Capítulo 14: É mesmo, Sherlock?

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Terminei de comer, deixando que ele pegasse o prato e colocasse sobre a escrivaninha, antes de vir se sentar ao meu lado. Encarei meus próprios pés, me sentindo um pouco sem jeito naquele momento, porque sabia que ele estava me observando de perto agora.

—Podemos falar sobre o motivo de você estar indo no cemitério todos os dias? —Indagou, me fazendo comprimir os lábios. —Não quero te pressionar, Cat. Sei que é um assunto delicado. Mas eu realmente acho que precisamos falar sobre.

—Tudo bem. —Soltei um suspiro pesado, erguendo a cabeça pra olhar pra ele. —O que você quer saber?

—Quero que me conte desde o início essa sua história de ficar indo até lá todos os dias. Quando me falou que seus pais já haviam falecido, pensei que faziam anos disso, não alguns dias. —Ele ergueu a mão, passando sobre os cabelos raspados que já estavam visivelmente crescendo. —Onde está a sua mãe? Você só falou do seu pai.

—Minha mãe realmente faleceu a alguns anos. Ela era de uma cidade pequena do Colorado. Quando faleceu, foi levada pra lá e enterrada junto com meus avós maternos. —Expliquei, vendo Steven escutar tudo com muita atenção. Uma atenção e preocupação que eu não estava acostumada a receber nos últimos dias. —Meu pai foi no início da semana passada. Ele... morreu quando estava indo dormir. Tenho ido lá desde então, porque... acho que a ficha ainda não caiu. Sinto falta dele o tempo todo e não sei como superar isso a não ser indo até lá.

—Ah, Cat... —Ele fechou os olhos, balançando a cabeça negativamente. —Você está aqui desde o início da semana passada, aguentando essa barra toda sozinha? Isso explica o quão fechada você é.

—Sinto muito. —Murmurei, encolhendo os ombros.

—Não fala isso. Eu é que sinto muito. Só de ver você hoje já deu pra ver o quanto está sendo difícil. —Ele me observou por alguns segundos, parecendo pensar. —E o restante da sua família? Irmãos, tios e essas coisas?

—Não tenho irmãos. E os outros... a maioria deles mora no Colorado e, da parte do meu pai, na Espanha. Não conheço a maioria. Tem a minha madrasta, mas... eu já disse, ela é terrível. Simplesmente terrível. —Falei, porque não iria suportar olhar pra ela nunca mais depois de tudo que passei nos últimos dias.

—Você morava com o seu pai antes? —Balancei a cabeça que sim, mordendo o lábio inferior enquanto olhava pra ele. —E veio morar aqui porque não queria mais ficar com a sua madrasta?

—Ah, não, na verdade... —Soltei uma risada nervosa. Nicholas sabia o porque de eu estar ali, mas pelo visto não contou aos outros. —Ela me expulsou de casa no dia seguinte ao enterro dele.

—Como? —Ele soltou, parecendo não acreditar no que eu estava dizendo. Dei de ombros, fazendo uma careta. —Você está falando sério?

—Sim. Ela não parecia tão triste assim pela morte dele. —Afirmei, lembrando de como ela agiu logo após o enterro. —E pelo que parece, meu pai deixou absolutamente tudo pra ela e nada pra mim. Não consigo acreditar nisso, mas foi o que Leah, minha madrasta, e o que advogado do meu pai disseram.

Ele balançou a cabeça negativamente, soltando uma risada.

—Essa é a história mais bizarra que já ouvi. Cat, só pelo que você me disse e por não acreditar nisso, acho que deveria entrar na justiça contra ela. —Afirmou, se ajeitando na cama para se virar pra mim. —O Luc é advogado.

—Eu não tenho dinheiro pra um advogado agora, por mais que eu quisesse muito. O meu salário não é bom o suficiente. Só trabalho meio período por causa da universidade. —Falei, abrindo um sorriso fraco pra ele, porque sabia que Steven só estava tentando ajudar. —Não posso fazer nada por enquanto.

—Eu posso...

—Não, você não pode. —Rebati, vendo ele erguer as sobrancelhas. —Não vai pagar um advogado pra mim. Nem me conhece direito.

—Cara, você estava literalmente sentada no meu colo, chorando toda assustada a uma hora atrás. —Exclamou, me fazendo morder o lábio com força e negar com a cabeça. —Um advogado não é nada.

—Primeiro, foi você que me puxou pro seu colo, cara! —Sibilei, fazendo ele rir quando dei ênfase no "cara". —Segundo, que um advogado é muita coisa, sim!

—Você não reclamou quando estava no meu colo. —Ele tombou a cabeça de lado, exibindo uma expressão inocente. —E só pra deixar claro, você me deixou nervoso, está bem? Estava chorando, toda molhada e tremendo. Eu não sabia o que fazer.

—Podemos simplesmente esquecer isso? —Falei, escondendo o rosto entre as mãos, sentindo vontade de me enfiar em um buraco e sumir.

—Tudo bem, Cat. —Ele ergueu a mão como se estivesse se rendendo. —Se não vai me deixar contratar um advogado, que a propósito, Luc é um dos melhores de Nova Iorque, então vamos nós mesmo descobrir se ela estava falando a verdade.

—O que? —Afastei minhas mãos do rosto, olhando pra ele com as sobrancelhas erguidas.

—Se seu pai deixou tudo pra ela, deve ter tudo documentado em algum lugar. No trabalho dele ou em casa. —Ele deu de ombros, esfregando a nuca e olhando para um ponto fixo no chão, como se estivesse pensando longe. —Só precisar achar esses documentos, ou provas de que ela está mentindo. Podemos olhar na casa primeiro.

—Ficou maluco? —Soltei uma risada nervosa. —Quer fazer o que, invadir a casa da minha madrasta?

Sua casa, até termos certeza de que ela está falando a verdade. —Rebateu, com uma expressão super tranquila. —Invadir a casa é um pouco forte, Cat. Investigar é a palavra certa.

—É mesmo, Sherlock? —Zombei, fazendo ele soltar uma gargalhada. Empurrei o ombro de Steven, mas ele não parou de rir, apenas se curvou pra trás com os cotovelos escorados na cama.

—Eu estou falando sério. —Ele ficou de pé e eu o encarei enquanto negava com a cabeça. —Podemos fazer isso, Cat. Quero mesmo ajudar você. Não acho que o que esteja acontecendo seja justo.

—Eu não sei. Pode não ser uma boa ideia. —Afirmei, vendo ele se abaixar na minha frente, com as mãos segurando meus joelhos.

—Se está preocupada com a possibilidade de eu arranjar problemas, pode acreditar, já estou super acostumado com eles. —Ele sorriu pra mim, tombando a cabeça de lado e franzindo a testa. —Vamos lá, Cat. Ou vai dizer que não está interessada em frustar a sua madrasta má?

Eu estava. E se Steven queria mesmo me ajudar, eu não ia conseguir dizer não a ele.


Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora