Capítulo I

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Sim, Maya Bianchi se considerava uma mulher tradicional. Mas até mesmo ela achava aquilo tudo um grande absurdo.

Sendo a terceira mais velha de seis irmãs, aparentemente, agora que a segunda mais velha — Angélica — acabara de anunciar seu noivado com aquele médico almofadinha e conquistador barato, ela era a próxima da fila a ser empurrada para um casamento.

E detalhe: eles já estavam no século XXI.

Após os parabéns da família dela e da família do noivo serem ecoados pelo recinto, Maya apenas ergueu sua taça de vinho em silêncio com um olhar infeliz antes de beber tudo de uma vez, ignorando o olhar quase penetrante de Ester, a quarta mais velha. Ou melhor, a terceira mais nova.

Sorte a dela que Maya não iria se casar tão cedo. Assim ela poderia ter o tempo que quisesse para escolher um idiota qualquer para pedir a mão dela à família. Ou, quem sabe, ela poderia ser aquela que mudaria as regras do seu pai arcaico com um escândalo.

Não que Maya insultasse a inteligência de suas irmãs sem que elas soubessem. Não, claro que não, ela não seria capaz de tal ultraje. Ainda mais por ser considerada a arrogância em pessoa daquela família; se demonstrasse sequer um pouco da sua opinião com relação àqueles... Homens que suas duas irmãs escolheram como maridos, aquilo poderia ser a gota d'água.

Sem conseguir aturar mais todo aquele falatório de pessoas felizes e toda a bajulação para cima de Angélica e seu então noivo, Maya se levantou e foi para o toilet.

Ela fazia planos sobre ir para casa assim que aquela baboseira toda acabasse; ela tomaria um banho quente, talvez tomaria um chá, revisaria seus relatórios e então iria dormir ouvindo algum ASMR. Ou então talvez pudesse...

- Ah, oi Ma. - Angélica cumprimentou quando Maya saiu da cabine e deu de cara com ela passando rímel em frente ao espelho - Veio se esconder aqui? Bem que eu imaginei que você não duraria muito tempo lá...

Ah, aquele tom de voz irritante que ela odiava... Sua irmã mais velha sempre o usava quando estava se gabando de algo.

Maya controlou a vontade de revirar os olhos e foi lavar as mãos.

- Por que não diz logo o que quer em vez de ficar dando voltas? Sabe que eu odeio isso. - ela murmurou.

Angélica guardou as maquiagens na necessaire brilhante e então se virou para encará-la.

- Você nem me deu os parabéns pelo noivado... Nem mesmo cumprimentou meu noivo. Tem alguma coisa acontecendo, irmãzinha? - ela deu um sorriso falsamente inocente.

- Não. - Maya respondeu secando as mãos - E eu dei parabéns sim, junto com os outros.

- Não deu, não.

- Claro que dei. Você que estava ocupada demais para notar.

Angélica suspirou e encarou o reflexo dela no espelho.

- Então tá, se você tá dizendo... - ela deu de ombros - O que pretende fazer hoje depois do jantar? Vai ir pro seu chalé?

- Vou, para onde mais eu iria?

- Ah, você poderia sair com a gente. Rogério e eu vamos para uma festinha de um amigo dele. Por que não vem com a gente?

- Você sabe que eu não gosto muito desse tipo de coisa. - Maya disse e então começou a se preparar para sair dali, começando a focar no autocontrole para poder voltar para aquela mesa onde sua família estava - Estou indo.

- Está nervosa porque logo vai ser a sua vez de se casar, não está?

A frase de Angélica a fez parar de andar e prender a respiração.

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