Maya estava voltando da viagem com as meninas, seu carro passando e vez ou outra balançando pela estrada de terra em frente aos terrenos, alguns com imponentes casarões e outros ainda intocados pelo homem, quando avistou um grupo de pessoas — seus vizinhos, ela percebeu depois de alguns minutos observando de longe — reunidos conversando sobre algo que parecia importante.
– Mamãe, o que foi? – Mabel quis saber.
O rostinho ainda estava um pouco vermelho por causa do choro de mais cedo. Mavi, que estava cabisbaixa — Maya tinha mesmo falhado em tentar animar as duas durante o caminho de volta pra casa — brincando com seu cubo mágico, ergueu o olhar e notou que haviam parado.
– Não sei, amor. Vamos ver. – ela dirigiu em direção a eles.
– Quem são?
– São nossos vizinhos.
– Nunca vi!
Maya deu uma risadinha e estacionou, ligando o ar do carro. O céu estava nublado mas o calor permanecia com todo seu poder.
– A gente precisa! Não, a gente precisa! Temos que fazer alguma coisa! – um deles falava alto.
– Pois é! O que será de nós quando quisermos sair?! Nem andar armada com um facão vai ajudar!
Maya saiu do carro e fechou a porta deixando uma das janelas de trás um pouco aberta para que as meninas pudessem vê-la e não se preocuparem.
Alguns olhares se viraram para ela quando se aproximou um pouco hesitante, mas o assunto tinha tanta urgência que nem lhe deram tanta atenção.
– Olha, eu sou velha e minha menina tem que ir pra escola todos os dias! Como vou deixar ela passar sozinha nessa estrada agora?! Vou ter que ir junto!
Um dos homens foi se oferecendo cheio de boas intenções:
– Eu posso dar carona a ela—
– Nem pensar! Fiquei maluca agora e não tô sabendo?!
– O que está acontecendo? – Maya finalmente ergueu a voz para perguntar.
A senhora de antes, a que mais se pronunciava, escandalizada, se virou para ela rapidamente com uma vara de pé de goiaba na mão.
– Éé, menina! Você vive dentro daqueles muros de castelo e nem fica sabendo das coisas que acontecem na vizinhança. – falou sem tom de julgamento apesar das palavras. Era mais como uma lamentação – Perseguição! Foi isso que aconteceu! Ai de mim e da minha menina sozinhas naquela casa enquanto o velho trabalha!
– O quê?! – Maya se virou para os outros em busca de uma luz.
– Conhece a Bernarda? A da casa amarelo canário? – uma mulher pouco mais velha que ela perguntou, com seus três filhos agarrados na saia vermelha florida dela com os olhos arregalados enquanto ouviam a conversa.
Maya não tinha certeza se sabia de quem estavam falando, mas assentiu mesmo assim.
– Sim...
– Então, menina! Quase morreu ontem! – a outra moça disse toda agitada. Maya a conhecia, se lembrava dela de quando era mais nova e tinha vindo ver o terreno da sua casa junto com o dono da época. Ela tinha a recebido muito bem, sendo prestativa e gentil com ela. Teriam feito uma amizade se Maya tivesse mais tempo e não vivesse enfurnada dentro dos seus "muros de castelo", como a outra havia dito.
– Um doido correu atrás dela! – a senhora falou antes de dar uma tragada no cigarro – Olha só que perigo!
Maya estava tão espantada que nem soube o que dizer enquanto os homens discutiam algo sobre contratarem alguém.
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O Poder do Amor
Chick-LitSe fosse para resumir Maya Bianchi em uma palavra, esta seria "tradicional''. Tradicional e pés no chão, era assim que ela era. Depois de alcançar seus objetivos acadêmicos e se tornar uma das pessoas mais bem sucedidas nas áreas profissionais nas...