Capítulo 4: Casarão.

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Encarei a xícara de café fumegante na minha mesa, enquanto batucava os pés no chão várias vezes seguidas. O café ao meu redor estava lotado de gente naquele horário da noite. A maioria dos estudantes da universidade iam pra casa depois das aulas, para os cafés do campos ou pra um barzinho encher a cara. Eu não costumava fazer nenhum dos dois, porque ficava na biblioteca com a cara enfiada nos livros.

Ergui os olhos para a porta do café quando ela se abriu, vendo o rapaz que havia acabado de entrar, passando as mãos nos cabelos escuros enquanto olhava ao redor. Estava usando uma camiseta laranja do acampamento meio sangue de Percy Jackson, que parecia um pouco deslocada no meio de todas aquelas pessoas com camisetas com o nome de algum curso.

Ele olhou na minha direção e franziu a testa, antes de abrir um sorriso e começar a caminhar na minha direção. Esfreguei as mãos, ansiosa pra resolver aquela situação. Ele havia me respondido quando eu estava na aula e acabamos marcando de se encontrar aqui.

—Nicholas? —Abri um sorriso simpático, mesmo que estivesse quase chorando por dentro.

—Catalina, certo? —Ele se sentou na minha frente, tirando a mochila que estava pendurada no ombro.

—Isso. Pode me chamar só de Lina. —Falei, vendo ele balançar a cabeça e enfiar a mão na mochila, procurando alguma coisa.

—Tudo bem, Lina. Eu pedi pra minha namorada tirar umas fotos do quarto e do casarão pra mostrar pra você. —Ele tirou o celular da mochila e começou a mexer nele.

—Casarão?

—É só um apelido que a gente deu pro lugar. —Ele riu, virando o celular pra mim e me entregando.

Peguei o mesmo e comecei a passar as fotos, vendo que o lugar era melhor do que eu esperava. Quer dizer, eu estava esperando uma casa caindo aos pedaços ocupada por um bando de universitários. Mas ali era uma casa de verdade, grande e bem cuidada, como se fosse uma casa de família. Parecia um castelo de contos de fada para minha situação atual.

—A casa é ótima, como pode ver. E o quarto está super limpo e organizado. É uma suíte, a propósito. Você teria seu próprio banheiro sem precisar dividir com ninguém. —Afirmou, enquanto eu erguia os olhos do celular pra ele.

—Vou ter meu próprio banheiro? —Falei, quase soltando um gritinho de felicidade. Nicholas riu, balançando a cabeça quando devolvi seu celular.

—Sim. Achamos melhor os quartos com seus próprios banheiros. 7 pessoas dividindo um espaço como esse era problema na certa. —Comentou, e eu tive que concordar.

Não me importo de dividir uma sala, uma cozinha e até mesmo o quarto com alguém. Mas o banheiro era realmente mais complicado. Isso me fez encolher um pouco no lugar, porque eu provavelmente não tinha dinheiro pra pagar um quarto assim.

—Quanto vocês pagam de aluguel por essa casa? —Indaguei, bebendo meu café.

—Nada. Na verdade, a casa é minha. —Eu ergui as sobrancelhas e ele riu. —Foi um presente do Luc. Meu pai, quero dizer. Ele me deu assim que eu entrei na faculdade, pra que eu pudesse morar com meus amigos. —Ele deu de ombros. —O aluguel é só... pra seguir o padrão? Sei lá.

—Entendi. —Esfreguei minhas têmporas, sentindo um pouco de inveja desse cara. Deveria ter saído de casa quando entrei na faculdade também. Mas eu gostava de morar com meu pai, apesar da minha madrasta vir de brinde, e eu realmente não achava que isso fosse acontecer. —Então, quanto você vai me cobrar?

—Quanto você pode pagar? —Indagou, me deixando muda por alguns segundos. —Diz o valor que você pode pagar, então a gente vê como fica. Se não puder pagar nada, tudo bem também.

—Co... como assim? —Gaguejei, vendo que ele parecia muito tranquilo. —Você cobra aluguel dos seus amigos?

—Bem, sim. A diferença é que eles não pagam. —Ele soltou uma risada quando percebeu minha cara de espanto. —A gente combinou o aluguel quando foi morar lá, mas nem todos eles seguem a risca. O Steven é o único que paga todo mês sem exceção. Bryan costuma dizer que é meu irmão e que não deveria pagar aluguel pro próprio irmão, então ele não paga absolutamente nada. O Yuri é.... bem, ele paga quando se lembra de pagar. Mas eu também não cobro porque ele já fez muito por mim. Ella é minha namorada e eu ficaria ofendido se ela sequer tentasse pagar o aluguel. A Yasmin e a Jane... bem, elas pagavam no início, mas estão com uns problemas em casa e no trabalho, então...

Fiquei parada olhando pra ele, tentando entender aquele círculo de amizade esquisito que ele tinha. Não conhecia Nicholas direito, mas ele parecia ser o melhor amigo que alguém poderia querer. Peguei um guardanapo e fiz as contas do que eu ganhava e dos gastos que eu tinha todo mês, com a comida e a faculdade. Fiz uma careta ao ver o valor super baixo que sobrou. Risquei as contas e empurrei o guardanapo pra ele, vendo Nicholas olhar o valor com uma expressão um pouco curiosa.

—Onde você trabalha?

—Numa livraria. Meio período. —Falei, vendo ele amaçar o guardanapo e ficar de pé. Meu coração apertou com medo que ele fosse embora e eu ficasse sem aquele quarto. Estava desesperada demais vendo a tranquilidade dele naquele momento. —Posso ficar com o quarto? Sei que é pouco, mas...

—O quarto é seu, Lina. Eu disse, pague o que puder e se não puder, não precisa pagar também. —Afirmou, jogando a mochila nas costas e olhando para o café ao redor.

—Posso me mudar hoje?

—Agora se quiser. —Deu de ombros, voltando a olhar pra mim. —Quer uma carona ou ajuda com a mudança? Estou de carro e indo pro casarão agora. Posso te ajudar se quiser.

—Seria perfeito. —Fiquei de pé, sentindo uma onda de alívio. Daria um abraço apertado dele se isso não soasse estranho. Mas ele não podia imaginar o que estava fazendo por mim naquele momento.

—Ótimo, então vamos que eu te ajudo com as suas coisas. —Falou, abrindo um sorriso animado e se dirigindo até a porta. Meu sorriso morreu quando eu percebi que não tinha nada para fazer uma mudança e nem mesmo uma casa onde ele pudesse me levar.

—Na verdade, não precisa... não quero te incomodar... —Meu rosto ficou quente e eu corri atrás dele, vendo-o já entrar no carro que estava no estacionamento. Não queria que ele visse como eu estava vivendo desde ontem.

—Não se preocupe. Fico feliz em ajudar. Entra aí. —Ele entrou no carro e eu mordi meu lábio com força, sentindo meu coração martelando no peito.

[...]

Peguei minha mala e minha mochila, vendo Ava me seguir com os olhos enquanto saia da livraria completamente constrangida. Nicholas estava escorado no carro olhando para o celular, mas ergueu os olhos assim que me ouviu saindo da loja.

—Eu... é só isso. —Indiquei minha mala, vendo ele olhar pra mim um pouco confuso. —Minha... —Cocei a garganta, sentindo minha garganta se fechar. —Minha madrasta me expulsou de casa.

—Entendo. —Ele assentiu, pegando minha mala e colocando atrás no carro. Fiquei observando ele até estarmos no carro de novo, indo em direção a minha nova casa. Senti vontade de perguntar algumas coisas a ele, mas também estava envergonhada por ele ter visto que eu estava em uma livraria com uma mão na frente e outra atrás.

—Eu não perguntei, mas você tem algum problema com animais de estimação? —Indagou, me pegando de surpresa, já que eu estava olhando para a rua enquanto percorríamos o trânsito.

—Não. Problema nenhum. —Falei, porque eu amava animais. Sempre quis ter um cachorro, mas minha madrasta nunca deixou meu pai me arrumar um.

Olhei pra frente quando ele entrou na garagem enorme de uma casa de dois andarem branca, com um jardim super bem cuidado. Nicholas estacionou o carro e nós descemos. Esperei ele pegar minha mala, enquanto olhava para a casa enorme na minha frente.

—Bem-vinda ao casarão, Lina. —Ele foi em direção a porta com a minha mala. —Vem, hora de conhecer o pessoal.



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora