Capítulo XLVII

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– Ma, Anton não vai com a gente não?

Mavi perguntou com um biquinho e com as sobrancelhas franzidas para o tanto de pertences delas espalhados no tapete no chão da sala.

Haviam voltado para o "ma", embora o "mamãe" fosse pronunciado vez ou outra pela pequena, que ainda parecia estar se acostumando tanto quanto ela.

– Não, meu bem. Vamos só nós três.

– Mas ele disse que queria ir.

– Disse, foi?

Mavi andava muito apegada a Anton ultimamente e mesmo seu sobrinho não sendo muito comunicativo, ela parecia o entender muito bem.

– Sim... E o tio Khan? Ele não vai também não?

Maya fechou o zíper da necessaire quase explodindo no seu colo e a colocou no chão junto com as outras coisas que iria levar para passar o dia na casa de Melanie com as meninas.

– Ele não vai, amor. Lembra que ele disse que ia trabalhar amanhã?

– Mas amanhã! A gente vai sair hoje! – bateu o pé no chão.

Maya suspirou e a encarou, se perguntando o porquê de ela estar agindo assim, se estava tão animada ontem.

– Vamos dormir na casa da tia Érika hoje e no sábado de manhã nós vamos pra casa de Isabel. – explicou com paciência, e inclinou a cabeça quando Mavi continuou com a mesma expressão emburrada – O que foi, Mavi? Vem cá, senta aqui e me conta o que tá acontecendo. Vamos resolver isso.

Mavi foi chegando pertinho, e Maya a puxou delicadamente pelo braço, dando um beijinho nos seus cabelos desgrenhados.

– Vai, me diz. – Maya a fez sentar ao seu lado no sofá – Você não quer ir? É isso?

Mavi não respondeu; ficou encarando as próprias mãos, brincando com os dedos.

Mamãee, acabou o papeel! – Mabel falou do banheiro.

Maya pegou Mavi no colo — pois a conversa das duas ainda não havia acabado, embora nem tivesse começado — e se levantou para ir até o armário do corredor pegar mais papel higiênico.

– Brigada.

– De nada, amore. Vem, Mavi, vamos lá na cozinha ver se tem algo lá que precisamos levar.

E foi com ela no colo para logo em seguida sentá-la em cima da mesa.

– Ma, eu tô enjoada... – Mavi confessou depois de um tempo em silêncio.

– Está? Será que foi o pão doce que você comeu? – ela pegou a caixinha de remédios no armário de cima – Mavi, você precisa me contar o porquê de você estar assim. Se você não quiser ir, a gente não vai. Simples.

Maya pingou algumas gotas na colher e deu pra ela, que tomou e fez uma careta logo em seguida.

Maya sorriu, mas logo voltou a ficar séria.

– Mas se não formos, eu não sei qual vai ser a próxima vez que a tia Mel vai nos convidar. Isso se ela nos convidar de novo. Entendeu?

Maya tinha uma noção do quão reservada era a família de Melanie. E não era porque tinham algum problema ou segredo sinistro, mas sim porque simplesmente preferiam assim.

Vendo que Mavi havia voltado para o seu silêncio, Maya parou de focar na sua tarefa e foi para o lado dela, espelhando seu comportamento.

– Eu tô com medo... – ela finalmente disse baixinho.

O Poder do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora