Capítulo LVII

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Maya estava se sentindo mais leve; parecia que um peso tinha sido tirado dos seus ombros graças às palavras da sua mãe. Sim, não foi exatamente o que ela esperava ouvir — mas o que é que ela esperava afinal? — entretanto foi o suficiente para acalmar o pequeno caos de perguntas na sua mente questionadora.

Sua mãe tinha pesado na balança as opções que tinha numa época em que uma única decisão mudaria a sua vida para sempre. E estava feliz com a que tinha feito, com o caminho que escolheu. E talvez Maya se pegasse pensando vez ou outra... O que sua mãe teria se tornado se tivesse seguido o que sua família queria?

Mas ela não queria perder tempo pensando nisso. Não queria mesmo. Estava satisfeita com tudo — as crianças tinham se divertido bastante na praia, ela tinha conversado com a mãe sobre o que queria saber e ela tinha conseguido aproveitar o dia sem preocupações.

A volta para casa foi silenciosa, mas não foi algo desconfortável. Suas filhas dormiram durante todo o percurso, e sua mãe provavelmente também cochilara no banco da frente, com o chapéu de palha cobrindo seu rosto do sol de final de tarde.

O céu já estava deixando que o sol se despedisse quando chegaram em casa, no seu lar doce lar. Nenhuma luz estava acesa, nem mesmo a da varanda. E o único sinal que dizia que a segurança da sua casa continuava a mesma era as muito discretas e frias luzes azuis que iluminavam a entrada, quase como se dissessem "está tudo bem, ninguém se atreveu a chegar perto".

Não tinha nada de aconchegante naquele azul, mas o perfume natural que sentiu ao passar pelos portões... Ah, aquela era a sua casa.

– Mamãe, eu tô com fome. – Mavi resmungou coçando os olhos.

Teve que acordar as duas ao saírem do carro, e felizmente a mãe e o motorista a ajudaram a carregar as bolsas (que nem eram tantas assim...) até a varanda.

– Eu sei, meu bem. Eu vou fazer o jantar já já.

– Mamãe, Pedro pode vir brincar com a gente?

– Hoje não, Mabel. Já está tarde e nós estamos muito cansadas. Que tal amanhã?

– ...Ta...

Ela abriu a porta e Mavi foi correndo se jogar no sofá, adormecendo em questão de minutos.

Maya sorriu meio impressionada enquanto carregava as bolsas para dentro e Mabel ia ao banheiro ainda dormindo em pé. Quando saiu, se pôs a ajudar a desfazer as bagagens, contando sobre seu dia.

Felizmente ela tinha preparado uma lasanha antes de saírem, então ela apenas esquentou tudo e serviu os pratos na mesa antes de ir acordar Mavi para jantar. As três tinham tomado banho no hotel, então era só escovarem os dentes e capotarem na cama.

Ela levou as duas para dormir consigo naquela noite, e as abraçando, dormiu com um sorriso no rosto.

~~

– Mamãe... Mamãe, acorda! – ela sentiu batidinhas no seu rosto, e de repente foi sacudida violentamente – Mamãe!!

– Ai... O que...

– Mamãe... – ela ouviu o que com certeza era o início de uma crise de choro, e isso a fez se sentar como um raio antes mesmo de abrir os olhos.

– O que... O que foi, amor? – ela pegou Mavi no colo – O que foi?

– Os bichinhos... – ela chorou – A gente não deu comida a eles ontem!

Maya arregalou os olhos, mas voltou a respirar assim que se lembrou de que tinha pedido a Antonella e a Khan que os alimentasse assim que pudessem, e que os dois tinham feito como ela havia pedido, em horários diferentes. Com certeza deviam ter comido mais do que deviam.

Ela explicou isso para Mavi enquanto tentava colocá-la para dormir outra vez, pois ainda eram seis e quarenta da manhã. E quando viu que não ia acontecer, cercou Mabel com os travesseiros e desceu as escadas com a pequena no colo após ambas fazerem suas higiene matinal.

Ela deu um danone para Mavi e foi se sentar com ela na varanda para verem o sol se erguer, conversando sobre a vida, sobre o vento e outras histórias.

Deitada na rede que tinha instalado recentemente e se balançando com sua filha no colo, Maya de repente ouviu seu celular tocar lá na cozinha e saiu deixando-a ali apreciando lindamente a brisa da manhã.

– Alô? Violeta? – atendeu, estranhando um pouco a ligação tão cedo.

Ai, Maya... – ela disse do outro lado da linha – Primeiramente bom dia, né? Mas acho que logo não vai mais ser tão "bom"... digo... ai! – ela choramingou – Me desculpa, eu tô nervosa. Não consegui dormir direito a noite por causa do que aconteceu...

– O que... Como assim, o que aconteceu?!

– Calma. Fica calma, tá bom?! Você tá sentada?

– Não. – ela rapidamente puxou uma cadeira. Seu coração já estava na mão – O que foi? Fala logo!

Tá... Não surta. – ela fez uma pausa, e Maya quase perdeu a paciência – Vazaram uma foto nossa... Sua na verdade, andando na rua com as meninas ontem. Daquele dia em que nós fomos ao mercado juntas, sabe? Nós e as outras... Mas eu já resolvi! – se apressou em dizer. Maya cobriu o rosto com as mãos, fechando os olhos enquanto ouvia a voz da irmã vinda de um lugar distante – Eu consegui resolver poucos minutos depois que a matéria saiu. Mas infelizmente foi tempo o suficiente para que se tornasse um tópico discutido... Bastante discutido, aliás. – resmungou – Eu precisava te avisar que as pessoas estão comentando, estão fazendo especulações... E algumas meio que estão dizendo que você... Escondeu a "gravidez".

Maya suspirou dolorosamente, sem acreditar que aquilo pudesse estar acontecendo.

– Violeta...

– Eu sei. – a mais nova respondeu – Eu sei. Mas eu já resolvi, tá bom? Ninguém mais tem permissão de publicar esse tipo de coisa sobre você. Não sem antes passar por mim e pelo meu time. E você sabe como nós somos competentes. – ela deu uma risadinha convencida, mas Maya não a acompanhou – Olha, Ma, se você tá preocupada com o papà...

– É claro que estou, Violeta. – disse cansada. – Ele disse que eu não podia, de forma alguma, deixar isso acontecer.

Seu dia mal tinha começado...

Ele já sabe, Maya. E sabe que a culpa não foi sua. O paparazzi foi invasivo, não sei como ele conseguiu achar você nessa cidadezinha mas achou. Mas ele não vai mais aparecer por aqui, isso eu garanto. Papà disse que já deu um jeito nele.

Maya ficou em silêncio, até que agradeceu baixinho antes de encerrar a ligação.

Todos sabiam sobre suas filhas agora. Ela não dava a mínima para o que estavam falando dela, se a achavam uma vergonha por "engravidar" fora do casamento e ter escondido — apesar de ela saber que aquelas pessoas tinham uma forma de pensar bem diferente da da sua família tradicional e conservadora. —, ela só não queria que suas meninas sofressem com o assédio que ela havia sofrido na infância e na adolescência, antes de finalmente aprender a fugir dele e das lentes e dos olhos curiosos.

Maya não entendia como a vida pessoal de um empresário de sucesso pudesse ser tão interessante para os outros, mas acreditava que a verdadeira fama da sua família se devia, na verdade, às suas irmãs, principalmente Violeta, que vivia e sabia bem aproveitar aquele mundo online. — Desde o começo a caçula tendia a exibir o estilo de vida que tinha e a riqueza com que nascera. E por alguma razão isso deixava as pessoas loucas.

Maya encostou as costas na cadeira e encarou o teto, suspirando.

Nada ia mudar, certo? Ela ia continuar com a vida que tinha, e suas meninas iam crescer longe da mídia, longe de tudo que envolvia aquele mundo horrível e cruel. Até crescerem e poderem escolher o que queriam.

Até lá, Maya faria de tudo para protegê-las. 

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