Capítulo #10

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BIANCA

Hoje era sábado, e no sábado a Jô costuma dar folga para algumas meninas, ela reversa em um mês inteiro um grupo folga no sábado e um no domingo. Eu estava limpando minha casa, uma coisa que realmente me acalma, e ontem a noite eu trabalhei até às duas da manhã, tô um bagaço, toda cansada, depois fui ajudar as meninas.

Baile aqui sempre tinha no sábado e aí até domingo, a música do lugar onde fica o baile da para escutar da  favela toda, não tem um lugar que você não escuta. É bem legal o espaço que fizeram para o baile. Lá encima tinha um terreno enorme com várias casas quase caindo, aí retiram elas e meio que ficaram um muro envolta, construíram meio que uma laje no canto do negócio, um lugar também onde fica a caixa de som, ou as caixas de som. É uma lugar legal, eles chamam de Baile no Alto.

Eu não fui em nenhum desde que cheguei aqui, nada contra sabe, eu adoro dançar. Funk? Principalmente, gosto de beber também. Mais quando eu comecei a trabalhar nisso meio que fiquei sem vontade de fazer nada, sem ânimo, não me sentia bonita vestindo o que eu gostava antes de trabalhar com a Jô, então eu tenho adiado o momento de ir curtir um baile.

Já faz um semana da festa particular, e eu ainda continuo pensando naquele sábado que eu transei com a Naty. Ela é surreal de linda, tem um estilo próprio e fica bem com tudo que usa, ela tem confiança no olhar e isso é atraente para um caralho. A pegada dela é diferente, é forte te faz sentir arrepio com uma simples puxada na cintura e um chupão no pescoço, a Mara dela e a boca suja deixa claro que ela não é uma pessoa no qual eu quero me envolver.

E esse é o problema, não sei se eu já falei isso mais, pessoas com a Mara e cara de mal sempre foram meus pontos franco, junto com as tatuagens e uma altura boa o suficiente para mim, um corpo musculoso mais sem exagero, e agora, ser mulher.

Já senti atração por mulheres antes, mais nunca tinha chegado ao ponto de admirar tanto uma, era simplesmente um beijo e só, não tinha realmente ido para cama com uma. Agora quando eu comecei a trabalhar aqui, transei com algumas mulheres além da Naty, mais nada que me deixase do jeito que ela deixou.

E isso é estranho porque ela não é diferente de nenhum cliente. Eu confesso que com os outros eu finjo gemer e nunca cheguei a um orgasmo, ninguém nunca reclamou, mais com ela Meu corpo é quase que dominado, ele ajé conforme ela querer, e isso é sim muito estranho.

Eu transo por dinheiro com ela, ela paga para ter meu corpo e eu não quero sentir prazer fazendo isso. Eu espero que ela não venha mais aqui, que fica com a mulher dela e eu volto a revirar os olhos de mentirinha.

Estava ajudando as meninas com a Faxina na casa, a Jô tinha saído e mandou todas dar uma geral na casa inteira. A Jade como sempre dava ordens achando que alguém ia seguir, algumas otárias até que íam na onda dela, eu tava bem longe fazendo meu trabalho tranquila, com um vestido até a coxa e chinelo esfregando a calçada da frente.

Ela tinha colocado uma música boa para tocar enquanto todas faziam alguma coisa ela disfarçava e não fazia nada, era uma preguiçosa de merda.

— Gente, todo mundo vai no baile hoje né - ela gritou mais alto que a música e eu nem prestei atenção nela, continuo esfregando a calçada - então nois vamos em bonde, quero todo mundo deixando a calcinha aparecendo em.

Ela entrou de volta na casa e eu dei risada, ela é doida e todo mundo sabe disso. A noção dela ultrapassa a idiotices, não gosto dela porque ela sempre me tratou mal e eu trato as pessoas conforme elas me tratram.  A Jade sempre quer ter a atenção para ela, ela humilha o corpo de alguma menina achando que tem o direito de fazer isso, como se ela fosse a única mulher gostosa da fase da terra.

Eu não abaixo minha cabeça para ela não, nunca, quando ela vem falar coisa do tipo para mim eu já logo corto o papo dela e saiu rapidinho, minha paciência é curta para pessoas como ela, e eu sei que em algum momento a gente ainda vai sair no tapa.

—  Essa garota acha que sempre tá arrasando né? - a Larissa falou baixinho perto de mim e eu dei risada enquanto continuava a esfregar o chão - As vezes eu sinto vergonha por ela.

— Ela escolheu o estilo de vida dela né amiga, prefere ser uma sem noção em todos os momentos - dei de ombro - problema é dela, eu só espero que a implicância que ela tem comigo acabei logo, se ela continuar com isso, em algum momento a gente vai se bicar.

E eu sinceramente, espero que isso não aconteça. Eu odeio brigar e ainda mais por um motivo idiota que ela mesma criou na cabeça dela, eu fico na minha, não falou muito com ela e é isso, porque porra ela não faz o mesmo?

Mas é isso, por enquanto eu só tô deixando ela falando sozinha e fugindo dessa garota, não quero problemas.

— Você não vai mesmo no Baile? - neguei com a cabeça - Porque amiga? Vai ser muito bom, e você precisa sair um pouquinho daqui, fazer alguma coisa diferente.

— Não dá Let, eu tô com a cabeça fervendo e sem vontade de fazer nada. Quem sabe no próximo eu esteja mais animada, hoje eu não vou não - ela concordou fazendo um biquinho.

Sei que a Letícia mesmo não me conhecendo muito, quer meu bem, ela é aquele tipo de pessoa que se preocupa com todo mundo, se alguém chora na frente dela ela já pergunta o que aconteceu e tenta ajudar a pessoa, é uma mulher maravilha. Ela me contou que sempre foi muito sozinha, que foi criada pelos tios porque os pais não queriam uma responsabilidade tão grande, que era ter um filho.

Ela é uma mulher como eu, forte e que busca ter uma vida que merece, eu admiro ela.

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