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Ela chegou acompanhada pelo marido em mais um jantar de negócios. Sorriu e se comportou como a mulher que se preparou para ser: a mulher troféu que ele precisava manter ao seu lado. Era bonita, gentil, muito bem-educada, só falava quando necessário e sempre mantinha um sorriso nos lábios. Seus amigos tratavam-na como uma dama e invejavam o que viam diante de todos.

Naquela noite, tudo corria bem, era apenas mais uma entre tantas outras, mas Camila viu algo que a tirou dos eixos. Pela primeira vez, não sabia o que fazer. No entanto, sendo quem ela era, tomou todo o líquido que havia em seu copo, encheu-se de coragem e foi atrás de sua amiga.

- Preciso que venha comigo. - Interrompeu a conversa que Victória estava tendo com Jerônimo e Soraia.

- Olá, Camila! - Não deu importância ao seu tom angustiado. - Deixe-me te apresentar...

- Depois você me apresenta. - A interrompeu novamente. - Agora vamos! - Segurou seu braço e saiu praticamente puxando-a.

- Camila!.. O que aconteceu com você? - A seguia enquanto tentava recuperar seu braço.

- Victória. - Parou e olhou para a amiga. - Não sei como te dizer isso. - Tentava controlar seus impulsos.

- Bem, você praticamente me obrigou a vir aqui. Agora fale! - Abriu a porta do banheiro que estava logo ao lado, e entrou.

- É que não é algo muito bom. - Também entrou e verificou se havia mais alguém no banheiro.

- Do que se trata, Camila? - Aproveitou que estava ali para retocar seu batom.

- É sobre Henrique. - Respirou fundo.

- O que tem ele? - Perguntou sem olhar para ela.

- Acabei de vê-lo... beijando outra mulher. - Soltou sem jeito.

- Henrique? - Franziu a testa e a observou através do espelho.

- Sim!

- Não pode ser! - Negou também com a cabeça e guardou o batom na bolsa.

- ... - Camila se manteve em silêncio, mas seu olhar entregava tudo. Revelava a amiga que ela sempre foi. Mesmo sendo meio louca, Victória sabia que não havia motivo para a amiga inventar algo assim.

- Não sabia se deveria te contar. - Caminhou de um lado para o outro. - Ainda mais aqui. Mas se fosse comigo, eu gostaria de saber. E se não falasse agora, provavelmente não falaria nunca. - Se justificava.

- Deveria aprender a manter a língua dentro da boca. - Disse depois de um tempo, tentando assimilar o que ouviu. Tentando organizar as lembranças que vinham à sua mente.

- Eu sei!

Victória se olhava no espelho e não se reconhecia. Estava experimentando sentimentos diferentes.

Depois de um longo suspiro, ela segurou firmemente em sua bolsa de mão e saiu dali. Iria pedir para ir embora e confrontar o marido, mas ao chegar na sala o viu conversando com Tatiana. Os dois conversavam e sorriam, ao mesmo tempo em que trocavam olhares de flerte.

Ela os observou por alguns instantes e imediatamente soube que era ela. Soube a razão de suas viagens e do trabalho até tarde, afinal, Tatiana trabalhava para ele.

- Se quiser, eu te ajudo a resolver essa situação. - Camila sussurrou. - Prometo que ninguém vai desconfiar de você! - Falou convencida do que dizia.

- Camila. - Olhou para a amiga.

- Sim! - Respondeu atenta.

- Eu quero ficar sozinha. - Pediu, com calma, como se falasse com uma criança, e saiu dali a passos largos.

VICTÓRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora