Haviam certas coisas que Maya ainda estava aprendendo a ignorar no seu dia a dia agora que estava desenvolvendo seu papel de mãe. Como quando uma de suas filhas dizia algo que a magoava, ou quando danificavam um pertence de valor, ou não davam a devida atenção a algo importante que ela queria lhes mostrar e ensinar — atitudes completamente normais vindas de crianças.
Maya também estava aprendendo a ignorar e a ter paciência com os olhares estranhos que recebia quando saía com suas meninas, principalmente as que encaravam Mavi além do que era consideravam normal. Os olhares de nojo e repugnância, às vezes até mesmo de pena. — Para esses Maya apenas retribuía com olhares frios e ameaçadores, desafiando a pessoa a dizer alguma coisa que ferisse os sentimentos da sua filha.
A lista era enorme, simplesmente longa. E a maioria eram detalhes que ela ignorava — tinha que ignorar caso não quisesse ser consumida por sentimentos perigosos.
Na festa de Mabel, tudo estava ocorrendo bem mesmo com os comentários que Lucas deixava escapar vez ou outra, o que todos levavam na brincadeira.
Bom... Todos menos Violeta.
Violeta era uma pessoa... Difícil de lidar, pra dizer o mínimo. Tinha personalidade forte, sua "bateria social" às vezes acabava rápido, como ela mesma costumava dizer. E também tinha dificuldades de lidar com lugares e pessoas novas. Era cautelosa toda vida, mesmo que não mostrasse tanto. Um exemplo disso era a forma como tratava Odessa. — Ela já não implicava tanto como antes, principalmente agora que ela e Antonella haviam se tornado amigas. Maya sabia muito bem que o preconceito de antes era, na verdade, insegurança. — Não que um dia ela fosse dizer isso a ela, é claro. A caçula odiaria ouvir tal coisa.
De certa forma, tinha até mesmo feito uma amizade com a moça. Violeta não era preconceituosa como se mostrava. Estava bem longe de ser, na verdade. Sempre se preocupava com as minorias que eram deixadas de lado e as injustiças do seu dia a dia. E no fundo odiava o preconceito com todas as forças.
Assim como Maya estava ciente de que suas ações de antes eram movidas tanto por cautela — por Odessa ser uma pessoa totalmente nova no ninho — quanto por ciúmes, ela também estava percebendo sinais daquela desconfiança sutil para com Lucas.
Ele falava, era animado, conversava com todo mundo, contava da sua vida, perguntava, se demonstrava interessado por saber e por aí vai. — Era um rapaz cheio de vida. Tinha praticamente a mesma idade de Ester e por isso tinham se entrosado melhor.
Só que Violeta não parecia muito contente com a parte das perguntas, do interesse pela vida de privilégios que sua família tinha.
Maya nunca se considerou alguém que sabe notar bem os sentimentos alheios; se a pessoa não dissesse com palavras, ou pelo menos, se não desse dicas do que verdadeiramente sentia, ela dificilmente conseguiria adivinhar. Catar sinais e pistas para desvendar os mistérios da mente das pessoas, embora fosse seu trabalho, não era lá seu ponto mais forte. Mas ao longo dos anos ela havia percebido que entre suas irmãs, sempre teve aquela que pensava mais antes de agir, que tinha bastante cuidado para não sair confiando em qualquer um. E essa pessoa era, naturalmente, Serena. A mais velha das seis.
Talvez estivesse no sangue, talvez por ser a mais nova Violeta quisesse ser um pouco como a mais velha... Ou talvez ela apenas se preocupasse como a primogênita. — Fosse como fosse, Maya não deixou de notar durante um momento sequer, e provavelmente suas outras irmãs também não, a forma como Violeta analisava o convidado da festa.
Com isso, Maya passou a analisar Lucas também de forma discreta. Mas como seu julgamento de primeira podia ser falho às vezes, ela logo decidiu deixar para lá e aproveitar mais a companhia de todos como a anfitriã.
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O Poder do Amor
ChickLitSe fosse para resumir Maya Bianchi em uma palavra, esta seria "tradicional''. Tradicional e pés no chão, era assim que ela era. Depois de alcançar seus objetivos acadêmicos e se tornar uma das pessoas mais bem sucedidas nas áreas profissionais nas...