PRÓLOGO

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Caio Coimbra (Deco) ⚡

Março, 05:40am.


A voz do Silva ecoou pelo quarto escuro através do rádio me acordando, busquei o mesmo na mesinha de apoio do lado da cama e trouxe próximo a boca.

— Qual foi? É cedão e vocês já tão infernizando a minha vida caralho.

— Vem pra base, os filha da puta tão tentando subir e você ta ai tirando soninho da beleza é sub dessa porra pra ficar de enfeite por acaso? — pelo tom de voz sei que ele tá furioso.

— Cinco horas da manhã? esses filhas da puta não dormem não?

— Não, esses pau mole não tem uma mulher em casa pra foder.

— Tô subindo, marca dez.

— Só não morre no caminho — ele zomba.

— Tenho cara de quem morre pra PM de bosta?

Soltei o rádio, passei a mão no rosto a fim de focar minhas vistas olhei pro lado e pude enxergar o corpo escultural da loira deitada ao meu lado, dormindo feito um anjo.

Nem parece que acordada é mais surtada que o capeta.

Ontem mesmo bateu na minha porta gritando por ter me visto trocando um papo com uma mina no bar. Surtou, gritou, xingou e acabou sem roupa na minha cama, como todas as outras vezes.

Depois de perder a minha mãe não me considero uma pessoa com muitos pontos fracos, mas infelizmente essa loira maldita pode ser considerado um deles sim. Meu rolo com a Letícia é um caso complicado, namoramos e depois de anos ela me veio com um papo de que precisava de um tempo, aceitei, afinal não sou homem de obrigar mulher nenhuma a ficar comigo, mas também não fiquei atrás, ela não quer? Tem quem queira. Ela diz que não quer nada sério mas também não termina as coisas definitivamente.

Famoso não fode e não saí de cima, só que comigo ela fode, sai de cima e depois volta.

Levantei da cama, fui direto pro closet e vesti uma roupa, puxei as outras que estavam no cabide e abri o fundo falso do armário onde guardava dois fuzis, joguei um nas costas e me mandei. Passei pela loira e pensei em acordar ela mas Leticia é cria da favela igual a mim, tá ligada em como tudo funciona por aqui.

E também sempre ficam dois soldados ai no portão, nunca se sabe quando esses filha da puta vão dar as caras e é sempre bom estar preparado e protegido. Montei na hornet e fui a milhões pra casinha, sempre de olho nas ruas mas pelo visto os vermes ainda não conseguiram chegar aqui em cima.

Chegando lá encontrei TH, Santos e o Pedrinho segurando o Silva que gritava mandando eles saírem da frente dele mas nenhum obedecia.

— Que porra é essa aqui?

— Caralho Deco, manda esse pivete sair da minha frente antes que eu gaste munição na cabeça de aliado.

— Vai estourar a cabeça de ninguém, cadê a postura?

— Porra de postura, esses filha da puta tão tentando subir no meu morro e esses comédia tão achando que eu vou ficar de braços cruzados? Não vou mesmo.

— Nosso, tu não é dono dessa porra sozinho não — falo calminho — Os moleque tão na frente lá embaixo e a gente vai dar apoio daqui de cima.

— Quem vai tá na linha de frente dessa vez sou eu porra — ele grita mais uma vez.

— Os cara tão querendo tua cabeça e tu vai descer, tá maluco mesmo né caralho.

— Esses filha da puta vão ter que aprender a mastigar água pra tomar meu morro menor, vocês tão achando que eu vou entregar minha favela pra uma dúzia de pau murcho? — ele gargalha ironizando — Nem fodendo, podem me prender, podem até me matar mas na minha favela eles não vão subir.

Válvula de escape - [M].Onde histórias criam vida. Descubra agora