Capítulo 35

1.2K 96 17
                                    

Alicia Medeiros 

Dois dias depois. 

Hoje é o dia em que eu mais esperei nós últimos anos, lutei tanto para que ele chegasse que nem acredito que finalmente tô aqui hoje, finalmente chegou o dia em que eu vou de fato me formar, ter meu diploma em mãos, finalmente poder dizer que sou tudo aquilo que sonhei. 

— Bom dia meu bebê — a porta do quarto é aberta e os dois passam por ela, meu pai segurava uma bandeja repleta de coisas gostosas e minha mãe um buquê lindíssimo de rosas vermelhas. 

— Bom dia — respondo me sentando e dando espaço para eles se juntarem a mim na cama. 

— Como você dormiu hoje meu amor? — minha mãe pergunta sorridente. 

— Muito bem — fiquei ansiosa, na verdade quase não dormi. 

— Então come por que você tem muito o que fazer hoje — fala animado — Ir no salão, arrumar o cabelo, as unhas e todas essas coisas que mulher faz e que demora horas.

— Por falar nisso — minha mãe senta mais próximo — Procurei na internet e encontrei um salão ótimo pra gente poder se arrumar e o melhor de tudo é bem pertinho daqui.

— Mãe, eu disse que vou me arrumar no Vidigal, em um salão lá — vejo ela revirar os olhos.

Contei pra ela que iria me arrumar no morro, até a convidei pra ir comigo mas ela não quis e não gostou muito da idéia.

— Alicia eu não entendo o motivo de você preferir se arrumar com uma pessoa que você não conhece, não sabe como trabalha.

— Você conhece a dona desse salão onde marcou?

— Não mas vi alguns comentários no Google e são todos elogiando o trabalho dela.

— Eu já tinha marcado com a Mônica e você sabe disso, não vou desmarcar — afirmo.

— Filha por qual motivo você vai sair daqui do lugar onde mora pra ir até aquele lugar — o modo como fala me incomoda.

— Mãe, por favor — retiro a bandeja do colo e coloco na cama — Não começa de novo.

Ontem foi uma briga por conta da mesma coisa, falei que iria me arrumar em um salão no Vidigal e isso foi o suficiente pra ela listar mil motivos para eu não ir até lá.

— Filha aquele lugar não é lugar pra gente como você andar.

— Luiza — meu pai tenta falar.

— Não Mário, Luíza nada — nega quando ele tenta acalmar ela — Eu não criei filha minha pra ficar subindo favela, pra ficar no meio daquela gente, com aquele tipo de amizade que ela fez

— Que gente? — me viro furiosa — Que tipo de gente, mãe?

— Nunca deveria ter deixando você sair de Friburgo, Alicia — se levanta da cama e nega com a cabeça — Nunca — a voz sobe um oitavo — Por que olha só onde você se enfiou depois de sair das minhas vistas.

— Você não iria me prender lá, você sabe que eu não iria abandonar meu sonho por que você não queria que eu saísse das suas asas — respondo seria.

— Ei vocês duas — o tom dele nos faz calar a boca — Acabou, podem parar — olha pra mim e depois pra ela — Luiza espera lá fora que eu vou conversar com ela — ela nega — Luiza, por favor — ela não diz nada, apenas saí do quarto e puxa a porta — Filha — tenta se aproximar.

— Não — nego — Dessa vez não, eu não vou aceitar ela falar das minhas amizades, não vou aceitar ela ser preconceituosa com as pessoas por conta da classe social delas, eu não vou aceitar ela falar que eu sou melhor do que ninguém, eu não sou, ela não é, ninguém é.

Válvula de escape - [M].Onde histórias criam vida. Descubra agora