Um fato sobre bebês recém nascidos: eles podem dormir por até 20 horas por dia - despertando apenas para se alimentar -, e acordar várias vezes durante a noite é completamente normal e saudável.
Isso e umas outras coisas. Era o que Maya sabia sobre bebês que haviam nascido há pouco tempo.
-...Não podemos julgar, não é?
Aquela mulher não parava de falar. Será que não tinha percebido que presente ali estava apenas o corpo de Maya?
- Sim. - ela respondeu, ainda pensando no que estava acontecendo. Sua mente tentava a todo custo trabalhar, mas sua imaginação entrava no meio e atrapalhava totalmente a razão.
Primeiro: como o nome dela foi parar naquela lista, visto que ela se lembrava muito bem de ter recusado a possibilidade de adotar um bebê?
Segundo: como ela cuidaria de um bebê?!
Terceiro: Um bebê! - E recém nascido!
Maya choramingou internamente, em puro desespero. Queria fugir, queria se jogar numa daquelas paredes brancas e limpas e fingir desmaio. Queria...
Seu coração acelerou enquanto ela seguia a mulher pelo corredor e sentiu o cheirinho típico de sabonete e leite materno. Todo o seu corpo estremeceu, mas não da forma que imaginou que seria.
A enfermeira - Maya nem havia prestado atenção nela quando a mesma se apresentou - deu batidinhas na porta e a abriu logo em seguida.
Do lado de fora, através do vidro, Maya já podia ver os berçários. Cada um continha um bebê dormindo pacificamente. Uns pares e trios eram mais próximos, indicando que eram gêmeos e trigêmeos.
Ela apertou as mãos sobre o peito ao ver um erguer a mãozinha fechada.
- Senhora Bianchi? - a enfermeira a chamou - Pode vir.
Havia outras duas moças ali responsáveis pela vigilância e cuidado dos pequenos, e Maya foi se sentar numa poltrona disponível por ali, como se existisse exatamente para pessoas como ela.
Maya estremeceu e abriu a boca levemente, um pouco assustada, um pouco temerosa, ao receber o bebê pequeno nos braços.
Era cabeludo. - Foi a primeira coisa que notou ao ver os fios escuros escapando da touquinha. Tinha a pele levemente avermelhada, mas podia-se perceber que iria, no mínimo, ficar com um tom parecido com o da dela quando crescesse.
Ele fez uns barulhinhos, se remexendo. E esticou os braços como se espreguiçasse.
Maya o assistiu, encantada. Aquele ser pequeno... Tão frágil, tão macio, tão amável...
Ela não se surpreendeu quando sentiu uma lágrima cair. E outra e mais outra.
Ela respirou fundo. Se era puro instinto materno ou não, ela não se importava. O amor foi instantâneo. Ele era dela e ela era dele, e seria assim até que o mundo não permitisse mais.
- É claro que eu te aceito. - sussurrou para ele, segurando sua mãozinha enluvada com delicadeza.
~~
Os planos que ela tinha feito para aquele dia teriam que ser adiados - os do trabalho pelo menos. Era bom que ela ainda não tivesse ninguém para receber no seu consultório particular durante a tarde. Ela tinha atendido seus pacientes na clínica (inclusive Mário, que afirmou estar sendo um rapazinho muito esperto e paciente nos dias que se passaram sem vê-la pessoalmente), tinha almoçado por pura obrigação e, após dar a notícia de forma vaga e apressada a Khan, ela partiu com o seu carro em direção o hospital.
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O Poder do Amor
ChickLitSe fosse para resumir Maya Bianchi em uma palavra, esta seria "tradicional''. Tradicional e pés no chão, era assim que ela era. Depois de alcançar seus objetivos acadêmicos e se tornar uma das pessoas mais bem sucedidas nas áreas profissionais nas...