Naquela sexta feira, quando eu estava saindo da minha última aula da tarde, olhei pele campus pra ver se enxergava aquele garoto. Havia feito o mesmo quando cheguei e agora de novo, porque estava mesmo querendo vê-lo depois do mesmo ter me vendido aqueles cookies.
Steven estava me esperando no estacionamento como sempre. Não sabia se depois do nosso jantar de ontem ter ido pro ralo, iríamos sair pra jantar hoje, numa segunda tentativa. Eu olhava pra ele as vezes e ainda me surpreendia com o fato de ter tido coragem de pedi-lo em namoro e mais surpresa ainda por ele de fato ser meu namorado.
—Oi, Cat. —Ele me abraçou assim que cheguei até ele, beijando minha testa. —Como foi a aula?
—A mesma coisa de sempre. —Afirmei, passando meus braços ao redor dele e soltando um suspiro ao observar a expressão séria dele. —O que foi? Você nada tão estranho esses últimos dias.
—Temos que conversar. Lembra que eu disse que tinha algo pra te contar ontem? —Indagou, e eu balancei a cabeça que sim. Havia esquecido completamente desse detalhe depois do que aconteceu. —Bem, era pra ter sido ontem, mas como não deu... —Ele soltou um suspiro pesado, me afastando e então me guiando para entrar no carro. —Vamos comprar flores e passar no cemitério para visitar o seu pai. Depois vamos pra algum lugar sossegado para conversamos.
—Tudo bem, você está me deixando preocupada agora. —Afirmei, me sentando no banco e passando o cinto. Steven se inclinou, segurando meu rosto e me observando com carinho. —Por acaso você estava ficando com outras esse tempo todo?
Ele soltou uma risada, fechando os olhos e esfregando a testa.
—Quando eu digo que você é impossível, você nega, né? —Ele murmurou, me encarando com uma expressão divertida. —Nada de ficar com outras garotas, Cat. Você sempre foi a única.
Ele beijou a ponta do meu nariz, antes de se afastar e fechar a porta. Não consegui esconder o sorriso ao ouvir aquilo, porque Steven era bom demais pra ser real as vezes.
[...]
Fizemos o que Steven falou. Ele me levou pra comer algo, depois fomos comprar flores e então passamos no cemitério. Não fiquei tanto tempo lá como das outras vezes, como se a noção de que ele não fosse voltar começasse a entrar na minha cabeça. Uma hora ou outra eu precisava acordar e agora eu finalmente estava fazendo isso.
Fiquei observando as ruas pelo vidro do carro enquanto percorríamos o trânsito de Nova Iorque naquele final de tarde. Steven estava tão silencioso ao meu lado que eu estava começando a ficar tensa. Ele não me levaria para um lugar longe da bagunça do casarão se não fosse super importante.
Não me surpreendi quando vi que estávamos indo pro Central Park. Era onde normalmente íamos nos finais de semana para passar um tempo juntos. Mas dessa vez Cruel não estava com a gente. Steven estacionou uma quadra antes do parque e eu respirei fundo quando ele desceu do carro, me preparando mentalmente para ir.
—Eu estava pensando o que iria fazer se conseguisse a casa do meu pai. —Comentei, segurando a mão de Steven depois que desci do carro e nós dois caminhamos em direção ao parque. —Sobre voltar pra lá ou continuar a morar no casarão.
—E chegou a alguma conclusão? —Indagou, me fazendo morder o lábio com força e dar de ombros.
—Todas as melhores lembranças da minha vida estão lá. Sabe, sobre meus pais e tudo mais. Mas acho que voltar a morar lá, ainda mais sozinha, me daria mais saudade do que sou capaz de suportar. —Afirmei, observando ele balançar a cabeça em concordância. —E eu gosto de morar no casarão e me acostumei com lá, além de ter me apegado a todos vocês.
—Então vai ficar no casarão? —Indagou, me fazendo soltar uma risada com sua expressão ansiosa.
—Bem, sim. Tenho certeza que você vai ficar muito feliz em saber disso. —Ergui as sobrancelhas, vendo-o dar de ombros de forma inocente.
Steven não negou e nem afirmou nada, apenas sorriu pra mim e me guiou até um banco quando chegamos no parque. Sentamos um ao lado do outro, observando o movimento das pessoas que passeavam por ali naquele horário. O sol já estava se pondo no horizonte, os dando uma bela vista.
—O que está havendo? —Apertei a mão dele, com seus dedos entrelaçados nos meus. —Não gosto desse clima estranho. Nem um pouco.
—Eu sei. Eu também não. Eu só tô nervoso. —Ele passou a mão pelos cabelos curtos, soltando uma respiração pesada, enquanto encarava os próprios pés. —Lembra quando a gente foi até sua casa?
—Quando você deu um de Sherlock Holmes? —Encostei minha bochecha no ombro dele, assentindo. —Eu me lembro muito bem.
—Certo. Então você também se lembra de ter visto os papéis do hospital? —Eu ergui os olhos, fazendo uma careta ao não entender aonde ele queria chegar com aquilo.
—Eu me lembro. Por que está perguntando sobre isso?
—Já vamos chegar lá. —Falou, me olhando de relance antes de encarar os próprios pés de novo. —Bom, depois que o Luc provou que sua madrasta tinha falsificado os documentos, as coisas se tornaram um pouco estranhas. Sabe, parecia que ela já estava prevendo tudo aquilo.
—"Prevendo tudo aquilo" o que? —Indaguei, me afastando de Steven pra encarar a expressão séria dele.
—Você disse que seu pai havia acabado de ser enterrado e ela já estava ligando pro advogado. —Steven olhou pra mim, parecendo ponderar as palavras. —E ela já estava com tudo em mãos no dia seguinte. Isso é no mínimo estranho, não é?
—Sim, mas...
—Cat, aqueles remédios pra dor de cabeça não eram dela. Eram do seu pai. —Steven me cortou, me pegando de surpresa.
—Como assim? Meu pai não tomava nenhum remédio. A saúde dele era perfeita! —Afirmei, vendo-o engolir em seco, balançando a cabeça negativamente.
—Luc averiguou a causa da morte, Cat. Seu pai estava tomando altas doses de remédio diariamente. Por isso ele teve um infarto. —Ele falou com calma, enquanto eu sentia meu coração disparar. —Medicamentos em excesso podem causar vários tipos de danos e até mesmo...
—O que diabos você está dizendo? —Questionei, mais alto do que o normal, começando a me sentir zonza com aquela conversa. Steven me encarou por longos segundos, parecendo nem estar respirando.
—A gente acha que sua madrasta... —Ele hesitou, engolindo em seco uma segunda vez. —A gente acha que sua madrasta dava remédios pra ele sem que ele soubesse. Ela já estava, talvez, planejando isso a um tempo.
Continua...
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Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2
RomanceCatalina Scott não é a branca de neve, que come maçãs envenenadas e precisa que um príncipe encantado a salve. Mas quando sua madrasta a expulsa de casa logo após a morte do seu pai, alegando ter herdado tudo do marido, Catalina se vê obrigada a ir...