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Pov Maraisa

- É um tratamento intenso - A médica explica - Vamos aplicar hormônio na sua barriga, nas primeiras semanas é difícil, por isso recomendamos que você tenha alguém para te levar embora.

- Eu vou sozinha...

- Você não tem um marido? Um amigo, ou amiga? - Ela pergunta preocupada - Esse tratamento tem resultado, mas é muito intenso e pesado. Os efeitos colaterais mais pesados são, alterações do estado de ânimo, pontadas no ventre, cefaleia, sufoco e, mais raramente alterações visuais, é difícil, Maraisa.

- Eu... eu consigo ir sozinha.

- Carla, com todo o respeito, esse tratamento é complicado, muda o nosso corpo - Ela fala novamente - E você tem que estar com o psicológico bom, caso dê errado...

- Eu sei, o que estou fazendo.

Decidi tentar um tratamento novo, mas não quero falar para a minha noiva, nem ninguém. Não quero ver ela decepcionada comigo, principalmente por isso, decidi só contar, se realmente der certo. Esse é o meu sonho, não quero ver ela sofrendo comigo, por uma coisa que não faria parte dos seus planos, se eu não tivesse entrado na sua vida.

- Novamente... você não tem ninguém para te acompanhar?

- Eu consigo fazer o tratamento sozinha - Tento não transparecer a minha grosseria - Mas muito obrigada.

- Tudo bem...

Ela me encaminha para uma sala, aonde duas enfermeiras, me explicam tudo, efeitos colaterais, possíveis enjoos, sensações estranhas, mal estar, mas que isso é temporário. Eu estava nervosa, odeio agulhas, sei que vai doer, obviamente, é uma agulha no meu corpo, mas eu queria a minha noiva aqui, segurando a minha mão, me acalmando, como ela sempre faz.

A enfermeira levanta a minha camiseta e passa o álcool, me fazendo sentir aquele leve incômodo, pela temperatura do líquido, mas quando ela volta com a agulha, sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, e uma dor insuportável chegando, me fazendo contrair a minha barriga, quase desistindo disso, mas me segurando, que tudo vai valer apena no final.

Depois de longos minutos, ela retira a agulha de mim, e eu sinto uma tontura forte, me fazendo agarrar a enfermeira para não cair no chão.

- Você está bem? - Ela pergunta me segurando.

- Só um pouco de tontura...

Me deito na maca, para tomar o medicamento na veia, mas acabo dormindo, ali mesmo. Nunca pensei que um remédio iria me trazer tanto sono

- Seu marido vem te buscar? - Uma mulher me acorda - O seu remédio já acabou.

- Eu não tenho marido - Sorrio fraco - Mas eu vou ir embora sozinha.

Ela não contesta, mas me acompanha até a porta preocupada. Saio da clínica com dificuldade, dói mais do que eu supostamente imaginava, muito mais. Entro no carro com dificuldade e sento no banco, abaixando a minha cabeça e deixando as lágrimas saírem.

Não era para ser difícil assim, minha irmã pode ter filhos, a minha mãe, todas as gerações passadas, não tinham problema algum, porque logo isso, foi acontecer comigo?

Eu não posso decepcionar a minha mulher, não quero criar expectativas na minha família, por isso tenho que garantir que tudo vai dar certo, antes mesmo de falar com eles. Tenho medo de decepcionar as pessoas, de magoá-las, de fazê-las cansarem de mim.

Limpo meu rosto e dou marcha para a minha casa, passei a manhã inteira na ONG. Estou com saudades do meu filho, e da minha noiva.

Quando chego em casa, antes mesmo de entrar, consigo ouvir a gritaria de Marília com o Leo, os dois juntos são duas crianças, e Marília é a pior.

- Vocês não me esperaram - Chamo a atenção dos dois ao entrar na casa.

- Mamãe - Leo gruta animado e começa a bater palma.

- Puxa saco - Marília fala mordendo sua barriga.

Me aproximo dela e passo minhas mãos pelo seu rosto, deixando um selinho na sua boca, depois deixo outro beijo no Leo, mas antes de subir, Marília segura meu braço.

- Você está pálida... - Ela fala preocupada - Aconteceu alguma coisa?

Tento não transparecer que meu corpo esta começando a doer inteiramente, que minhas oernas estão perdendo a força e que eu preciso urgentemente dormir.

- Eu só... estou com sono.

- Não... eu te conheço, o que aconteceu?

- Eu só estou cansada, Lila...

- Não mente para mim.

Marília me conhece a mais de dez anos, conhece meu jeito de falar, de agir, sabe exatamente quando estou mentindo.

- Eu só estou cansada...

Ela me olha decepcionada e me solta, desviando nossos olhares e voltando a sua atenção para o Leo. Não tenho forças para querer a sua atenção, apenas subo para o andar de cima, e acabo pegando no sono, no meio da cama, sem ao menos trocar de roupa.

///

- Mara... - Marília me chama - Amor, você está com febre.

Eu sinto meu corpo quente, sinto que estou suando, mas o frio toma conta do meu corpo. Marília passa as mãos pelo meu rosto e confirma a sua teoria, eu realmente estou com febre.

- Nós vamos para o médico - Ela fala se levantando.

- Não, não e não - Falo rápido - Eu estou bem.

Se eles me levarem para o hospital, vão perguntar o que eu fiz, e eu não vou falar, só piorando tudo.

- Você está com febre, o dia inteiro - Minha noiva fala brava - Eu vou te levar no médico e pronto.

- Eu não quero ir no médico, Marília - Respondo nervosa - Você não pode me levar contra a minha vontade.

- Eu não só posso... como eu vou.

- Eu já disse que não vou - Grito com ela e me levanto da cama - Eu estou bem.

Marília me ignora e continua arrumando as minhas coisas, mas eu sou mais rápida e coloco a minha mão em cima da sua mala.

- Eu já disse que eu não vou - Repito novamente.

- E eu já disse que não me importo com o que você quer - Ela tira a minha mão - Você está pálida, suando frio, e com febre, você não está bem.

- Deve ser uma gripe - Invento uma mentira qualquer.

- Não é uma gripe, seu nariz e a sua garganta estão ótimos.

- Você me examinou?

- Lógico que sim - Ela grita comigo - Você chegou branca, pálida, e trêmula, dormiu a tarde inteira e ainda está com febre. O que você esperava? Um cafezinho da tarde?

- Eu não sou uma criança, Marília - Respondo no mesmo tom - Eu sei o que eu estou fazendo.

- E o que você está fazendo? Me fala, porque claramente está escondendo alguma coisa de mim.

- O que?

- Luísa me disse que você saiu da ONG mais cedo - Ela sussurra baixo - E chegou aqui quase três horas depois.

- Eu nunca te trairia.

- Eu nunca criei essa hipótese na minha cabeça - Marília fala passando a mão no meu rosto - O que aconteceu?

Eu queria contar para ela, mas o medo de machucá-la é muito maior, sei que a decepção só vem quando temos expectativas e quando estas expectativas são quebradas, e isso não pode acontecer.

- Eu disse que é só uma gripe - Falo tirando a sua mão do meu rosto - Está tudo bem.

Revenge (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora