Realidade

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Divina se espreguiçou na cama ouvindo leves passos pelo quarto. Esfregando os olhos viu com sua visão ainda turva, uma figura de costas de pé, mas não a identificou.

- Bom dia, dorminhoca - disse a figura.

- Bom dia - ela respondeu distraída - Dia? - exclamou de olhos arregalados vendo agora com clareza Yoko se arrumando em frente ao espelho - Ai meu Deus! Já amanheceu - disse saltando da cama ouvindo a risada da namorada - Meus pais vão me matar!

- Eles só ligaram umas duas mil vezes. Tive que desligar seu celular - falou Yoko na maior tranquilidade enquanto Divina pegava o aparelho - Mas a polícia, o FBI, a Interpol e até o CSI devem estar te procurando nesse momento - completou virando-se para a garota aflita que a encarava de cenho franzido - O que?

- A polícia forense não procura desaparecidos e o FBI já teria derrubado sua porta.

Yoko revirou os olhos e riu.

- Sua nerd.

- Não ria! Provavelmente ficarei de castigo até fazer dezoito anos. Serei mandada para um internato religioso no fim do mundo.

- Não se preocupe - Yoko respondeu tomando o celular das mãos dela - Pedi ao meu pai que ligasse para sua casa.

- Pediu?

Yoko assentiu.

- E ele conversou com seu papai careta.

- Ah meu Deus. O que eles conversaram?

- A verdade.

- A verdade Yo? - Divina gritou apavorada.

- É. Que você chegou muito nervosa e ele e a mamãe acharam por bem que dormisse aqui. Sabe como esse mundo anda violento.

- Só isso?

- Sim. Seu pai aparentemente ficou de boa.

Divina soltou um suspiro de alivio e bateu no braço dela.

- Não me mata de susto.

Yoko riu e a abraçou pela cintura.

- O que estava pensando? Que meu pai contaria sobre nós duas? Ainda por cima pelo telefone?

- Sim, pensei.

- Não seja boba. Isso é assunto nosso - Yoko respondeu fazendo um carinho no rosto da menina - E eu não deixaria seu pai te mandar para o internato cheio de fanáticos religiosos. Te roubaria de lá.

Divina a abraçou forte fechou os olhos.

- Obrigada.

- Relaxa.

- Isso ainda vai ter consequências, Yo. Não sei quais, mas vai ter. Meus pais não ficam de boa.

- Eu sei e nós vamos passar por elas juntas, ok? Você não está sozinha.

A menina assentiu sorrindo.


A introdução de Trip The Darkness do Lacuna Coil ecoou alto dentro do quarto.

Wednesday acordou sobressaltada tentando afastar os fragmentos dos sonhos e colocar os pés na realidade. Piscou diversas vezes para buscar foco e olhou ao redor. Não estava num show como seu cérebro imaginou, mas sim no seu quarto.

A música continuou a tocar orientando-a onde seu telefone estava. Esticou-se para pegar o celular no criado mudo ao lado da cama e o atendeu sem nem ver quem estava ligando.

- Alô? - disse sonolenta esfregando os olhos.

Tinha ido para a cama muito tarde. Ela, a mãe e a avó ficaram conversando até altas horas sobre a melhora de Enid e tantas outras coisas. Estava morta de sono.

A corrida dos Excluídos - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora