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Pov Marília

A minha cabeça é como um guarda que não permite que eu estacione em local algum. Eu fico dando voltas e voltas no meu cérebro e quando encontro uma vaga para ocupar, o guarda diz: circulando, circulando . Você está me entendendo? Eu não tenho área de repouso. Raramente desligo, e quando isso acontece, não dá nem tempo para o motor esfriar.

Maraisa está deitada na maca, sua pele está voltando com a coloração aos poucos, sua boca voltando a ser avermelhada, mas ela não acordou ainda. Os médicos vieram e fizeram os exames nela, mas aparentemente ninguém sabe de nada.

Eu falhei como mãe dos meus filhos, falhei como esposa, eu não deveria ter deixado ela entrar naquela piscina, deveria ter trancado ela naquele quarto e impossibilitado de sair, deveria ter feito tudo diferente. Ela nem queria ir nesse maldito almoço.

Estou tão cansada de tudo, de não poder ver meu filho crescer em paz, de não poder me casar com o amor da minha vida de uma vez, e agora provavelmente não vou ver os meus filhos nascerem, porque tudo que tenho de bom nessa vida, só vem através da dor.

- Ela não acordou ainda? - A enfermeira pergunta entrando no quarto e eu nego com a cabeça - Tudo bem...

- Meus filhos estão bem?

- A placenta descolou - Ela continua - E os gêmeos estão na mesma placenta, são univitelinos, ou seja, vão ser dois bebês do mesmo sexo, idênticos.

Eu vou ser mãe de gêmeos idênticos, nunca imaginei isso na minha vida. A médica explica que ela vai ter que fazer repouso absoluto, ou seja, sem o Leo, sem a Isabela, sem poder pegar nada de peso e sem poder descer e subir as escadas, porque talvez a placenta dela não aguente. E ela está com uma possibilidade enorme de um aborto.

Maraisa demora bastante para acordar, e quando acorda, vomita, colocando toda a sua janta para fora. Fazendo eu limpar a sua roupa.

- Não faço ideia porquê você continua aqui - Ela sussurra, enquanto as lágrimas descem pelo seu rosto - Eu quase fiz você perder o Leo, e agora... perdi os nossos filhos.

- Está tudo bem, eles estão bem - Corrijo ela rapidamente - Eles estão bem.

- O que?

- A médica disse que eles estão bem...

Sei que mentir é a pior escolha, mas eu não quero ver ela entrando em dessespero, não quero ver ela chorando mais. Continuo limpando o seu corpo, eu precisaria dar um banho nela mais tarde, mas suas mãos estão furadas, para ela receber o remédio na veia.

A médica me autoriza a dar banho na minha esposa, já que ela estava totalmente cheia de vômito. Maraisa está com a cabeça deitada no meu ombro, enquanto eu dou banho nela, de baixo do chuveiro.

- Está molhando a sua roupa, Lila...

- Eu não me importo.

- Você está brava comigo? - Ela pergunta baixinho - Parece brava.

- Não, amor... eu só... tive muito medo de te perder.

- Você nunca vai me perder, Lila...

- Promete?

- Prometo, meu amor...

Tiro ela do banho e coloco outra roupa do hospital, as moças limparam o quarto, deixando ele cheiroso, para a minha esposa. Troco ela de roupa, e sento a minha noiva na maca, esperando eles liberarem a gente.

- Lila...

- Oi, amor...

- Você é a minha vida - Ela fala me olhando.

Revenge (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora