Capítulo 32: Existe uma coisa chamada luto.

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Mal consigo respirar ao olhar pra minha madrasta. Ela está usando roupas pretas e segura uma rosa vermelha na mão. O rosto está pintado, com maquiagem em excesso, além dos lábios estarem pintados de vermelho também. Não parecia alguém que iria visitar um túmulo.

—Talvez você devesse apresentá-lo pra mim primeiro, já que sou sua única familiar dessa cidade. —Comentou, abrindo um sorrisinho de desdém, enquanto olhava para Steven. Mas ele não estava olhando pra ela. Agia como se ela nem estivesse ali. Porque estava olhando pra mim e parecia muito preocupado.

—Vamos embora. —Falei, me virando pra ele e ignorando completamente minha madrasta. Ele assentiu, segurando minha mão com mais força, mas quando fomos passar por ela, Leah se moveu para ficar na nossa frente.

—Nem pensar, mocinha. Temos que conversar. Fui até aquele seu trabalho e descobri que está desempregada. —Afirmou, enquanto meu sangue começava a ferver ao vê-la me olhar como se eu fosse uma adolescente rebelde. —Arrumou dinheiro onde pra contratar um advogado? —Meus lábios se entreabriam e ela deve ter notado a surpresa no meu rosto, porque riu. —Acha que eu não sei sobre o advogado? Ele já entrou com uma ação questionando a herança do seu pai.

—Eu avisei que ia fazer isso. —Afirmei, com meus lábios tremendo. —De onde eu tirei dinheiro, não é da sua conta.

Ela soltou uma risada de desdém, desviando os olhos para Steven de novo, que ainda olhava pra mim, ou para nossas mãos juntas.

—É da minha conta a partir do momento que você não tinha onde cair morta! —Sibilou, enrugando os lábios em reprovação. —Você saiu de casa com uma mão na frente e outra atrás e do nada um grupo de rapazes aparecem lá em casa pra buscar as suas coisas. —Ela riu de novo, me olhando de cima a baixo. —O que anda fazendo, Catalina? Resolveu seguir o que eu sugeri naquele dia? Está parando nas esquinas?

Meu rosto esquentou e meu estômago se revirou ao vê-la dizer tudo aquilo, com Steven bem ao meu lado.

—Você é nojenta, sabia? —Falei, vendo que a ofensa à pegou de surpresa. —Não sei como meu pai suportou você. Na verdade, deve ter sido apenas o rostinho bonito e o sorriso fácil. Porque você é podre e vazia por dentro.

—Cuidado com o que diz! —Ela me fuzilou com os olhos e eu vi o momento que Steven desviou os olhos de mim pela primeira vez e olhou pra ela. —Você não faz ideia de absolutamente nada, garota.

—Você a expulsou de casa. —Steven afirmou, chamando a atenção dela. —Você a expulsou de casa na manhã seguinte ao enterro do pai dela. É verdade?

—Ah, o bonitinho sabe falar. —Ela soltou uma risada, como se estivesse se divertindo de verdade. A expressão de Steven não se alterou, mas ele ergueu as sobrancelhas.

—É verdade? —Repetiu, fazendo ela comprimir os lábios.

—Ela já tem 22 anos. Pode muito bem se virar sozinha. Não tenho obrigação nenhuma de criar uma mulher adulta que sequer tem o meu sangue. —Deu de ombros, indiferente. —E o pai dela morreu, não posso fazer nada quanto a isso.

Meu coração se apertou, porque estávamos na frente do túmulo do meu pai e apesar de ela estar ali, continuava não se importando com a morte dele.

—Então você a expulsou mesmo de casa na manhã seguinte ao enterro. —Steven prosseguiu, me fazendo olhá-lo sem entender, enquanto Leah apenas cruzava os braços e o encarava seria. —E acha isso super normal depois da Lina ter literalmente perdido o pai dela? O centro da vida dela?

—Ah, por favor, as pessoas não param suas vidas porque alguém morreu! —Leah exclamou, apontando para Steven. —Você vai parar de viver quando seu pai morrer também? Ou sua mãe?

—Meu pai foi embora quando eu era uma criança e minha mãe era uma viciada em drogas. Então, não, minha vida não vai parar se eles morrerem porque eu nem vou ficar sabendo disso, já não tenho contato algum com eles e minha vida é muito melhor agora. —Steven afirmou, soltando uma respiração pesada. —Mas Lina ama o pai dela e por mais que a vida dela não vá parar, existe uma coisa chamada luto. Caso não saiba, é uma fase que as pessoas passam depois de perderem alguém importante da vida delas. Pode durar dias, semanas, meses e até anos. Se você não sabe e não está passando por isso, então o erro não é da Lina por amar o pai dela e sim seu, por ser esse tipo de pessoa amarga e sem sentimentos, que se importou apenas com o dinheiro do seu marido quando ele faleceu.

Minha madrasta estava imóvel, olhando para Steven como se estivesse horrorizada. Não consegui dizer nada, porque ainda estava absorvendo as palavras dele enquanto o encarava como se nunca o tivesse visto, com o meu coração martelando dentro do peito.

—Você não tem que questionar a Lina sobre ela ter ido ou não ao advogado. Você precisa se preocupar em provar o que disse sobre a herança pra ela. —Steven deu de ombros. —Você disse que ele deixou tudo pra você, então prove e toda essa história acaba. E o que quer que tenha pra questionar, pode fazer isso ao seu advogado, que ele falará com o da Lina.

Steven apertou minha mão, empurrando minha madrasta do caminho para que pudéssemos passar, já que ela ainda estava imóvel e em silêncio. Nós dois caminhamos para fora do cemitério também em silêncio, como se a presença dela no lugar fosse o suficiente para nos impedir de falar.

Mas quando entramos no carro, Steven apenas segurou o volante com as duas mãos, enquanto eu encarava meus próprios pés e respirava fundo. Ele girou a cabeça para me encarar, ao mesmo tempo que eu fazia isso também, percebendo a expressão pensativa dele.

—Acha que ela vai fazer um teatro de viúva triste e chorosa com essa história da herança? —Indagou, me fazendo comprimir os lábios.

—Ela fingiu chorar todas as vezes que alguém estava por perto depois da morte do meu pai, até o enterro. —Dei de ombros, vendo-o puxar o celular do bolso. —Eu não iria me surpreender se ela fizesse isso de novo.

Steven clicou em algo no celular, antes de o virar pra mim e mostrar o aplicativo que estava aberto.

—Você... gravou toda conversa? —Indaguei, soltando o ar com força, enquanto meus olhos se arregalavam.

—Ela não foi muito simpática mas palavras, né? —Ele guardou o celular no bolso. —Vou mandar pro Luc. Pra alguma coisa esse encontro desagradável deve servir.

Eu o encarei sem sequer piscar, vendo que Steven parecia tão tranquilo com aquilo. Soltei uma risada descrente, me erguendo no banco o suficiente para agarrar o rosto dele e o beijar com toda força que eu conseguia. Porque nada no mundo seria suficiente para agradecê-lo.



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora