Os dias estavam começando a passar muito rápido pra mim. Tinha certeza que era porque eu estava cada vez mais próxima das garotas e passávamos muito tempo juntos nas aulas de dança e depois em casa. E também, porque estava passando mais tempo ainda com Steven e eu amava cada segundo.
Steven — Desculpa não poder ir buscar você hoje.
Podemos fazer alguma coisa mais tarde.
Como foi na prova?Abri um sorriso, respondendo as mensagens dele enquanto atravessava o gramado da universidade até onde minha bicicleta estava. Coloquei os fones e liguei a música, pedalando de volta até o casarão. Havia saído mais cedo da universidade, já que hoje minha única obrigação era fazer uma prova. E cada dia que passa eu tenho mais certeza ainda de que a universidade está sugando minha alma.
Deixei minha bicicleta na garagem assim que cheguei, sabendo que provavelmente não haveria ninguém em casa naquele horário. Mas assim que abri a porta da frente, Elvis veio correndo para os meus pés, enquanto o barulho de tiroteio ecoava da sala.
—Que foi, Elvis? —Peguei o mini porco, que roncou e esfregou o focinho gelado na minha mão. —Não gosta de barulho de tiros?
Sai do pequeno corredor, entrando na área da sala e encontrando um garoto jogado no sofá com o controle de videogame, enquanto um avatar de policial segurando uma arma atirava em qualquer coisa que se mexia na tv.
—Oi. —Ele murmurou, sem sequer tirar os olhos da tv, clicando furiosamente dos botões do controle. —Você deve ser a Catalina, namorada do Steven.
—Ah, sim e... não. —Soltei uma risada, vendo ele soltar um xingamento baixinho quando alguém o matou. Ele soltou o controle sobre o colo e olhou pra mim, com as bochechas pintadas de sardas e os cabelos ruivos bagunçados em várias posições diferentes, como se ele tivesse esquecido de pentear os cabelos.
—Você não é a Catalina?
—Sou. Mas não sou namorada do Steven. —Afirmei, vendo ele erguer uma das sobrancelhas com uma expressão cética.
—Hm, então tá. —Ele deu início a outro jogo, fazendo o som de tiros voltar e Elvis resmungar no meu colo. —Talvez ele tenha esquecido de te avisar então.
—O que? —Soltei uma risada, caminhando até o sofá e me sentando ao lado dele.
—Que você é namorada dele, sabe? Vocês estão namorando, mas você ainda não sabe. Bom, tá sabendo agora na verdade. —Ele deu de ombros, enquanto mantinha os olhos na tv. —Com a minha irmã também foi assim. Eles estavam namorando já, só que o Nicholas ainda não sabia.
Soltei uma gargalhada, vendo que aquele garoto era uma verdadeira pérola.
—Você é o Victor, irmão da Ella. —Comentei, e mesmo sem ser uma pergunta ele balançou a cabeça que sim. Ella já havia falado pra mim que tinha um irmão mais novo de 14 anos. Só não estava esperando encontrá-lo na sala do casarão jogando videogame no meio da tarde.
—Por que tá em casa nesse horário? —Indagou, enquanto eu ficava vendo ele jogar e passava a mão em Elvis no meu colo.
—Tinha prova, depois tava livre pra vir pra casa. —Dei de ombros, girando a cabeça pra olhar pra ele. —Ta fazendo o que aqui nesse horário?
—Tomei uma advertência do diretor porque hackeei o sistema da colégio. —Ele bocejou, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. —Uma semana sem poder ir pra aula. Então eu peguei um avião e vim pra cá.
—Isso me parece mais férias do que uma advertência. —Falei, vendo ele tombar a cabeça de lado e soltar uma risadinha. —Por que você invadiu o sistema do colégio? Tomou bomba em uma prova?
—Ah, não. Eu tenho um amigo que está passando por problemas em casa. A mãe dele tá doente e ele precisa cuidar dela e não tem tempo pra estudar. Sei que ele tá quase 100% rodado. —Ele soltou o controle e olhou pra mim quando morreu de novo no jogo. —Então eu entrei no sistema e mudei todas as notas dele pra melhor. Só que algum filha da mãe descobriu e me dedurou.
—Ah... —Fiz uma careta. —Sinto muito. Mas se te consola saber, sua intenção foi muito boa. Ele deve e considerar um ótimo amigo.
—Obrigado. —Ele sorriu pra mim, revelando duas covinhas fofas em meio aquelas constelações de sardas. —Se eu te chamar pra sair você vai dizer não?
—Pensei que eu fosse a namorada do Steven. —Ergui as sobrancelhas e ele riu, dando de ombros.
—Não custa tentar, né? —Ele pegou o controle e voltou a jogar.
[...]
Victor era de fato uma pérola, porque eu passei a tarde toda com ele no sofá, jogando videogame e eu nem gosto de jogar videogame. Mas não consegui dizer não para aquelas covinhas e aquelas sardas quando ele entregou outro controle pra mim e me fez jogar com ele.
Agora eu estava com dor de cabeça de tantos tiros e de ficar vidrada na tv, me arrastando escada a cima em direção ao meu quarto. Victor ainda estava jogando, porque o som de tiros me seguiu até a porta do meu quarto. O garoto parecia não se cansar nunca de jogar.
Abri a porta, deixando a mochila escorregar para o chão, antes de parar e fazer uma careta. Dei meia volta, olhando para a plaquinha pendurada na porta, com o meu nome. Certo, eu não estava no quarto errado. Mas quando olhei pra dentro de novo, encontrei o quarto vazio, todo arrumado e minhas coisas haviam milagrosamente sumido.
—Eu vou usar aquele canivete pra te matar, Steven! —Afirmei, mesmo que ele não pudesse ouvir, juntando minha mochila e marchando até o quarto dele.
Quando abri a porta, não me surpreendi em ver todas as minhas coisas lá dentro. Minha grade de fotos na parede, no meio daqueles desenhos dele. Minha luminária do lado da cama. O urso de pelúcia sobre a poltrona perto da janela, onde Cruel estava preguiçosamente deitado de barriga pra cima. Soltei minha mochila no chão, marchando até o armário e o abri, soltando uma risada ao ver todas as minhas roupas ali também, devidamente dobradas e arrumadas, ocupando metade do espaço, enquanto as dele ocupavam o outro lado.
Peguei uma muda de roupa dentro do armário e me tranquei no banheiro, sabendo que ia cometer um assassinato a hora que Steven chegasse em casa. Porque, sim, ele tinha sido tão esperto dessa vez. Eu definitivamente perdi a batalha. Duas vezes, porque ele também não estava errado ao dizer que eu estou apaixonada por ele. Porque eu realmente estou.
Continua...
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Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2
RomanceCatalina Scott não é a branca de neve, que come maçãs envenenadas e precisa que um príncipe encantado a salve. Mas quando sua madrasta a expulsa de casa logo após a morte do seu pai, alegando ter herdado tudo do marido, Catalina se vê obrigada a ir...