Capítulo 5: Alergia a amendoim.

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Nicholas abriu a porta e me deu espaço para entrar, em um pequeno corredor que dava para uma sala enorme e do outro lado, uma cozinha. Na frente do corredor estava a escada que dava para o segundo andar. Tudo parecia extremamente limpo. Estou estranhando porque já estive em casas em que universitários dividiam e, acreditem, não é tão organizada e limpa como essa aqui.

—Aquela porta ali da pra lavanderia e pra garagem. —Nicholas indicou a porta na lateral da cozinha. —Cada um aqui tem seu armário na cozinha, sua prateleira na geladeira e cada um faz sua comida. Achamos que era melhor e mais organizado assim. Dá certo, então...

Ele soltou a mala, indicando um quadro de aviso de tom branco grudado na parede do corredor, com uma caneta preta presa ao lado. Haviam algumas coisas escritas ali. Muitas coisas, na verdade.

—Como moramos em 7... agora 8, costumamos escrever ali alguns avisos pra geral ver quando chegar. Tipo se você tiver prova no meio da semana e precisar de silêncio pra estudar. Todo mundo olha quando chega, então você só precisar anotar ali. Se tiver alguma reclamação ou problema na casa, também pode anotar ali. Temos um grupo no celular também. Vou por você depois. —Nicholas explicou, enquanto eu balançava a cabeça afirmativamente, abraçando minha mochila. —Festas são proibidas, a não ser que todos sejam avisados e todos concordem com ela. Caso contrário, nada de festas surpresas.

—Tudo bem. Eu nem tenho tempo pra festas. —Falei, vendo ele pegar minha mala e puxar escada a cima.

—Você tem alergia a alguma coisa? Cada um faz a sua comida, como eu disse. Mas as vezes alguém trás algo pra todo mundo e é sempre bom saber o que a pessoa pode ou não comer. —Eu segui ele pela escada, até estarmos em outro corredor cheio de portas.

—Eu tenho alergia a amendoim. —Falei, lembrando de todas as vezes que passei mal e fui parar no hospital por ter comido amendoim sem querer.

—Serio? O Steven também tem, mas ele esqueceu de avisar isso pra gente. —Nicholas caminhou até a última porta do corredor. —No ano passado a Jane trouxe uns cupcakes pra todo mundo e tinha amendoim na cobertura. Steven comeu uns 4 e quase matou todo mundo do coração.

—Ele ficou bem? —Indaguei, percebendo as plaquinhas que haviam em cada porta ali.

—Sim, foi só um susto. Mas não se preocupe, desde então amendoins estão proibidos nessa casa. —Afirmou, entrando no quarto e soltando minha mala perto da cama. Era um quatro grande até, com uma cama de casal perto da janela que dava para frente da cama. Uma cômoda e um armário e a porta que dava para o banheiro. Era o suficiente pra mim. —Esse é o seu quarto. Pode mudar tudo de lugar se quiser e decorar como quiser também.

—Tudo bem. É perfeito. —Abri um sorriso fraco, sentindo um certo desânimo por lembrar que havia dormido no sofá da livraria ontem. Ou quase dormir, porque eu passei a maior parte da noite chorando por causa do meu pai.

—Certo, vem, vou te apresentar o pessoal. —Ele chamou, saindo do quarto. Soltei minha mochila e o segui, vendo ele parar na frente de uma das portas que tinha uma placa de madeira com os nomes "Jane e Bryan". —A gente mandou fazer e colocou em todos os quartos, pra ninguém se confundir ou bater na porta errada quando fosse procurar alguém. Vamos fazer um pro seu agora.

—Não precisa se incomodar... —Ele me ignorou, batendo na porta com certa força demais.

—Quê que é? —A porta se abriu com tudo, revelando um rapaz loiro com um moletom de um time de futebol americano e uma expressão séria que se desfez em um sorriso. —Ah, oi, irmão. Pensei que era o Steven.

—E você tá evitando ele? —Nicholas indagou, erguendo as sobrancelhas.

—Sim, porque o Cruel entrou no quarto e dormiu dentro da minha gaveta de cuecas que estava aberta e elas ficaram cheias de pelos! —Exclamou, fazendo Nicholas soltar uma gargalhada, enquanto eu tentava entender quem era Cruel. —E eu tentei falar pro Steven deixar ele preso no quarto dele e ele teve a cara de pau de dizer que eu estava ofendendo o gato e que a casa também era dele! Você entende como isso é idiota?

—Prefiro não me envolver. —Nicholas declarou, se virando pra mim. —Bryan, essa é a Catalina, nossa nova inquilina. Lina, esse é o Bryan.

—Ei, bem-vinda ao casarão, Lina! —Bryan abriu um sorriso. —Uma dica, mantenha a porta do seu quarto fechada se não quiser que suas roupas fiquem cheias de pelo de gato.

—Cadê a Jane?

—Ela ainda não chegou. —Bryan deu de ombros, voltando a olhar pra Nicholas. —O Yuri foi buscar a Yasmin. Só a Ella está aí. Acho que o Steven já saiu pela hora.

—Tudo bem, valeu. —Ele indicou que eu o seguisse. Acenei para Bryan que abriu um sorriso preguiçoso antes de fechar a porta do quarto de novo. Nicholas parou na porta do quarto que havia o nome dele e o de Ella, batendo de leve.

—Pode entrar! —Alguém gritou e ele abriu a porta. A mesma garota ruiva da foto de perfil dele estava parada no meio do quarto, mexendo nas cordas de um violino.

—Trouxe nossa nova moradora. —Ele me indicou e eu abri um sorriso pra ela. —Catalina, Ella. Ella, Catalina.

—Ei, bem-vinda. —Ela abriu um sorriso e se aproximou para me dar um abraço, o que me deixou surpresa. —É um prazer te conhecer. Espero que não se assuste com o pessoal daqui. Alguns são meio maluquinhos.

—Não a assuste logo de cara. —Nicholas rebateu, a fazendo rir. —Os outros ainda não chegaram, mas você pode conhecê-los depois. Provavelmente vai trombar com eles no corredor.

—Tudo bem. Obrigada por me deixar ficar com o quarto. —Sai para o corredor, vendo ele se escorar no batente da porta. Nicholas olhou pra mim por alguns segundos, cruzando os braços na frente do corpo. —Posso fazer uma pergunta? —Balancei a cabeça que sim, vendo ele hesitar. —Você disse que sua madrasta a expulsou de casa. O seu pai...

—Ah... ele... ele faleceu. —Encolhi meus ombros, sentindo uma mistura de constrangimento e tristeza.

—Sinto muito. —Ele abriu um sorriso, enquanto Ella o abraçava de lado e escorava o queixo no ombro dele.

—Se precisar de alguma coisa pode pedir, Lina. —Ella afirmou, sorrindo de forma gentil. —Somos uma grande família aqui.

—Obrigada. —Consegui sorrir de volta, por mais dolorido que tivesse sido.

[...]

Não arrumei absolutamente nada no quarto. Deixei minha mala em um canto e apenas troquei a roupa de cama e me afundei nela para dormir. Ou pelo menos tentar. Fiquei repassando tudo que minha madrasta havia dito, antes de cair em lágrimas quando pensei no meu pai e meu coração se contraiu dentro do peito. Jamais aceitaria a forma como ela agiu logo depois que ele se foi.

Quando amanheceu, eu não havia dormido nada de novo e parecia que um ônibus havia passado por cima de mim. Me enfiei embaixo do chuveiro, sabendo que precisava arrumar o quarto e comprar comida, além de avisar Ava que eu estava bem e que logo poderia voltar a trabalhar. Não sei o que seria de mim sem uma chefe tão querida como ela.

Sai do banheiro já pronta, indo em direção a minha mala. Parei, fazendo uma careta antes de me virar para a cama quando alguma coisa grande correu para debaixo dela.

—Que merda... —Aquela coisa saiu lá de baixo, rosa e gordinha, enquanto corria na minha direção. —AHHHHHHHHH!

Soltei um grito que provavelmente acordou o bairro todo, desviando do bicho e pulando para cima da cama, enquanto o via correr pelo quarto em disparada. A porta se abriu de supetão e a pessoa deu um pulo para o lado quando aquela coisa passou correndo por ele para fora do quarto.

—QUE COISA ERA AQUELA? —Gritei, arregalando meus olhos quando meus olhos encontraram os olhos do rapaz que havia entrado ali, antes de desviarem para o corpo dele.

Ele estava só de toalha!

—Meu Deus! —Soltei, me virando de costas na mesma hora, com os olhos completamente arregalados e a imagem dele fixa na minha cabeça.

Muitos músculos e tatuagens. E mais músculos e mais tatuagens. Pertencendo a alguém maravilhosamente bonito que estava só de toalha no meu quarto, com um canivete na mão!



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora