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Pov Marília

[ 2 semanas depois...]

Duas semanas de tudo o que aconteceu, eu ainda estou tentando processar tudo que aconteceu, parando de chorar aos poucos, controlando a minha ansiedade, cuidando de mim e focando na minha vida, o único problema... é o Leo. Meu filho está tendo crises de choro repetinas, tendo febre, chamando pela Maraisa antes de dormir, ficando chateado quando vamos na ONG e ela não está lá, ainda está sendo um processo.

Mas nesses últimos dois dias, a sua febre tem aumentando, nós forçando a internar o meu pequeno, mesmo contra a minha vontade. Mas ainda sim, necessário, pelo menos os analgésicos estão ajudando.

- Oi, cheguei - Luísa fala entrando no quarto - Desculpa o atraso.

- Tudo bem... - Sorrio fraco para ela.

Hoje eu tenho show, vai ter algumas participações especiais e eu vou ser a atração principal, por isso preciso chegar mais cedo, rever o repertório e me preparar para o primeiro show depois de tudo.

- Eu prometo voltar assim que o show acabar - Falo para a minha irmã - O mais rápido possível.

- Não se preocupa, Lila - Luísa me dá um beijo na bochecha - Eu não me importo de ficar com ele.

- Obrigada...

Me aproximo do meu pequeno e encho seu rosto de beijos, mesmo com ele dormindo, me dói o coração ver ele assim, tudo por culpa de uma pessoa sem coração, a ponto de abandonar uma criança, que amava ela mais do que tudo.

///

Chego rápido no local do show e tenho um tempo livre, então decido tentar compor alguma coisa.

Nós últimos dias, eu fui atingida por outro bloqueio criativo, não consigo cantar mais, não consigo sentir prazer fazendo aquilo que eu mais amo. Mas da mesma forma que tem sido difícil, tento me confortar, com o fato que pelo menos eu não choro mais com isso, Maraisa não vale as minhas lágrimas.

- Vamos Marília - Falo comigo mesma - Você consegue.

Pego meu violão e coloco no meu colo, respirando várias vezes antes de começar.

Ela foi o meu amor, o amor da minha vida, o meu amor impossível, nós duas poderíamos ter tudo, mas ela decidiu acabar. Talvez ela seja o amor da minha vida, mas não para a minha vida.

Depois de alguns minutos, escrevendo, apagando, reescrevendo, deixando as lágrimas caírem, junto com a letra sendo escrita, consigo um bom resultado.

" Tem amores da vida
Que não são pra vida
Nesse caso eu e você
Somos a prova viva
Tem começo que o fim
Nem passa na cabeça
Até que um belo dia
Esse dia chega

Chega chamando pelo nome
Quem chamou de amor
E a boca que falou te amo
Fala que acabou
E o nosso pra sempre
Infelizmente não vingou
Apesar de não te comover
Com o meu sofrimento
Mesmo que sair da sua vida
Seja um livramento

Apesar de não valer o álcool
Que eu 'to bebendo
Mesmo que você ligue o foda-se
'Cê segue sendo

A maior saudade de todos os tempos"

É, Maraisa... você sempre vai ser a minha maior saudade.

Limpo as lágrimas do meu rosto e decido já ir para o meu camarim, mas alguém para na minha frente primeiro.

- Oi, Lila.

Murilo está na minha frente, com um buquê de flores na mão, me olhando.

- O que você quer? - Pergunto nervosa.

- Eu vim conversar com você - Ele fala devagar - Pedir desculp-

- Por me abandonar na gravidez, por não ligar para o seu filho ou por ter feito aquela ceninha pedindo um teste de DNA?

- Por tudo...

- Vai se fuder - Falo nervosa, tento passar pelo homem, mas ele me para com as mãos.

- Eu realmente estou tentando melhorar, tá bom? - Ele fala rapidamente - Eu me arrependi, todos os dias, nesses últimos anos, eu sinto muito.

- Que bom... mas eu não me importo.

- Eu realmente mudei, Marília - Ele fala nervoso - Estou disposto a tudo, até dividir a guarda com você e a Maraisa, se essa for a sua vontade.

É como um gatilho, quando citam o nome dela, acionam todos os gatilhos possíveis. Nós duas tínhamos tantos planos para essa vida. O choro para na garganta, as lágrimas param nos meus olhos, prontas para sair.

- Não se preocupa em relação a isso - Sorrio fraco - Nem você, e muito menos ela, vão chegar perto do meu filho.

Murilo parece preocupado e se aproxima de mim.

- Vocês terminaram?

- Vai se fuder...

- Marília, eu me importo com você - Ele fala passando as mãos pelo meu ombro - O que aconteceu?

- O que aconteceu, é que as únicas duas pessoas que eu escolhi amar nessa vida, me abandonaram, como se eu fosse uma merda - Falo apontando para o seu peito.

- Eu sinto muito, Lila...

- Não me chama de Lila - Falo nervosa - Não me chama assim.

- Eu quero fazer parte da sua vida novamente - Ele fala calmamente - Te ajudar a criar o nosso filho.

- Ele não é seu filho - Grito nervosa - Ele não é seu filho, e muito menos daquela mulher.

- Maraisa te abandonou, eu já entendi - Murilo grita no mesmo tom - Mas eu estou aqui, para concertar os meus erros, isso não vale de nada?

- É um pouco tarde, você não acha?

- Eu estou tentando mudar.

- Espero que dê certo - Deixo dois tapinhas no seu ombro - Mas do meu filho, você não chega perto.

Passo por ele, sem ao menos pegar o buquê da sua mão.

- Maraisa vai se casar - Murilo fala alto - Eu fui convidado para o casamento dela.

- O que? - Pergunto me virando para ele.

- Naiara me mandou o convite... disse que vai ser uma cerimônia especial.

Ela ainda vai se casar... ela ainda vai viver com aquela mulher, Maraisa me trocou por aquela mulher. O meu amor ela jogou no lixo, pisou em mim e no meu filho, pouco se importando com nós dois.

- Eu não me importo com ela mais, Murilo - Minto - E espero que elas duas cheguem bem longe... bem longe de mim.

- Maraisa se vingou de você, pelo o que aconteceu no passado - Murilo fala como se fosse óbvio - Fez exatamente o que você fez com ela.

- Eu não tive culpa do que aconteceu.

- Ela fez a vingança perfeita dela, Lila - Ele fala se aproximando - Te machucou, apenas para você sentir a mesma coisa que ela sentiu.

" - Eu espero do fundo do meu coração - Ela sussurra com a voz embargada me olhando - Que um dia você seja machucada, que você sinta uma dor tão grande, que te impossibilite de amar novamente, de se sentir viva. Para você sentir a mesma coisa que eu estou sentindo agora "

Engulo em seco e deixo as lágrimas caírem dos meus olhos. Eu fui a única que não percebi isso, a única.

- Podemos fazer o mesmo... - Ele passa as mãos pelo meu rosto.

- Eu não sou manipulável, seu imbecil - Tiro suas mãos do meu rosto - Maraisa pode ter se vingado, da maneira mais estúpida, mas eu não sou igual a ela. O desprezo é a forma mais sutil de vingança.

Murilo não responde, apenas me olha surpreso, mas não de uma maneira boa. Saio de perto dele e vou me preparar para o show.

Está doendo e está doendo muito, mas eu não posso parar a minha vida por ela. Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los

Revenge (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora