O carro estava estacionado no final da rua, a umas cinco casas da do meu pai. Eu podia ver perfeitamente bem a silhueta da casa de dois andares e do jardim. A maioria das cortinas estavam fechadas e as luzes apagadas, mas isso não era garantia de nada, porque o carro de Jimmy estava lá.
—Steven... —Hesitei, observando ele ajeitar a touca na cabeça, parecendo tranquilo, enquanto eu estava super nervosa. —Não é uma boa ideia. Vamos nos meter em confusão.
—Vai dar tudo certo. Relaxa. —Ele olhou pra mim e sorriu, antes de voltar a encarar a casa.
—Você fala como se já tivesse feito isso outras vezes! —Afirmei, olhando pra ele com o coração quase saindo pela boca.
—É porque eu já fiz. —Ele sorriu inocentemente. —Como acha que roubei o canivete e pichei a casa da minha mãe e o carro?
—Você é louco, sabia? Maluco. —Falei, fazendo ele soltar uma risada. —Estou começando a acreditar no que Bryan disse. Você não está chapado agora não, né?
—É claro que não. —Ele riu mais ainda, me deixando envergonhada e me fazendo dar de ombros. —Acredite, tive exemplos ruins demais com drogas pra usar. Fico enjoado só de sentir o cheiro.
Meu nervosismo deu lugar a outra coisa, porque estava começando a ficar com raiva da mãe dele por tê-lo feito passar por tudo isso. Não gosto sequer de imaginar o que ele presenciou morando com ela.
—E só pra você saber, é o Bryan que usa. —Afirmou, me fazendo arregalar os olhos.
—Você não está falando sério. —Rebati, vendo ele soltar uma risada baixa e balançar a cabeça negativamente. —Você está mesmo falando sério? O Bryan?
—Ele parece normal pra você?
—Nenhum de vocês parece normal pra mim! —Exclamei, observando que Steven já não conseguir parar de rir, enquanto eu ainda estava chocada. —Você estava falando sério?
Steven olhou pra mim, mordendo o lábio para conter a risada, antes de dar de ombros. Não sabia se aquilo significava sim ou não, mas a nossa atenção se voltou para a casa do meu pai quando Jimmy saiu com o carro. Me abaixei no banco para que ele não me visse quando passasse pela rua, enquanto Steven observava fingindo estar falando no telefone.
—Tem uma mulher no carro com ele. No banco de trás. —Afirmou, e eu me sentei no banco assim que o carro passou por completo, sentindo meu estômago se revirar com a menção dela. —Podemos ir até lá agora.
Apertei as laterais do banco, sentindo uma sensação muito ruim, ao mesmo tempo que meu coração se apertava. Steven virou o rosto para me observar, trazendo a mão até a minha e a apertando com cuidado.
—Cat, tá tudo bem?
Balancei a cabeça que sim, sentindo o polegar dele fazer círculos no meu pulso, fazendo meu coração disparar dentro do peito.
—Acho que eu não consigo fazer isso, Steven. Não entrei lá desde a morte do meu pai. Não quero... —Minha garganta se fechou e eu abaixei o vidro do carro quando comecei a ficar sem ar. —Não quero apagar as lembranças boas por outras ruins.
—Ah, Cat, eu entendo. De verdade, eu entendo. —Ele segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos e puxando ela até seus lábios para deixar um beijo ali. —Sabe, teve uma época que eu pensei em ir procurar o meu pai. Mas nunca tive coragem o suficiente de fazer isso. —Eu o olhei, sentindo minha respiração ficar acelerada quando ele deixou ninha não escorada nos seus lábios. —Sabia que se fosse, provavelmente a única coisa boa que eu havia conseguido tirar da minha infância poderia morrer. Tenho certeza que ele não é uma pessoa boa, porque foi embora e nos deixou. Mas ainda consigo gostar mais dele por saber que ia ser um pai de merda e preferiu ir embora a isso. Então, prefiro ficar com essa sensação boa dele, do que procurá-lo e estragar tudo.
Apertei a mão dele, sentindo ele deixar outro beijo nos meus dedos antes de afastá-la, mas sem me soltar.
—Não precisa fazer isso se não quiser. —Afirmou, sorrindo de forma gentil pra mim. —Posso mesmo fazer isso sozinho.
—Talvez a ideia do advogado não seja tão ruim. Não quero que você seja preso, Steven. Isso é uma péssima ideia. —Falei, vendo ele balançar a cabeça negativamente.
—Tarde demais, Cat. Já estou aqui e quero mesmo fazer a sua madrasta quebrar a cara por ter te tratado como tratou. —Ele se virou para casa, cerrando os olhos enquanto meu nervosismo voltava com tudo.
—Mas... —Ele soltou minha mão e abriu a porta do carro, pegando o canivete no porta copos e enfiando no bolso. —Espera... Steven, espera! Meu Deus! —Sai do carro, vendo ele soltar uma risada e ajeitar a touca na cabeça de novo. —Vamos ser presos seu maluco!
—O Nicholas já foi preso, sabia? —Indagou, fazendo meu queixo cair.
—Como assim já foi preso? —Ele virou as costas e atravessou a rua, sem se preocupar em me responder. —Steven, espera! Como assim ele foi preso? —Atravessei a rua, andando rápido para alcançá-lo. —Eu sabia que vocês não eram normais. Nenhum de vocês.
Ele soltou uma risada e se virou, agarrando minha mão para que corrêssemos mais rápido até o jardim. Fiquei em silêncio, morrendo de medo que alguém aparecesse e nos pegasse ali. Leah certamente amaria me ver atrás das grades. Ela provavelmente soltaria fogos de artifício.
—Tem alguma porta lateral que possamos usar? —Steven sussurrou, fazendo os pelos do meu corpo se arrepiarem quando inclinou o rosto na minha direção. Estava escuro, mas eu ainda podia ver os olhos dele perdidos em algum ponto do meu rosto.
Puxei ele para os fundos da casa, indo para a porta que dava para a lavanderia. Ele soltou minha mão e puxou aquele mesmo grampo que havia usado para abrir o cadeado do cemitério, enfiando-o na fechadura da porta.
—Por que diabos você anda com isso no bolso? —Indaguei, observando os lábios dele se curvarem em um sorriso irônico.
—Porque alguma donzela em perigo pode ficar presa em um cemitério. —A porta destravou e ele virou o rosto pra mim, tombando a cabeça de lado. —E eu sou muito bom com grampos e fechaduras.
—Tá bom, Sherlock. Anda logo antes que alguém apareça e pegue a gente. —Resmunguei, empurrando ele para dentro enquanto o mesmo ria.
Fechei a porta, puxando meu celular e acendendo a lanterna. Steven foi até a outra porta e a abriu com cuidado, observando se havia alguém na cozinhas mas estava tudo escuro, o que significava que minha madrasta havia saído pra jantar fora. Ele saiu para a cozinha e eu fui atrás, olhando ao redor, com meu coração martelando no peito com as lembranças daquele lugar.
—Onde ficava o escritório do seu pai? —Indagou, enquanto eu ainda olhava ao redor. —Cat? —Levei um susto quando ele tocou no meu ombro, me encarando com aqueles belos olhos. —Tudo bem?
—Sim. —Falei, puxando o ar com força, antes de segurar a mão dele e o puxar para fora da cozinha. Atravessamos a sala, enquanto eu evitava olhar para qualquer coisa além do chão e então subimos as escadas.
Levei Steven direto para o escritório do meu pai, sentindo meu coração chegar a boca quando abri a porta e entrei no cômodo escuro. Ele acendeu a lanterna do próprio celular, enquanto eu observava cada canto daquele lugar que tinha um pedaço do meu pai. Eu tinha muitas lembranças dele ali e ver aquele lugar vazio fazia meu peito doer.
—Tudo bem. —Ele balançou a cabeça e sorriu pra mim. —Hora de dar uma de detetive, Cat.
Continua...
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Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2
RomanceCatalina Scott não é a branca de neve, que come maçãs envenenadas e precisa que um príncipe encantado a salve. Mas quando sua madrasta a expulsa de casa logo após a morte do seu pai, alegando ter herdado tudo do marido, Catalina se vê obrigada a ir...