Presente

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As palavras de Alice martelaram na cabeça de Enid enquanto ela pedalava em direção à clínica de fisioterapia. Mesmo sabendo que Alice não era confiável ela não deixou de se sentir usada por Wednesday. Enid sentiu um sentimento estranho tomando conta de si e só depois entendeu que era mágoa e de alguma forma traição. Como Wednesday podia fazer aquilo? Ela só estava a ajudando desde o primeiro dia que se encontraram. Não era justo com Enid.

- Sou uma burra mesmo! - exclamou a menina entrando na clínica pisando forte.

Amber estava na recepção assinando os portuários de seus pacientes no balcão e percebeu a mudança no humor da garota só de olhar para ela.

- Enid, qual o problema? - perguntou a médica.

- Nenhum - Enid respondeu se jogando na cadeira acolchoada da sala de espera.

Amber deixou os papéis e foi até a moça sentando ao seu lado.

- Eu te conheço muito bem para saber que essa cara emburrada é alguma coisa.

Enid fitava o chão tentando domar a raiva que queimava no peito.

- Alguém te fez mal na academia?

- Não.

- Está sentindo alguma coisa?

- Não.

Só raiva!

- Então o que foi?

- Acho que a Wed está me usando - Enid respondeu levantando o rosto e encarando a amiga.

- A garota que vai se apresentar com você?

- Sim.

- Não estou entendendo - disse Amber com uma cara confusa para fazê-la se abrir.

- É que vieram me contar que ela só me deixou se aproximar por interesse. Que ela só está me usando! - Enid contou irritada.

- Enid, entendo que esteja se sentindo magoada, mas me contaram não é uma fonte segura. Pelo que a Sofia e você me falaram dela... A Wednesday é uma pessoa retraída demais que não se expõe e eu sei que isso não lhe dá o direito de brincar com as pessoas, mas... Converse com ela antes de crucificá-la, ok? Deve haver uma boa justificativa ou pode ser mentira. Apenas converse com ela.

Enid continuou encarando Amber.

- Olha, as pessoas introvertidas como ela têm muita dificuldade em socializar e interagir com as outras. Se Wednesday está se aproximando de você não pode ser fingimento.

Enid lembrou-se da ligação de Wednesday na outra noite.

- Ela me agradeceu por fazê-la rir - contou pensativa.

- Viu só? Acha que ela mentiu quando disse isso?

- Não. Ela me pareceu sincera.

- Está aí à resposta, Enid. Apenas converse.

A menina sorriu para a médica e assentiu.

- Você tem razão. Me desculpe, estou sempre jogando minhas merdas em você.

Amber gargalhou mostrando as covinhas nas bochechas.

- De maneira nenhuma. Sabe que adoro conversar com você - Amber disse ficando de pé.

- Já pensou em ser psicóloga? - Enid perguntou se levantando.

- Você me deu uma grande ideia - respondeu a fisioterapeuta passando a mão por cima do ombro da menina - Quem sabe eu não faço outra faculdade?

- Já teria uma cliente fixa.

Mesmo conversando com Amber, Enid não conseguiu dormir bem naquela noite. Ficou virando de um lado para o outro na cama pensando em como abordar Wednesday sem ser rude ou nas mil possibilidades dela mentir, por fim dormiu de cansada.

A corrida dos Excluídos - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora