de ficar em casa e me visto.

Volto pro quarto e me sento na cama com as costas encostada na cabeceira da mesma e ligo a tv.

Marilia ainda não havia aparecido, e eu sinceramente não estava nem com cabeça pra a procurar. Estava só tentando processar sobre a letra de antes.

— Te achei! - Ela diz entrando no quarto.

A olho e dou um sorriso meio sem graça pra tentar de alguma forma disfarçar o que estava sentindo.

— Estava no banho.

— Achei que ainda estava lá em baixo. - Ela se senta na cama. — Por que está com essa cara?

— Nada! Estou com um pouco de sono apenas.

— Tem certeza? Quer que eu faça algo por você?

Faz com que a gente fique bem, eu não sei como fazer isso! Penso, mas não falo.

— Não precisa, tá tudo bem. - Dou um sorriso. — Come alguma coisa, você ficou muito tempo na sala de música.

Ela me olho surpresa e por alguns segundos eu nem se quer me dou conta do motivo que a faz me olhar daquela forma. Até ser bombardeado por lembranças que me fazem recordar que já fazia um tempo em que não a cuidava e nem demonstrava tanto cuidado assim por ela.

— Você já comeu?

— Já! - Menti.

— Tudo bem. - Ela diz e logo sai do quarto.

Reaprendendo a amar. - Mailila. Onde histórias criam vida. Descubra agora