Capítulo 16: In the end.

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Steven ficou dando voltas pela cidade de carro, enquanto eu observava as ruas todas acesas e iluminadas no meio da noite, cheia de pessoas passeando, indo em jantares ou fazendo compras. Era uma visão mil vezes melhor do que vários túmulos em um jardim sem vida alguma.

Abaixei o vidro, colocando minha mão na janela e escorando meu rosto ali, deixando o vento bater contra mim e jogar meus cabelos para trás, enquanto eu apenas observava as ruas como se elas fossem obras de arte. Senti uma sensação boa e calorosa por estar ali, por saber que Steven se importava comigo.

Olhei pra ele quando o mesmo ligou o rádio, deixando o som de In the and preencher todo o carro, antes de aumentar um pouco o som, se recostando no banco, com todas aquelas tatuagens a mostra nos braços. Ele olhou pra mim e sorriu, antes de voltar a atenção para o trânsito.

—Linkin Park? —Apontei para o rádio, vendo ele balançar a cabeça positivamente.

—Estava esperando Taylor Swift? —Indagou, me fazendo soltar uma risada. —Nada contra as músicas dela, Cat. Mas é minha banda favorita.

—Eu amo a Taylor, mas não existe nada como In the and. Acho que a maioria dos fãs da banda concorda que essa é uma das melhores músicas deles. —Afirmei, aumentando o volume na parte do refrão, enquanto todo o clipe da música vinha na cabeça ao ouvi-la.

—Obrigada por isso, Bryan normalmente está reclamando dos meus gostos musicais. —Steven fechou a janela quando me recostei de volta no banco. —Se bem que ele reclama de qualquer coisa, então...

Eu ri, me ajeitando no banco pra olhar pra ele. Steven estava com os lábios curvados em um sorriso enquanto mantinha os olhos nas ruas e as mãos no volante. Aproveitei esse momento para observar as tatuagens dele, me sentindo curiosa.

—Posso perguntar sobre a sua família? —Indaguei, umedecendo os lábios com a língua, com medo dele se fechar. Mas Steven apenas olhou pra mim e depois pra rua de novo, parecendo super entediado. —Você sabe um pouco sobre mim. Acho que é justo.

—Quer saber sobre a minha mãe e o meu padrasto? —Balancei a cabeça que sim, vendo ele negar com a cabeça. —Minha mãe é... complicada. Ela engravidou de mim quando tinha 16 anos e os pais dela a expulsaram de casa. Ela foi morar com meu pai, que era só dois anos mais velho que ela. Os dois meio que tentaram uma vida juntos. Mas então eu nasci e... sei lá. Acho que eles não aguentaram a barra. Se separaram quando eu tinha 5 anos.

—Ele... ele foi embora? —Indaguei, um pouco hesitante, vendo-o fazer que sim com a cabeça.

—Pois é, ele foi comprar cigarro e nunca mais voltou. —Afirmou, rindo, o que arrancou uma risada minha também.

—E depois?

—Minha mãe e eu fomos morar uma casa super  pequena. Ela trabalhava durante o dia e saia a noite. Voltava de madrugada super chapada. —Ele riu e esfregou a testa, parecendo tenso. —As coisas começaram a desandar nesse ponto. Ela não aguentou a barra e usou as drogas como válvula de escape. Nesse ponto ela já não agia mais como minha mãe. Eu era mais como um inquilino irritante pra ela. Tudo piorou quando ela conheceu o Malcon e ele se enfiou dentro da nossa casa. Ele era agressivo, abusivo e alcoólatra. Eu tinha 7 anos nessa época. —Steven parou no semáforo e aproveitou o sinal fechado pra olhar pra mim. —Vi coisas que uma criança de 7 anos não deveria ver. Tentei falar pra minha mãe que ela merecia coisa melhor. Mas tudo que ganhei em troca foi um surra, por ser uma criança intrometida, como ela mesmo me chamou na época.

—Sinto muito. —Falei, vendo ele engolir em seco e voltar a dirigir quando o sinal abrir.

—Os anos foram passando e a convivência em casa foi se tornando cada vez pior, porque eu estava crescendo e Malcon vivia dizendo que ela deveria me mandar de volta pro meu pai. Que ele não queria sustentar o filho de outro. —Steven desligou o rádio, apertando as mãos no volante. —Sai de casa quando fiz 15 anos. Fiquei na casa de um amigo do colégio, até arrumar um emprego e um lugar pra morar. Minha mãe não veio atrás de mim, mas o Malcon sim. Ele apareceu um dia na saída do colégio e me bateu. Cat, ele me bateu tanto, mas tanto, que até hoje eu ainda sei qual a  sensação dos socos e chutes que ele me deu. —Afirmou, enquanto eu sentia meu coração parar de bater e meu sangue gelar. —Ele gritou que ela tinha largado ele por minha causa. Que eu era culpado de tudo. Eu... eu acreditei nele, sabia? Pensei que ela tinha ficado preocupada comigo e tinha largado ele. Mas quando voltei pra casa, os dois estavam juntos. Eu fiquei com tanta raiva, Cat. Com tanta raiva. Então, como um adolescente revoltado, pichei a casa e depois o carro dele, antes de ir embora.

—Ele foi atrás de você por isso?

—Ele foi. Todos os dias, até meu último ano no colégio, ele me esperava na saída. Tinha certeza que ele iria me matar se me pegasse. Mas ele nunca pegou. —Steven balançou a cabeça. —Nunca deixei ele sequer ter a chance de me ver de novo. Depois disso eu juntei dinheiro e abri aquela loja de eletrônicos que falei. E hoje eu estou aqui. Foi uma infância de merda, Cat. Mas acho que estou muito melhor agora.

—Sinto muito. Nenhuma criança merece passar por essas coisas. —Afirmei, abrindo um sorriso fraco pra ele. —Mas você é uma pessoa incrível, Steven. Mesmo passando por tudo isso, você fez sua vida valer a pena e não desperdiçou ela.

—Talvez você esteja certa, Cat.

—Talvez, não. Eu estou certa. —Afirmei, fazendo ele rir. Steven puxou aquele canivete do bolso e estendeu pra mim.

—Era do meu pai. Tenho a vaga lembrança que ele amava pescar e estava sempre com isso no bolso. —Comentou, enquanto eu girava o canivete fechado na minha mão, observando o sobrenome marcado ali. Riley. —É a única lembrança que tenho dele. Roubei isso das coisas da minha mãe. Apesar de ter ido embora, ele ainda foi melhor que ela. Ele sabia que seria um pai de merda, Cat. Ele sabia e foi embora. Minha mãe preferiu mostrar a pior versão de si. Então, é, eu gosto do meu pai.

—Eu entendo o que quer dizer. —Estendi o canivete pra ele de novo, observando seus olhos me encararem por alguns segundos. —Steven Riley, então?

—É, isso mesmo, Catalina Scott. —Ele sorriu, enquanto eu me escorada no banco e observava a expressão mais leve no rosto dele. —Podemos voltar a questão da sua madrasta agora?

—Hm... —Afundei meus rosto entre as mãos, soltando uma risada nervosa. —Se eu disser não, você vai me ouvir?

—Não. —Eu revirei meus olhos e ele riu. —Vou até lá, com ou sem você.

—Vá em frente então, Sherlock Holmes. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente, enquanto ele sorria. —Mas não vou deixar você ser preso sozinho.



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora