Capítulo 42

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Alicia Medeiros ✨

Dias depois.

Me pego olhando o porta retrato com a nossa foto, eu, ele e minha mãe. Era o meu aniversário de quinze anos e eu usava um vestido lilás de alças finas e várias camadas de tule, era bonito mas eu nunca usaria aquilo de novo, continuo olhando para a foto e me recordando de vários momentos daquele dia. Minha mãe usava um vestido rose estilo ciganinha deixando o colo exposto, e o meu pai um smoking azul marinho que ele mesmo escolheu, ele dizia que queria ficar bonito para os meus convidados e ele estava, mas também estava engraçado por que não teve muito foi a quadra nenhuma prova de roupa e no final ficou um pouco apertado.

Derramo uma lágrima sentindo a saudade me atingir mais uma vez, iria completar três semanas que tudo tinha acontecido.

O funeral dele foi no dia seguinte em Friburgo, fui com a minha mãe, Teff também não me deixou sozinha naquele momento, TH mesmo correndo alguns riscos acompanhou ela. Foi doloroso me despedir dele, foi difícil receber tantos abraços e me sentir sozinha, foi complicado ver que depois daquele bendito dia eu nunca mais iria ver ele, a não ser assim, em fotografias antigas.

Quando decidi que era a hora de voltar minha mãe entendeu. De início achei estranho mas entendi que ela também precisava do tempo dela e então eu vim.

Me viro mais uma vez na cama e agora fico de frente para a janela do meu quarto, observo o sol nascendo mais uma vez. Ainda tenho dificuldades pra dormir, as vezes consigo cochilar mas sempre acordo assustada e essa noite foi mais uma das que eu passei com os olhos bem abertos.

No hospital me deram até o final dessa semana para me reestabelecer e voltar a trabalhar e eu quero conseguir, mas parece que tem algo que me prende nessa cama, que me segura aqui e não me permite viver mais. E enquanto eu não consigo sair disso, fico aqui observando as nuvens que apareciam junto com o sol.

O barulho do meu celular tira toda minha concentração, busco ele em cima da mesa de apoio ao lado da minha cama e vejo as mensagens da Teff.

Teff 💚: bom dia, como você está?

Teff 💚: precisa de alguma coisa?

Teff 💚: Quer que eu vá pra sua casa?

Decido não responder agora e devolvo o celular pro mesmo local que estava antes, mas ouço o barulho dele tocar assim que solto na mesinha, posso apostar que é ela mas olho e vejo o nome da Júlia na ligação, respiro fundo e me sento na cama, deslizo o dedo sob a tela atendendo a ligação.

— Oi — falo.

— Oi Alicia, desculpa a hora mas eu precisava muito falar com você — o tom de voz denuncia a euforia.

— Pode falar.

— Sei que não é um bom momento e sei também que você esta afastada até o final da semana mas aconteceu uma coisa e — pigarreia — Eu acho que só você pode ajudar a gente.

— O que aconteceu? — me levanto e sigo até a janela, abro ela e sinto o vento gelado me atingir.

— Estamos com uma paciente, ela não tem identificação mas eu acho que ela pode ser aquela garota que você atendeu a algum tempo e suspeitou de agressão sexual — respiro fundo quando me lembro da garota — Ela está aqui e ela não quer conversar com ninguém mas pediu pra falar com você.

— Maria Cecília — murmuro o nome da garota me lembrando dela imediatamente, loira, magra com os olhos castanhos.

— Como? — pergunta não entendo o que eu disse.

Válvula de escape - [M].Onde histórias criam vida. Descubra agora