Capítulo #24

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BIANCA

Sexta feira tava mais para um domingo, aquele tipo de dia preguiçoso. Ontem eu fiz vários programas fora da comunidade e eu tô morta, pegar ônibus era uma merda no horário que eu terminei.

Resolvi ter um descanso, não atendi a ligação da Jô e da jade, pouco me importava se ela me queria lá hoje, eu não iria e talvez amanhã eu não vou, elas não sabem onde eu moro além da Letícia então tô tranquila.

Acordei hoje com uma mensagem da Naty, me chamando para sair a noite, nem acreditei né, fiquei nervosa também porque meu coração pulou uma batida e porra, isso é ruim. Eu sei que eu posso estar sendo boba em colocar meus traumas na frente de qualquer felicidade mas porra, eles são um meio de proteção para mim.

E eu também posso estar pensando muita merda, a Naty não parece do tipo que queria um relacionamento, ainda mais com o tipo de vida que eu levo, essas pessoas geralmente são bem possessivas, sei lá. Talvez eu só esteja pensando demais, ela só quer transar comigo e ter algumas "amiga" onde pode sair e comer, foda-se eu prefiro que seja assim.

Assim a nossa relação não se torna confusa, ela já me disse varia vezes que só eu queria curtir comigo, e eu estendi oque ela quiser diz. O curtir da Naty era um forma de resumir " eu quero transar com você sem você pensar que estamos tendo alguma coisa parecida com um relacionamento" e o mais foda nisso e eu só penso nisso.

E agora ela me chama para sair. De novo, talvez eu só esteja pensando demais, a Naty disse assim na mensagem:

" Sem caô Bianca, bora sair comigo eu te pago um lanche, uma cerveja, Eai? "

Isso é uma mensagem te convidando para sair, tipo um encontro ou é só uma mensagem com segunda intenção depois do lanche? Para mim, é a segunda opção.

Mas eu sou boba, eu gosto dela gosto do sexo com ela, aquela pegada, aquele corpo cheio de tatuagem, a carinha fechada a boca suja, porra ela era incrível. Eu já transei com várias pessoas nesses últimos meses, com algumas eu até repetir como um cara chamado de pavê, eu nem gosto de lembrar.

Antes de conhecer a Naty eu tinha um bloqueio, eu não consegui sentir prazer em me "vender" então eu não conseguia gemer na hora de atender um cliente, a Jô me disse que eu precisava pelo menos fingir isso porque eles gostavam, então eu comecei a fingir gemer e fingir gostar daquela merda.

Aí aparaceu aquela esquentada maluca e que conseguiu me  deixar a vontado, quando eu gemi sem querer, foi até que assustador.


@Byaah

Nem lembro a última vez que postei uma foto, fiquei sem legenda até, não sabia oque escrever. Eu tenho certeza que conheci a me arrumar umas sete e meia da tarde, já eram nove e meia e eu ainda tô aqui, ela não me mandou mensagem nenhuma, então nem sei se ainda tá de pé.

Sentei no meu sofá passando meu batom e colocando no bolso, tentava não pensar muito na mensagem dela mais toda hora olhava o celular e nada. Fiquei esperando por mais de trinta minutos até que escutei uma buzina na frente de casa, levantei em um pulo fui até a Janela e vi o carro dela lá, arrumei meu vestido, meu cabelo e sai de casa.

— Pô branquela, desculpa aí não ter avisado - ela falou assim que eu entrei no carro, o olhar dela desceu para meu vestido e me deu um sorriso - Porra Bianca, tu tá gata pra caralho.

— Brigada, você também - ela se aproximou de mim me dando um beijo na bochecha e beijando até meu pescoço, ela chegou na minha boca e eu dei risada afastando o rosto dela - eu tô com fome você vai me levar pra onde? - ela nem deixava eu falar, beijava a minha boca até que eu beijei ela de volta e ficamos assim por alguns minutos.

— Bora pô, bora senão nois nem vai mais - dei risada e me ajeitei no banco deixa minha bolsa na minha coxa, ela ligou o carro e começou a gíria pela favela. O som do carro dela tocava poze e eu só cantando, a gente não conversou muito, acho que pelo caminho ser curto..

Dei a primeira mordida no lanche cuidado para não parecer feia comendo. Eu tinha me arrumado toda bonitinha, cheirosa e óbvio que não ia fazer feio comendo, ela por outro lado nem ligava muito, comia igual dragão, o foda era que continuava linda.

— Tá doido, aquela lá mas me enlouquecia do que tava comigo - acabei perguntando um pouco sobre a vida dela e o assunto chegou na parte onde eu menos queria falar hoje a noite, ex's - Tô mas tranquila sem ela, e agora que a filha da puta saiu daqui e fez aquela merda comigo, não vou ver ela tão cedo, mais também não vou me esquecer.

— Você vai atrás dela? - ela tomou a coca e eu esperei a resposta.

— Não - ela me olhou seria e ali eu vi como a Naty tinha suas várias faces, aquela sorridente que aparece quase sempre, a mais séria que é ela a todo momento e essa que a Naty criminosa, que não tem ponto fraco e que faz tudo oque quer, vingativa principalmente, essa me dá um pouco de medo ainda - E só ela achar que eu não vou fazer nada, a parada sempre acontece assim.

Eu prefiro não saber muito sobre esse lado dela, acho que não faz parte da minha vida e mesmo a gente começando a se conhecer isso não tem a haver comigo, então eu prefiro mudar de assunto.

— Se não quiser falar tudo bem tá? - ela me olhou e concordou com a cabeça - Na sua família, é só você?

— Não pô, tem meu pai só que ele caiu prós polícia a uns cinco anos, eu acho, tô assumindo a favela no lugar dele até  ele sair - concordei - mãe mesmo eu não tenho, morreu quando me teve.

— Que foda - ela deu de ombro.

— Sei lá, nunca nem vi a cara da mulher - comi meu lanche mas não tive o olho dela - a única coisa que eu sei é que ela morreu por minha causa, o pau que eu tenho sempre deu problema pra ela, desde que me tinha na barriga, aí quando eu fui nascer, deu muito merda.

— A culpa não é sua, não fala isso - ela meu a coca.

— Eu não penso muito nessa merda também, não é um bagulho que me deixa triste saco? Aconteceu, e já era.

— A minha mãe tá viva ainda em algum lugar com meu pai, acho que não tenho contato com eles desdos meus quinze, acho que nunca mais vou ter também - dei de ombro - eles simplesmente cagaram pra mim.

— Pô morena, nosso destino tava troçado, só pais de merda - dei risada, não vendo o sentido no que ela falou - tá bom o lanche?

— Uma delícia - mordi mais um pedaço e ela fico me olhando com uma cara estranha - oque?

— Queria ser ele agora papo reto - dei uma gargalhada jogando a cabeça para trás e ela um sorrisinho, acabei derrubando um pedaço do mão na mesa, tipo caiu da minha boca, morri naquela momento - porcona aí.

— Para foi sem querer - agora ela riu, me vendo toda cheia de vergonha.

Eu não queria, mas a Naty me faz quer dar mais uma chance para algum tipo de relacionamento. Eu tinha uma ideia na cabeça e ela tá aos poucos tirando isso de mim, eu ainda tenho medo, mas tenho mas medo ainda de deixar alguém maravilho passar pelo meu passado, e isso é foda demais.

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