Capítulo 2: Ele não deixou nada pra você.

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Não dormi a noite, porque meus olhos ficaram vidrados no teto, enquanto minha mente repassava tudo que havia acontecido nas últimas horas. Meu pai se foi. Não havia ninguém no mundo além de Leah e ela estava pronta para me chutar. Meu rosto estava inchado pelas horas chorando e meu corpo dolorido como se eu tivesse sido revirada dos pés a cabeça.

Me sentei na cama, sentindo minha barriga doer. Não havia comida nada ontem, porque não sentia fome. Não tinha vontade de comer ainda, mas sabia que precisava de algo se não quisesse passar mal. Então me levantei e me arrumei até parecer o mais viva possível e não uma morta viva, com a cara inchada e amaçada de tanto chorar.

Meus olhos escuros estavam fundos e manchas escuras circularam os mesmos, como se eu tivesse lavado um soco em cada olho. Minha pele negra parecia apagada e sem vida e meus cabelos estavam um emaranhado castanho seco e bagunçado.

—Vai ficar tudo bem. —Falei para mim mesma. A saudade ia continuar, mas a dor ia diminuir com o tempo. Eu só precisava focar no que tinha pra fazer. Trabalho e depois faculdade. Mas assim que sai pela porta do quarto, senti vontade de chorar e me esconder. Mas engoli as lágrimas e caminhei até a escada.

Quando estava passando na frente do escritório do meu pai, ouvi vozes vindas lá de dentro. A primeira era inconfundível, minha madrasta já estava cedo querendo passar a mão em tudo que era do meu pai. A segunda era masculina e parecia estar explicando alguma coisa pra ela, mas eu não entendi bem o que. Mordi o lábio e abri a porta.

O homem parou de falar e se virou. Só então o reconheci. Era Robert, o senhor de meia idade que trabalhava como advogado do meu pai. Ele estava com uma pasta aberta no colo e alguns papéis nas mãos. Minha madrasta girou na cadeira atrás da mesa, onde meu pai costumava se sentar para lidar com as coisas da família. Meu pai tinha algumas empresas de construção e já havia juntando bastante dinheiro com a construção de grandes hotéis pelo país.

—Catalina... senhorita Scott. —Robert ficou de pé. —Lamento pelo seu pai. Era um homem incrível.

—Obrigada. —Falei, olhando para minha madrasta. —O que o senhor está fazendo aqui tão cedo?

—Ah, sim... bem... —Ele passou as mas pelos cabelos, parecendo sem graça. —Sua mãe me pediu...

—Madrasta. —Corrigi, vendo ele engolir em seco, enquanto ela soltava uma risadinha atrás da mesa.

—Sua madrasta me pediu para averiguar como ficaria a questão da herança do seu pai. —Robert afirmou, pegando os papéis e dando uma olhada, enquanto eu olhava para Leah sem acreditar. Ela não parecia sequer triste. Não havia nenhum sentimento dentro daquela mulher. —Pelo que me parece, ele deixou tudo para a senhora Scott.

—Como assim? —Indaguei, vendo ele olhar pra mim e hesitar, então se virar para minha madrasta como se pedisse ajuda.

—Obrigada por ter vindo aqui tão cedo, Robert. Pode deixar que eu explico tudo para minha querida filha agora. —Ela ficou de pé, dando a volta na mesa e indicando a porta. —Ligarei para você para marcarmos uma reunião para o final da semana.

—Tudo bem. —Ele juntou as coisas muito rápido, parecendo com pressa de ir embora. —Até mais. Foi um prazer revê-la, Catalina. E meus sentimentos de novo.

Quando enfim saiu pela porta, minha madrasta me analisou dos pés a cabeça, enrugando os lábios em negação. Não estava usando preto. Estava usando um vestido vermelho chamativo e tinha um bocado de maquiagem no rosto.

—O que está acontecendo aqui? —Indaguei, cerrando os punhos. —Você já está de olho no dinheiro do meu pai? Não vai nem fingir que está triste pela morte dele?

—Não sou de chorar pelo leite derramado. —Ela deu de ombros, fazendo eu coração se despedaçar dentro do peito e doer. —E você entendeu o que ele disse. Seu pai deixou tudo pra mim. A casa, o dinheiro, as empresas... tudo.

—Ele não faria isso. —Afirmei, olhando pra ela com raiva. —Isso não é possível.

—Ah, é bem possível sim. —Ela soltou uma risadinha. —Ele não deixou nada pra você, Catalina. Nem um único centavo. As empresas estão no meu nome e a casa também. E o dinheiro? Em uma conta conjunta comigo.

—Você está mentindo! Tenho certeza absoluta que está! —Cerrei meus punhos, me aproximando dela. —Qual a droga do seu problema? Não amava meu pai? Era tudo pela droga do dinheiro? Você não tem coração?

—Não, eu não tenho coração! —Ela agarrou meu braço com força, fazendo eu me engasgar com o ar quando suas unhas machucaram minha pele quando ela me puxou na sua direção. —E você não tem mais casa, porque eu não quero você aqui.

—Não pode me expulsar daqui! —Tentei puxar meu braço, sentindo meu sangue ferver de raiva quando ela riu ao perceber que eu estava chorando. —Ele era meu pai! Ele me amava e jamais me deixaria sem nada! Jamais permitiria que você fizesse algo assim!

—Mas ele não está mais aqui! —Gritou, deixando o rosto rente ao meu. —Ele morreu, Catalina. Morreu e não vai mais voltar. Eu sou a dona de tudo agora e quero você fora dessa casa agora mesmo!

—Não pode fazer isso. —Sussurrei, quando ela me soltou e me empurrou para longe. —Posso entrar na justiça contra você.

—Com que dinheiro? —Ela soltou uma gargalhada. —Aquela merreca que você ganha trabalhando naquela livraria por meio período? Será um milagre se você sequer conseguir sobreviver só com aquilo.

—Não pode fazer isso. —Repeti, sentindo meu coração martelando no peito. —Essa é minha casa.

—Não é mais. —Ela apontou para a porta. —Vá arrumar suas coisas e suma daqui. Pra onde você vai, o que quer que vá fazer, não é problema meu. Você não é minha filha, tem 22 anos e pode se virar sozinha. Vá ficar nas esquinas se necessário.

Meu rosto pegou fogo com a última parte e meu sangue gelou, enquanto eu sentia meu estômago se revirar com a vontade absurda de vomitar. Sai correndo do escritório, entrando no meu quarto e batendo a porta com força. Tinha certeza que meu pai jamais faria algo assim comigo, mas não poderia viver em um lugar assim. Sempre soube que ela não era uma boa pessoa, mas agora ela finalmente mostrou as garras.

O pior de tudo é que ela tem razão. O dinheiro que ganho na livraria não me permitiria contratar um advogado. Não tenho certeza se vai ser o suficiente pra eu morar e comer pra falar a verdade. Soltei um grito de raiva, afundando o rosto entre as mãos enquanto sentia as lágrimas molhando minhas mãos. Puxei uma mala e comecei a enfiar tudo que cabia dentro dela. Não podia levar tudo que tinha porque nem sabia pra onde iria.

Olhei para a porta quando alguém bateu e logo Jimmy apareceu, parecendo completamente sem jeito. Ele olhou para a mala sobre a cama onde eu enfiava minhas coisas, antes de engolir em seco e abaixar a cabeça.

—Ela me pediu vir até aqui apressa-la. Vou te deixar em algum lugar que quiser. Mas tem que ser agora. —Falou, fazendo meus lábios se comprimirem e meu coração despencar no meu peito.


Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora