Maiara narrando.
Já se passaram algumas semanas desde que ouvi a Marília cantar um trecho de uma música que aparentemente ela estava escrevendo.
Não tive coragem de tocar no assunto, pois ainda não me sinto preparada pra ouvir, sabe se lá o que aquela música quer de fato dizer.
Mas não tenho conseguido disfarçar meu descontentamento por aí. Nesse momento estou parada na frente da geladeira com a porta aberta, pensando em tudo. Minha mente não para um segundo sequer, enquanto a Marília está no quarto vendo algo que eu nem me dei o trabalho de prestar atenção.
Pego a garrafa de água que vim buscar e fecho a geladeira e volto pro quarto. Assim que entro no mesmo vejo a Marília me olhando.
— Aconteceu alguma coisa? - Falo a olhando e fechando a porta atrás de mim.
— Senta aqui pra gente conversar. - Ela diz batendo no espaço vazio da cama ao seu lado.
Me aproximo da cama e me sento ao seu lado olhando em teus olhos.
— Você quer me falar algo?
— Você parece distraída, triste, desanimada por aí. Mas você não me diz o que está acontecendo.
— Eu estou tentando entender..
— A gente não tem se entendido, não tem conversado e nem nada. Parecemos duas estranham num lugar que costumávamos nos amar como ninguém. E isso tem me deixado mal, e pelo que percebo você também. Ultimamente não temos conversado muito sobre as coisas. Um erro nosso, que acabou nos trazendo até aqui. Estava buscando um jeito de chamar a sua atenção ou de te fazer prestar atenção em mim. - Ela me olha.
— Mas eu presto atenção em você, eu estou aqui. Por que não falou comigo?
— Não Mai, se você me ver eu é que não tenho percebido então. Porque eu sempre me sinto como um grão de areia jogado em um canto qualquer totalmente imperceptíveis. Eu tento me aproximar, mas aparece que novamente existe uma barreira entre nós. Eu entendo que você queria cem por cento de mim, e eu juro que naquela época eu queria muito ter te entregado tudo isso. Mas assim como o meu tempo o seu também estava voltado pro projeto que estávamos realizando. Eu nunca imaginei que isso iria ser o causador de todos os nosso problemas.
— Não era pra ser assim..
— Realmente, não era pra ser assim, mas tem sido! E eu já não sei o que faço, não tem um jeito mais simples de lidar com isso.
— O que faremos?
— Entendo que os nossos projetos tomou muito do nosso tempo, mas não queria que fosse assim. Não queria que isso nos trouxesse pra onde estamos hoje. - Ela faz uma pausa. — Nesse meio tempo acabei escrevendo uma música.
Eu a olho e me lembro do pouco da letra que havia escutado a algumas semanas atrás. Sinto meu estômago revirando, imaginado que de fato pode ser a tal música. Mas não tem muito pra onde correr, uma hora ou outra teremos que enfrentar os nossos problemas, mais cedo ou mais tarde.
— Eu posso ouvir? - A olho esperando uma resposta.
— Claro!
Ela se levanta rapidamente da cama e sai do quarto e vai até a sala de música que temos e não demora muito pra volta com o violão. Entra no quarto e logo fecha a porta atrás de você, se aproxima da cama e se senta na mesma novamente de frente pra mim e me olha de uma forma triste, cheia de dúvidas, receio e insegurança. O que me faz estranhar, e sentir um cal frio percorrer por todo meu corpo. Não costumávamos ser assim, nem nos olhar assim. Sempre fomos seguras de nós, do nosso amor, da nossa relação. mas agora já não é assim... não tem sido assim.
Ela dedilha algumas notas no violão, até que começa a cantar.
— A gente tá adiando essa conversa faz um tempo
Ignorando o que vem acontecendo
Zero clima nessa casa
Deu saudade até das nossas brigas bobas.No primeiro verso eu já sinto meu coração gelar e meu chão desaparecer. Eu não sei se estou preparada pra essa conversa.. pra essa música, pra lidar com esse sentimentos expostos dessa forma.
— Dói demais
Assumir que eu não tô mais em paz
Nem o beijo é como era antes, tão perto e distante
Onde foi que a gente se perdeu?Ela me olha e consigo ver e sentir toda tristeza em seu olhar e em sua melodia. Meus olhos já estão marejados, um nó se forma em minha garganta, o choro que antes fiz de tudo pra não cair, agora rola em meu rosto sem pudor algum.
— Não queria ser tão dependente assim
O amor que curava, hoje mata, maltrata
Tá foda, eu não tô bemPreciso dizer que te amo
Pra acreditar que eu te amo
Já soa de um jeito estranho
Será o início do fim?O nosso silêncio me diz que sim, hum-hum
O nosso silêncio me diz que simMe beija com pressa, na cama a gente só dorme
Não toma mais banho junto, vivendo amor de vitrine
As aparências enganam, o povo quer que combine
Mas nunca fomos iguaisO que dói demais
Assumir que eu não tô mais em paz (demais)
Nem o beijo é como era antes, tão perto e distante
Onde foi que a gente se perdeu?Não queria ser tão dependente assim
O amor que curava, hoje mata, maltrata
Tá foda, eu não tô bemPreciso dizer que te amo
Pra acreditar que eu te amo
Já soa de um jeito estranho
Será o início do fim?A cada verso de sua música, a sua voz ficava cada vez mais embargada, era nítido o choro preso em sua garganta.
Ela me olha como se suplicasse por algo que eu não consigo nem ao menos dizer agora.
________________________________
A música que mencionei no capítulo de hoje é a: Início do fim - Carol Biazin. Pra sofrer é ótima! 🤭🤭🤭
— J.E.C
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reaprendendo a amar. - Mailila.
FanficÉ sempre mais difícil se reerguer se permitir ser cativada e amada depois de acreditar ter vivido uma história de amor que no final só te trouxe traumas e inseguranças. É difícil voltará viver como antes e mais difícil ainda se permitir se amada e...