Quebrada

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Enid conferiu os pneus da sua bicicleta e os freios mais de uma vez antes de montá-la e sair pedalando apressada pelas ruas da pacata cidade de Jericó. O clima estava frio, o inverno estava chegando e uma fraca neblina pairava no ar e envolvia as verdes árvores dos bosques por onde passava a estrada. Ela amava o cheiro de pinho que exalava das árvores. O colégio novo ficava a trinta minutos de casa, mas adorava pedalar e não via o tempo como um inimigo.

A estrada estava deserta, não havia muitos carros àquela hora da manhã. Enid olhou para o horizonte a sua frente e fez uma prece para que aquele ano escolar fosse tranquilo, que ela continuasse invisível para os populares e distante de confusões, mas algo dentro dela gritava que isso não seria possível.

A garota cruzou a avenida e subiu a calçada da escola, desceu e empurrou sua bicicleta até o espaço onde outros alunos guardavam suas bikes. Jogando a mochila nas costas ela respirou fundo, arrumou os cabelos loiros com pontas rosa e azul e andou em direção ao prédio de pedras cinzas, mas antes de chegar à entrada um barulho vindo da lateral da construção lhe chamou a atenção. Ela sabia que deveria deixar para lá, mas assim como a sensação de mais cedo de que aquele ano não seria tranquilo, ela sentiu que precisava ir até lá.

Risos e insultos foram ouvidos antes dela se aproximar e ver os cinco rapazes cercando alguém. A garota apertou o passo e gritou com eles.

- Ei!

Todos pararam e olharam para ela deixando a pessoa que estava sendo acuada jogada no chão.

- O que estão fazendo seus babacas?

Um rapaz ruivo e cheio de sardas que parecia ser o líder daquele bando riu e se aproximou a examinando como um predador.

- Novata – disse depois de inspirar como se sentisse seu cheiro.

Os outros quatro riram e o ruivo tirou algo do bolso da jaqueta e o empurrou contra o peito da garota. Ela cambaleou para trás e segurou o pequeno cartão preto com letras vermelhas cintilantes que diziam "Corrida dos Excluídos".

- Isso é algum tipo de convite para uma balada? – perguntou a garota.

- Qual o seu nome novata? – perguntou o ruivo.

Ela pensou em não responder ou mentir, mas só queria acabar com aquilo.

- Enid – respondeu.

- Enid. Isso é o seu passe para nosso trote anual. Você e a donzela ali – disse o ruivo apontando para a garota no chão – Serão uma das duplas. Conversem um pouco. Acredito que ela vai adorar te explicar no que se meteu.

- Não vou participar de trote algum seu idiota – respondeu Enid.

- Ohhh! O bicho novo é atrevido pessoal! – disse o ruivo – Você vai sim, caso contrário...

Um dos rapazes chutou a garota no chão tão forte que ela gemeu.

- Ei! Isso é agressão!

- Me prenda! – exclamou o valentão que chutou a garota.

- Se recuse e nós faremos pior.

Rindo em escarcéu os cinco deixaram Enid confusa e foram embora. Ela bufou guardando o cartão no bolso da calça e se aproximou da garota para ajudá-la.

- Eu só queria um ano de paz – comentou Enid.

A garota, que era mais baixa do que ela, usava uma maquiagem pesada e roupas pretas, apanhou suas coisas do chão e limpou o sangue do corte no rosto.

A corrida dos Excluídos - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora