Capítulo XXI

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- Chegaram cedo... - Maya disse logo após se recuperar do susto ao chegar na cozinha e dar de cara com Antonella e Violeta tomando café, como se fosse muito normal para elas invadir casas alheias antes das oito da manhã.

- É, essa daí não sossegava. - Antonella respondeu num resmungo com uma cara de sono indicando a mais nova com o queixo, que comia tranquilamente sem borrar seu batom marsala - Pergunta se ela dormiu.

- Você não dormiu, Vi? Tudo isso é ansiedade? - Maya achou graça.

Violeta deu de ombros passando manteiga numa torrada.

- Eu só achei melhor virmos buscar as meninas primeiro. A mãe vai fazer umas coisas gostosas pra gente comer hoje, então eu pensei "não vai ser melhor a gente buscar as crianças primeiro pra depois não precisar interromper nossas tarefas pra vir até aqui?". Aliás, a mãe vai fazer cachorro quente. Acho melhor você chegar lá cedo se quiser comer algum. Só essa daí vai comer uns sete. - ela indicou Ella com o queixo.

- Ah, cala a boca... - Antonella resmungou de novo - Você tá muito afobada com isso. Tá pior que a mãe...

- Vou contar que você chamou ela de afobada... 

- Diz que eu conto que você guarda seu all-star sujo dentro do closet. - ela rebateu calmamente. - Porca.

- Ginasta metida... - ela sussurrou audivelmente e então as duas voltaram a comer em silêncio.

Maya balançou a cabeça e foi tomar um copo de água antes de se sentar a mesa com elas.

- As meninas não acordaram ainda? - Ella quis saber.

- Não. Nessa hora elas dormem como pedras. - Maya sorriu - Devem acordar daqui a pouco, antes das nove.

- Elas vão estudar lá na escola? É uma pena que elas não vão estudar com Anton... - Violeta comentou meio aérea.

- Estive lá semana passada. - Maya falou e reparou que Antonella se recusou a encará-la por uns momentos, como se temesse que ela mencionasse a visita dela ao seu "consultório" improvisado na escola e a sua fuga repentina - Estou pensando seriamente se vou mesmo matricular elas lá ou não...

- Por quê?

Maya pensou um pouco.

- Teve algumas coisas que me desagradaram... Não são motivos o suficiente pra eu não matricular elas lá, é claro, mas... Enfim, eu vou pesquisar depois. Vou perguntar a Serena também como as coisas são. Mas a forma como Anton chega em casa estressado quase todos os dias já diz muito, fora a falta de auxiliares que eu fiquei sabendo.

- É mesmo. Está faltando gente pra trabalhar lá. Na minha turma tem um aluno surdo que até hoje está sem intérprete, e nenhum dos professores sabe o básico de libras pra ensinar. - Antonella disse com um rosto sério - É revoltante.

- Então a gente paga pra estudar numa escola que não se importa, não respeita essa minoria? Patético. - Violeta disse balançando a cabeça com reprovação. - Os alunos tem tido que fazer o trabalho deles.

- É mesmo? - Maya se interessou.

- Sim. Antonella que tem traduzido as aulas pro garoto, não é?

Ella assentiu.

- Eu tento ajudar. As vezes, quando não entendo, fica difícil explicar pra ele... Eu até entendo que alguns não tem interesse, mas acho essencial saber libras. É a nossa segunda língua oficial, é mais importante do que o inglês e o espanhol. Os professores não saberem pelo menos o básico é vergonhoso. Não entendo como ninguém fala sobre isso por lá...

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