73.

1.1K 149 33
                                    

Pov Marília

Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Há dias muito difíceis, quando tudo parece cooperar para a desistência, e hoje é esse dia. Hoje o grande de dia da audiência, a acusação já depôs, e nós também. Hoje é o dia que vamos acabar com um sofrimento, ou começar outro.

- Só não mostra nervosismo, tá bom? - Maiara fala me aconselhando - Nós vamos conseguir.

- Tá bom...

- Podemos ir? - Ela pergunta me entregando meus óculos - Cadê a Mara?

- Ela não vai conseguir ir - Luísa avisa aparecendo na cozinha - A febre voltou.

Minha noiva está doente, a duas semanas, ela não come, não reage, só dorme, e fica com o Leo, que a única coisa que faz ela melhorar. A angústia, e a ansiedade, de todo esse momento que estamos vivendo, está sendo tão intensa, que está ultrapassando a linha da dor mental, para a dor física. Maraisa é uma pessoa intensa, ela sente muito, chora muito, fica eufórica muito rápido, ela vive muito o momento, então em dias tristes, ela também sente muito, mas só as energias negativas, porque foi o que nós restou.

- Eu vou ver ela... - Aviso subindo para o quarto.

Bato na porta antes de entrar, e vejo a minha noiva, tão linda, mas tão sem cor, não é a minha noiva, ela está abatida, deitada na cama, olhando para a TV, sem humor algum. Me aproximo dela e sento na sua frente, fazendo nossos olhos se encontrarem.

- Oi, amor... - Falo passando a mão no seu rosto, e me assustando pelo seu rosto quente.

- Me desculpa, eu queria estar lá com você - Ela fala com a voz embargada - Mas hoje eu não consigo controlar.

- Está tudo bem, vida - Deixo um beijo na sua cabeça - Luísa vai te levar no médico.

- Eu não vou.

- Mara...

- Não, eles nunca resolvem nada - Ela fica brava - Só me furam, e me mandam para casa. Foi duas semanas nisso, e não adianta nada.

- Amor... é o melhor, por favor.

- Eu não quero, e já disse que não.

- Lila, estamos atrasadas - Maiara grita do andar de baixo - Atraso é falta de comprometimento.

Não queria deixar ela assim, eu deveria ir com ela no médico, Maraisa está doente por uma coisa minha, e isso pode afetar as nossas filhas, e eu não posso fazer nada. Mas ao mesmo tempo, que isso pesa minha consciência, não posso deixar de ir nessa audiência, não é uma possibilidade deixar de ir, me deixando totalmente decidida.

- Quando eu voltar, nós duas vamos no médico - Dou a palavra final - E você vai, querendo ou não.

Ela fica irritada comigo, e não fala mais nada.

- Eu te amo, meu amor - Sussuro baixinho, e dou um beijo na sua cabeça - Eu sou a pessoa que mais te ama no mundo.

- Traz Leo de volta... - Ela fala sem me olhar.

- Eu vou trazer...

Deixo outro beijo, mas dessa vez na sua boca, saindo apressadamente do quarto e indo me encontrar com Maiara.

No caminho, é uma ansiedade, as mãos trêmulas, as pernas inquietas, aquela vontade enorme, de parar, e sair correndo, de chorar, ela provoca a mesma sensação que quando um homem está se afogando e se segura em você. Você quer salvá-lo, mas sabe que ele pode estrangulá-la com o pânico. Sabe a sensação de querer chorar e não poder? Que você sente, seus olhos cheios de lágrimas, a sua garganta quase fechada, e uma pressão enorme atrás da cabeça? É assim que eu me sinto agora.

Revenge (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora